Reações positivas
Que a pandemia causada pelo novo coronavírus provocou a maior crise sanitária mundial das últimas décadas e, consequentemente, uma crise econômica sem precedentes, estamos todos cansados de saber. Praticamente todo o noticiário, local, nacional e internacional, veiculado pelos mais diversos meios de comunicação, esbarra no tema, tornando o enfrentamento da doença e da quarentena, onde ela ainda existe, um fardo ainda mais pesado.
É impossível negar que a pandemia levou quase todos os países para a crise, o desemprego, à queda de arrecadação e uma série de outras consequências inimagináveis no primeiro mês deste ano, quando o coronavírus ensaiava seu avanço global em uma longínqua província chinesa. O que se viu, nos seis meses seguintes, foi assustador no ponto de vista da saúde pública com quase 14 milhões de pessoas infectadas e quase 600 mil mortos ao redor do mundo. A pandemia, segundo a própria Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda avança em algumas regiões do planeta, sobretudo nos Estados Unidos e América do Sul.
E é nesse cenário desolador que o Brasil, que também sofreu o baque da pandemia e da quarentena que ainda é praticada em muitos Estados, na área econômica e das finanças dá alguns sinais de recuperação que mostram que, possivelmente conseguirá sair dessa crise um pouco mais rápido do que se imaginava inicialmente. Como dizem muitos economistas, haverá uma queda na atividade econômica, mas não será tão grande como se pensava no princípio.
Uma das boas surpresas nesse período de doses diárias de más notícias foi o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, termômetro dos investimentos do Brasil. No último dia 10, por exemplo, ela encerrou o pregão com mais de 100 mil pontos, uma alta de 0,88%. Foi a primeira vez, desde 5 de março, que a Bolsa voltou a fechar acima dessa marca. Os especialistas lembram que ajudou na melhora a alta do mercado de ações de Nova York.
Esse e outros indicadores levaram os economistas a rever cálculos iniciais e essas estimativas estão, aos poucos, mudando o humor do mercado, diante de uma retração menos dolorida. A economia do País deverá encolher pouco mais de 6% este ano segundo projeção de pesquisa da Focus, produzida pelo Banco Central. Se esse número for confirmado, será, sem dúvida, a maior queda na atividade econômica do Brasil no período de um ano. Mas por estranho que pareça, esse número hoje traz perspectivas mais animadoras do que se tinha poucas semanas atrás.
Além das atividades na Bolsa, outra fonte de informações que pode ser considerada positiva é o comércio. Depois da pisada brusca no freio no mês de abril, primeiro mês em que muitos Estados entraram em quarentena, surgiram notícias mais animadoras. Abril foi o fundo do poço, mas as vendas no varejo no mês de maio começaram a atenuar as perdas esperadas para o segundo trimestre. O varejo, segundo pesquisa do IBGE, registrou aumento de 13,9% no mês de maio e se saiu melhor do que previam os analistas. Boa parte dessa melhora nas vendas se deve às medidas tomadas pela preservação dos empregos, como a redução de jornada e salário, mas principalmente pelo auxílio emergencial distribuído pelo governo. Mesmo com toda confusão criada na implantação do projeto, com muita gente encontrando dificuldades para o cadastramento, o programa atingiu 80 milhões de pessoas que, em sua grande maioria, ficou sem fonte de renda. Esse dinheiro, os R$ 600, chegou nas mãos de quem precisava e foi imediatamente utilizado na compra de alimentos e outros produtos de consumo essenciais. O uso desses recursos para consumo também incentivou a produção industrial que tinha ficado muito mal no mês de abril. A produção cresceu 7% em maio em relação ao mês anterior, embora a base seja bastante baixa.
Além desses sinais de recuperação do comércio e indústria, que devem ter números mais consistentes quando as estatísticas do mês de junho forem concluídas, há algumas medidas governamentais de grande potencial que, no médio prazo, podem gerar investimentos e obras, com consequente contratação de mão de obra. Uma dessas medidas é a aprovação do marco regulatório do saneamento básico, que abre esse mercado para a iniciativa privada. Quando se sabe que metade da população não tem esgoto tratado e mais de 30 milhões de brasileiros não têm água tratada, percebe-se que há muito para fazer nessa área. Abastecimento de água, tratamento de esgoto e disposição correta de lixo são áreas com grande potencial para atrair investimentos e, de quebra, tem condições de trazer melhoras para o meio ambiente no entorno dos grandes centros urbanos. Que a economia traga mais reações positivas como essas.