Recrudescimento da pandemia

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O crescimento do número de casos e de mortes causadas pelo novo coronavírus, que vários veículos de comunicação -- inclusive o Cruzeiro do Sul -- noticiavam nas últimas semanas, foi confirmado finalmente pelo governo do Estado de São Paulo, que coordena as ações de combate à pandemia nesta unidade da federação. A confirmação da expansão da doença em território paulista veio acompanhada da adoção de medidas restritivas do Plano São Paulo e foi anunciada de maneira oportunista pelo governo do Estado: um dia após o segundo turno das eleições, depois que estava garantida a vitória do candidato oficial do governo à prefeitura paulistana.

Embora o governador João Doria (PSDB) só tenha endurecido as medidas restritivas, ainda que de maneira discutível, na última segunda-feira, o monitoramento da pandemia, realizado por fontes governamentais e pelo pool de veículos de comunicação, mostra que casos e hospitalizações pela Covid-19 vinham crescendo desde o início do mês de novembro em diferentes regiões da Capital e, mais recentemente, no interior do Estado. Sorocaba tem vivido uma fase de alta de casos há algumas semanas, o que torna a situação do município preocupante.

Desde o início do mês de novembro os números da Covid-19, que vinham caindo diariamente, voltaram a crescer em várias regiões do País. Percebeu-se inicialmente o aumento do número de contaminados na rede de hospitais privados, atingindo principalmente pacientes das classes A e B. Na sequência, todos os números relacionados à pandemia cresceram. Levantamento divulgado ontem mostra que, em duas semanas, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para a Covid-19 nos hospitais privados do Estado passou perigosamente de 55% para 84%. As internações em geral de pacientes de Covid também aumentaram. Estudo do Sindicato dos Hospitais, clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindiHosp) mostra que entre os dias 16 e 19 de novembro, 44,5% de 76 instituições ouvidas relataram aumento nas internações por causa da Covid e entre os dias 23 de outubro e 16 de novembro, foram 79%. A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) também revelou uma taxa de ocupação de 83,2% dos leitos destinados a pacientes com Covid-19 em 11 hospitais da Capital entre 20 e 27 de novembro. Apesar do aumento das internações relacionadas à Covid, a maioria dos hospitais particulares está mantendo as cirurgias e os procedimentos eletivos, pois ainda têm capacidade de aumentar o número de leitos para Covid, se necessário.

Em Sorocaba, a ocupação dos leitos de Covid também cresceu no mês de novembro. No último dia 27, o Cruzeiro noticiou que a Santa Casa de Misericórdia, principal referência para a Covid-19 na rede pública da cidade não tinha leitos vagos de UTI. O mesmo acontecia com o Novo Hospital Regional Dr. Adib Jatene, que atende pacientes de 48 municípios da região atendida pelo Departamento Regional de Saúde (DRS-16). São 40 leitos na Santa Casa e 10 no Adib Jatene. Na sexta-feira, das 11 vagas existentes na UTI do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, somente uma estava vazia. Nesse período, a Santa Casa enfrentava outro problema de lotação de vagas não reservadas à Covid, resultado do represamento de procedimentos médicos -- exames e cirurgias eletivas -- nos meses anteriores.

Observa-se que em várias regiões do interior do Estado, inclusive Sorocaba, o nível de transmissão saiu do controle, com taxa de transmissão (Rt) superior a 1. Em Campinas o Rt é de 1,74 e em Sorocaba e Taubaté estaria entre 1,77 e 1,80, com o agravante de Sorocaba estar com os hospitais lotados. A cidade tem decreto específico para se adequar ao Plano São Paulo assinado ontem pela prefeita Jaqueline Coutinho. Especialistas que examinaram as medidas propostas pelo governo estadual no Plano São Paulo afirmam que elas podem não ter a eficiência desejada. Nenhum tipo de comércio ou serviço precisará fechar as portas, apenas reduzir o horário de funcionamento e o número de ocupantes dos estabelecimentos. Essa constatação levou os prefeitos do consórcio intermunicipal do ABC, que reúne sete cidades no entorno da Capital, a adotar medidas mais restritivas. Teatros e cinemas serão fechados em quase todos esses municípios, entre outras medidas.

Diante do recrudescimento da pandemia, chega-se à conclusão que faltou uma presença mais forte do poder público no sentido de evitar aglomerações e abusos. Desde que a maioria das regiões do Estado atingiu a fase verde, se tornou comum encontrar bares, casas noturnas e outros estabelecimentos completamente lotados, sem qualquer tipo de fiscalização. Se o distanciamento, mesmo que imperfeito antes desse período, fosse observado durante as últimas semanas, muito provavelmente não chegaríamos a essa nova onda de contaminações em um período especialmente delicado, que envolve compras de Natal e reuniões familiares de final do ano.