Sem prestígio e sem interesse

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O governador João Doria, desde o início de seu governo tem afirmado que pretende melhorar o transporte ferroviário de passageiros no Estado.

Em várias oportunidades mencionou o projeto Trem Intercidades (TIC) como alternativa viável de transporte para ligar grandes cidades com a Região Metropolitana de São Paulo.

Em meados de janeiro, respondendo a uma pergunta de um cidadão nas redes sociais, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, trouxe esperança para muitos sorocabanos e moradores da região que gostariam de ver restabelecida a ligação entre nossa região e a Capital por via ferroviária, um tipo de transporte mais barato e seguro.

O assunto despertou ainda mais interesse pelo fato de Sorocaba ter sido, em um passado não muito distante, sede de uma ferrovia importante que lhe emprestou o nome, a Estrada de Ferro Sorocabana e, a partir da década de 1930, do maior complexo de oficinas ferroviárias da América Latina, empregando milhares de pessoas.

Ao internauta que queria informações sobre a prometida linha de passageiros entre Sorocaba e a Capital, o secretário respondeu que estavam sendo feitos estudos com a previsão de levar o trem da linha 8 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até Sorocaba na concessão que seria colocada a investidores privados.

A linha 8 (Diamante) liga a Estação Júlio Prestes, que foi a sede e estação central da antiga Sorocabana, a Itapevi, também parte do tronco da antiga EFS e está inativa para passageiros a partir de Amador Bueno, bairro na divisa com São Roque.

O projeto Trem Intercidades não é recente e não foi planejado pelo atual governo.

A sua primeira apresentação ocorreu em 2012 e foi alterado várias vezes no que se refere ao trecho que atenderia Sorocaba.

Já foram divulgadas várias alternativas para sua viabilização, desde a construção de uma ferrovia nova ligando as duas cidades, até o aproveitamento da linha férrea atual que hoje é utilizada pelos trens de carga da empresa Rumo entre Mairinque e Sorocaba.

Caso essa alternativa fosse escolhida, seria preciso um trabalho de recuperação das linhas, pois o trecho está abandonado entre Itapevi e Mairinque onde até trilhos foram furtados.

Um ano depois, em 2013, a CPTM realizou uma audiência pública em Sorocaba com o objetivo de detalhar o serviço que estava sendo projetado e que teria como destino final a estação Água Branca, em São Paulo.

Por esse projeto, daqueles que dificilmente sairiam de papel devido ao elevadíssimo custo, seria construída uma nova ferrovia margeando o traçado de trechos tanto da rodovia Castelo Branco como da Raposo Tavares, com uma extensão de pouco mais de 87 quilômetros.

Mas, depois de tantos projetos e até de audiência pública, ficamos sabendo por meio de reportagem publicada pelo Cruzeiro do Sul de domingo que Sorocaba não terá trem para São Paulo.

O Trem Intercidades ligando as duas cidades ficou fora do projeto de concessão à iniciativa privada das linhas 8 (Diamante), que liga a estação Júlio Prestes a Itapevi e linha 9 (Esmeralda) que liga Osasco a Grajaú.

A retirada dessas duas linhas frustrou a expectativa da região de Sorocaba de voltar a ter uma ligação ferroviária com São Paulo.

Após essa decisão, a CPTM realizou uma audiência pública em São Paulo para informar detalhes do projeto e esclarecer dúvidas.

A única menção feita à Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) nessa audiência foi a possibilidade de, no futuro, ocorrer a expansão da linha 8 até a cidade de Mairinque.

A possível volta de um trem de passageiros para Sorocaba havia criado forte expectativa em Sorocaba e municípios vizinhos, que seriam igualmente beneficiados.

Todos os processos de concessão, construção de novas rodovias, entre outros melhoramentos para atender às diferentes regiões do Estado, recebem pressão política, principalmente dos deputados estaduais eleitos nessas regiões e dos deputados federais, pela sua projeção nacional.

Não há nenhum demérito nisso, faz parte do jogo político.

A região de Sorocaba, que no passado já teve expressão política relevante, passou décadas relegada a segundo plano pela sua frágil representatividade.

Exemplo histórico - e grave -- dessa situação foi o atraso com que as universidades públicas chegaram a esta parte do Estado, coisa de 15 anos atrás, em relação às demais regiões do Estado, trazendo um prejuízo incomensurável à nossa juventude.

O Cruzeiro do Sul realizou há duas décadas uma campanha vitoriosa para obter apoio político e reverter essa situação.

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O caso da linha de trem de passageiros reflete, ao que tudo indica, a absoluta falta de prestígio dos políticos da nossa região.

Ou, então, que os nossos representantes e mesmo o poder público municipal não se deram conta de sua importância.

Temos inclusive um sorocabano no secretariado do governador João Doria, mas tudo leva a crer que não se interessou pelo assunto.

Sem interceder pela criação da extensão das linhas da CPTM até Sorocaba ou de manifestar qualquer interesse pelo tema, nossas autoridades falharam vergonhosamente e mostraram que não estão muito preocupadas com os anseios da população.

E se a situação não for revertida, ficaremos talvez mais de uma década esperando por um sistema de transportes que em breve estará atendendo a outras regiões em que seus representantes têm melhor trânsito e prestígio junto ao governo estadual.