Por 20 centímetros
Em setembro de 2018, há quase dois anos, a Prefeitura de Sorocaba, sua empresa pública, a Urbes - Trânsito e Transportes e a então recém-criada empresa BRT Sorocaba iniciaram a implantação de um complexo e atualizado sistema de transporte coletivo na cidade, o BRT (Bus Rapid Transit). Utilizado em várias capitais e cidades de grande porte, o BRT, com seus ônibus superdimensionados, faixas exclusivas de tráfego e estações de embarque com acesso restrito, tem se mostrado bastante útil para atender a população, incentivando inclusive muitos usuários a trocar o transporte individual pelo coletivo, tal a praticidade do novo sistema.
Uma obra desse porte custa dinheiro. O BRT de Sorocaba deve consumir R$ 384 milhões em obras de infraestrutura, projetos, desapropriações e material rodante. Parte desses recursos, R$ 127 milhões, é dinheiro do governo federal, que ajuda no financiamento da obra. A Prefeitura de Sorocaba entrará com R$ 6 milhões e o restante virá da iniciativa privada, por meio da empresa constituída para implantar e administrar o sistema. Pelas dimensões da obra, que tem como proposta alterar todo o transporte público, as interferências na cidade são igualmente grandes, com obras espalhadas por praticamente todas as regiões de Sorocaba.
As obras para a implantação do BRT começaram apropriadamente pelo corredor Itavuvu, um dos eixos da zona norte, a região mais populosa da cidade e que mantém crescimento acelerado. As intervenções iniciais nessa avenida causaram esperado desconforto na população, visto que incluíam remoção de interferências da via como postes, fiação elétrica, redes de água, fiação elétrica, entre outras. Como os ônibus do BRT terão via exclusiva nessa e em outras avenidas, as estações de embarque e desembarque precisaram ser construídas no canteiro central. Da Itavuvu, onde as obras estão perto do final, elas se estenderam às demais regiões da cidade. Causaram transtorno principalmente o reforço do pavimento junto aos futuros pontos de parada, onde todo o asfalto foi retirado e colocada uma grossa camada de concreto e ferro para suportar o peso dos veículos articulados, muito superior ao dos ônibus convencionais.
Neste mês de julho, a quatro meses do primeiro turno das eleições municipais, o sorocabano percebe que há obras relacionadas ao novo sistema de transportes em toda a cidade. Há interesse tanto da Prefeitura como da empresa em entregar pelo menos parte do projeto funcionando. Além da troca de pavimento junto aos pontos, que estão sendo realizadas em várias vias de Sorocaba, há seis frentes de trabalho para a implantação do BRT, como o corredor Itavuvu, em fase final de construção; terminal do Parque Vitória Régia, corredor Ipanema; terminal São Bento; corredor Estrutural Sul, corredor Estrutural Leste; corredor General Osório, área central e corredor Binário, composto pelas ruas Hermelino Matarazzo e Comendador Oeterer.
Há duas semanas, a empresa iniciou obras de remoção total do pavimento do trecho final da rua Professor Toledo, entre as avenidas Dr. Afonso Vergueiro e General Osório, o que despertou a curiosidade dos moradores, uma vez que o corredor do BRT deveria ser a avenida General Osório, até a praça Edmundo Valle. Foi aí que se percebeu que o plano original estava sendo alterado pois os ônibus articulados, que têm 3,50 m de altura, não passam nos viadutos da praça da Bandeira, que têm 3,30 m de vão livre num sentido de trânsito e 3,40 em outro. Com a impossibilidade de se utilizar essas passagens, improvisou-se uma alternativa que certamente dará muita dor de cabeça ao poder público e, principalmente, para quem mora naquela região. A ligação entre a avenida General Osório será feita pela rua Professor Toledo, uma rua estreita e íngreme, não apropriada para trânsito pesado, para poder usar o pontilhão ao lado do shopping para ultrapassar a barreira da via férrea. No sentido oposto, o mesmo pontilhão será utilizado. Para atingir a General Osório no sentido centro-bairro, provavelmente será usada a rua Eurides Fogaça, uma subida forte e estreita, que já fica congestionada em certos horários com o trânsito habitual. Em resumo: Sorocaba está investindo quase R$ 400 milhões em um novo sistema de transportes que, por descuido ou falta de planejamento, terá que usar de gambiarras para entrar em funcionamento. As vias alternativas serão perigosas pelas dimensões e topografia, tirando toda a fluidez e agilidade que um sistema de transporte planejado precisa para ser eficiente.