Não aprendemos nada

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Pouco mais de três anos após o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), que causou a morte de 19 pessoas e é considerada a maior tragédia ambiental do País, um novo rompimento de barragens de rejeitos, desta vez próximo a Brumadinho, também em Minas Gerais, pode se transformar na maior tragédia ambiental em número de mortos. Três barragens de rejeitos se romperam ontem e segundo o Corpo de Bombeiros daquele Estado e a mineradora Vale, responsável pela barragem, informaram que há entre 200 e 300 pessoas desaparecidas. O rompimento ocorreu na região do córrego do Feijão, próximo ao km 50 da rodovia MG-040. Uma quarta barragem, que não tem rejeitos, mas água, está sendo monitorada pelas autoridades. Calcula-se que 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram liberados. Ao romper a barragem, por motivos ainda desconhecidos, a lama tóxica levou parte do centro administrativo da mineradora naquele local, o refeitório dos funcionários e a comunidade de Vila Ferteco, antes de prosseguir no seu curso de destruição.

Especialistas em questões ambientais e pessoas que trabalharam na investigação do rompimento da barragem do Fundão não se surpreenderam com o incidente. Isto porque, mesmo após aquela tragédia ambiental, quando um mar de lama atravessou dois Estados, causou seríssimos problemas ambientais no rio Doce e chegou até o oceano Atlântico. O procurador Carlos Eduardo Ferreira Pinto, chefe da força-tarefa que investigou o rompimento de 2015 disse que de lá para cá nada foi feito para impedir que tragédias como essa se repitam. Ele lembra que três comissões extraordinárias foram criadas após o acidente do Fundão, uma na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, outra na Câmara dos Deputados e outra no Senado, para propor uma legislação mais rígida no controle de barragens. Nenhuma das três comissões apresentou qualquer resultado e as barragens existentes continuam funcionando sem um sistema de segurança que impeça a lama de se espalhar pelo meio ambiente e colocando vidas em risco. Muitas das vítimas da tragédia de Mariana ainda não receberam indenizações. Ninguém da Samarco, da Vale e da BHP foi responsabilizado pela tragédia e os danos contra o meio ambiente não foram reparados. Ribeirinhos ainda sofrem com a devastação do rio Doce.

Minas Gerais tem mais de 400 barragens de rejeitos, praticamente a metade de todas as existentes no país, o que coloca o Estado em situação de grande vulnerabilidade. O acidente de ontem afetou a captação de água no rio Paraopeba, em Brumadinho, segundo a companhia estadual de abastecimento. A população será abastecida por água proveniente de outras represas da região. A onda de rejeitos das barragens de Brumadinho deverá chegar, dentro de dois dias, à hidrelétrica de Retiro Baixo, que funciona no rio Paraopebas, distante 220 km do local do acidente. Ao atingir a hidrelétrica, a onda de rejeitos deverá ser contida, mas causará outro problema -- poderá comprometer as operações da usina, informa a estatal Furnas.

Surpreende a lentidão da Vale em liberar informações. O presidente da empresa, Fabio Schvarstman, disse estar consternado com a tragédia, mas várias horas após o acidente a empresa ainda não conhecia as causas nem a dimensão exata da tragédia. O que se sabe até agora, por informações de moradores de Brumadinho, é que a mineradora não acionou nenhum tipo de alarme ou sirene avisando a população do rompimento da barragem.

Após a tragédia, ocorreu a coreografia de sempre entre as autoridades. O governo federal criou um gabinete de crise e enviou três ministros para a região e o próprio presidente informou que sobrevoará a região. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais informou que as barragens que romperam no início da tarde estavam devidamente licenciadas e que as causas e as responsabilidades serão apuradas pelo governo de Minas. Precisa explicar também como Minas conseguirá fiscalizar as 400 barragens existentes no Estado com uma fiscalização pífia, composta por apenas dez fiscais para tomar conta de todas essas estruturas. Nessas condições, não será surpresa se novas tragédias voltem a acontecer.