Setembro multicor
Conscientização é o primeiro passo para a prevenção -- e, até, na reparação -- de qualquer situação crítica. O conceito elementar se aplica, sobretudo, às questões relacionadas à saúde pública. Neste caminho em particular, geralmente complexo e suscetível a emaranhados de desvios fatais, as campanhas de esclarecimento revelam-se atalhos convenientes. Informação precisa e tempestiva provou ser -- e a pandemia de coronavírus não deixa dúvidas -- a tênue divisória entre a preservação da vida e a tragédia.
No âmbito da prevenção, uma estratégia eficiente de engajar a sociedade tem sido o movimento colorido de campanhas correlacionadas aos meses do ano. Afinal, tanto as cores como os períodos são fáceis de memorizar. Termos como Setembro Amarelo, Outubro Rosa ou Novembro Azul estão se tornando familiares à maior parte da população. Sua divulgação massiva pela imprensa, mídias sociais e diversos outros meios de comunicação tende a associá-los automaticamente às causas dos suicídios e aos diagnósticos precoces dos cânceres de mama e de próstata, respectivamente.
Embora o calendário colorido dos meses associados a tópicos da saúde ainda não seja oficializado -- nenhum governo se interessou pela tarefa --, instituições e organizações diversas, por iniciativas próprias, estabelecem esse tipo de conexão. Marcando o início da primavera, setembro é especialmente multicor. O mês em curso suscita o maior número de ações neste sentido. São quatro campanhas: Verde, para a conscientização sobre a doação de órgãos e prevenção ao câncer de intestino; o Amarelo, cujo objetivo é a prevenção ao suicídio; o Vermelho chama a atenção para as doenças cardiovasculares; e o Roxo, por fim, esclarece sobre a fibrose cística. Vale lembrar que 27 de setembro é o Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos.
Se nos anos anteriores as campanhas foram importantes para a ampliação do debate sobre prevenção e tratamento das doenças, neste 2020 essas ações atingem relevância crucial, por conta da crise sanitária provocada pela Covid-19 em todo o planeta. As consequências danosas da pandemia do novo coronavírus -- dos distúrbios emocionais resultantes do isolamento social ao colapso das atividades produtivas e desemprego -- potencializam discussões sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a quarentena foi responsável pelo agravamento dos quadros psiquiátricos em todos os Estados do País, despertando um alerta para a necessidade de ações e projetos direcionadas ao cuidado mental. Médicos advertem que o distanciamento entre as pessoas é capaz de acarretar uma epidemia de transtornos de depressão e ansiedade. O fenômeno também foi detectado pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que aponta aumento de casos de depressão em cerca de 100% desde o início da quarentena.
As restrições sociais impostas nos últimos seis meses por exigência do combate ao vírus causador da Covid-19 têm, da mesma forma, influenciado negativamente no controle de enfermidades que exigem acompanhamento médico e exames periódicos. Neste sentido, o Setembro Vermelho orienta para os cuidados especiais que devem ser observados pelos portadores de doenças cardíacas. Quanto ao Setembro Verde, a proposta é reforçar a necessidade de manter em funcionamento os programas de incentivo às doações de órgãos. Vale lembrar que, embora o Brasil seja o quinto país mais populoso, ocupa apenas a 30ª posição no ranking mundial de doadores.
Não obstante o coronavírus ainda seja uma ameaça efetiva e seu controle exija cautela redobrada por todos, os objetivos das campanhas de setembro devem ser preservados. Quanto maior for a divulgação, maior será a chance de a cor escolhida seja fixada na mente das pessoas e associadas imediatamente à sua causa.