Privatização do aeroporto
O aeroporto de Sorocaba, um dos mais movimentados do país em número de pousos e decolagens, está entre os 20 aeroportos estaduais que passarão pelo processo de privatização, de acordo com informações da Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo. Desde 1982, o Aeroporto Bertram Luiz Leupolz é administrado pelo Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp). Não se tem notícia se há um cronograma já traçado para o processo de privatização. O que se sabe é que os estudos de viabilidade técnica e econômica serão realizados em conjunto entre a Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp) e o Daesp e que todo o programa deverá ser concluído em 2022. As primeiras informações sobre a privatização dos aeroportos regionais foram dadas pelo próprio governador João Doria (PSDB), alguns dias atrás.
O aeroporto de Sorocaba tem uma série de peculiaridades que precisarão ser levadas em conta no processo de privatização. Tem também uma série de pendências e reivindicações que se arrastam por anos e precisam ser resolvidas. Como já foi comentado neste espaço, o aeroporto local tem movimento intenso de aeronaves por conta dos inúmeros hangares particulares e de grandes corporações e de aviões executivos que são trazidos para manutenção em oficinas especializadas. É, segundo especialistas do setor, o único aeroporto a contar com a presença de oficinas dos três maiores fabricantes de aviões executivos do mundo: a norte-americana Gulfstream, a francesa Dassault e a brasileira Embraer. Em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Aviação (IBA) 20% dos jatos executivos de longa distância do país estavam baseados em Sorocaba. Em 2017, último dado disponível, ocorreram impressionantes 52 mil pousos de decolagens, um número tão alto que ultrapassa o registrado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. As empresas de assistência técnica especializada atraíram no mesmo ano, 432 aeronaves estrangeiras para algum tipo de atendimento.
Mas existem algumas pendências para sua plena operação que são inadiáveis. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) precisa reconhecer a ampliação de 150 metros da pista, obra concluída há vários anos. Sem esse reconhecimento oficial aeronaves maiores não podem pousar e ainda cria problemas com seguradoras. Outro problema que se arrasta é o da torre de controle. É um absurdo que um aeroporto que conta com quase 60 mil pousos e decolagens anuais não tenha esse equipamento essencial de segurança. As obras civis foram concluídas há bastante tempo e o Daesp informa que os equipamentos só estarão funcionando no final deste ano. São pendências ridículas diante da importância econômica do aeroporto. Nesse aspecto o Daesp guarda muita semelhança com o nosso conhecido DER, tanto pela demora na realização de obras como pela falta de interesse. São atrasos inexplicáveis e injustificáveis. Mas a reivindicação mais importante daqueles que trabalham junto ao aeroporto é sua internacionalização. Hoje uma aeronave estrangeira para fazer manutenção aqui precisa descer primeiro em um aeroporto internacional, como Guarulhos, para depois seguir para Sorocaba. Essa operação custa milhares de dólares.
O governador João Doria já manifestou interesse em desativar o Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, e transformar o local em um grande parque administrado pela iniciativa privada. Como se sabe, esse aeroporto não opera com voos comerciais, só particulares, e é grande o número de hangares particulares e de corporações ali existentes. Sua desativação beneficiaria certamente o aeroporto de Sorocaba, com a transferência de parte desses hangares para Sorocaba, que junto com o aeroporto de Jundiaí, é um dos mais próximos da Capital. Se confirmada a desativação de Marte, o movimento no aeroporto de Sorocaba deverá crescer muito.
A Secretaria dos Transportes informou que a instalação da torre de controle, entre outras benfeitorias, será realizada pelo governo estadual, mas certamente com os atrasos de sempre. Como a decisão sobre a privatização parece ser irreversível, é importante que ela ocorra de maneira rápida. O aeroporto e as empresas que funcionam ao seu redor, além de empregar centenas de técnicos, representam um setor importante na economia local. Está na hora dos parlamentares que representam a região, independente de sua filiação partidária, arregacem as mangas e acompanhem esse processo que é de interesse de toda a comunidade.