Sinais positivos

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Na última quarta-feira (18) o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou o corte da taxa básica de juros, a Selic de 6% para 5,5%. Foi o segundo corte em duas deliberações seguidas. Até então, a taxa Selic tinha permanecido em 6,5% por 16 meses.

Com mais esse corte de juros e perspectiva de nova redução antes do final do ano, o Banco Central (BC) continua agindo para facilitar a recuperação econômica, embora dependa também da colaboração do Legislativo e, principalmente, de ações do Executivo.

A decisão do Copom -- formado por diretores do banco -- foi apoiada na expectativa de inflação próxima da meta pelo menos pelos próximos dois anos, pela ociosidade da economia e pelo avanço, ainda que lento, na agenda de ajustes e reformas.

Com o novo corte, a taxa Selic cai ao patamar mais baixo desde 1999, quando foi implantada a política de juros como instrumento de gestão monetária.

O Copom sinalizou mais uma possível redução no futuro próximo, mas sem se comprometer com qualquer decisão, como é praxe na instituição. A maior parte dos analistas considera que a Selic chegará a 4,5%, patamar em que permanecerá, no mínimo, até o final do ano.

A diferença entre a taxa básica de juros do Banco Central é tão distante do cotidiano da população que paga juros altíssimos para as instituições bancárias que fica difícil ao cidadão comum entender esse mecanismo. Mas é possível constatar que o custo dos empréstimos, por exemplo, embora permaneçam muito acima da taxa básica, têm caído desde que começou a redução da Selic.

Para os empresários, a queda dos juros deve produzir benefícios no barateamento do capital de giro. E para o governo, essa queda na Selic se traduz quase que de imediato em uma redução de custo de uma boa parcela da dívida pública. Há ainda a projeção da inflação do ano que vem em 3,8%, abaixo da meta de 4%.

Em um ambiente de lenta recuperação da grande crise econômica, a redução dos juros é um estímulo para a economia. Embora a situação econômica recomende cautela, há sinais de que os efeitos da crise começam se dissipar.

Houve a surpresa positiva com o crescimento de 0,4% do PIB no segundo trimestre de 2019 e os primeiros dados conhecidos do terceiro trimestre sugerem melhoras, mesmo que pequenas. E as vendas no varejo mostram bom desempenho e a confiança sobe em todos os setores, inclusive na construção civil, um dos segmentos que mais empregam no país.

O ambiente positivo e a retomada de investimentos estão intimamente ligados à agenda de reformas que segue no Legislativo. A reforma da Previdência recebe retoques finais no Senado, enquanto que a tributária ainda é tema de discussões.

Existe uma expectativa de melhora no consumo das famílias durante este segundo semestre, o que resultará no ritmo de abertura de novos estabelecimentos varejistas. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que, até o final deste ano, deverão ser inauguradas aproximadamente 30 lojas por dia, aumentando o ritmo desse segmento e de empregados com carteira assinada.

Nos primeiros seis meses deste ano foram abertos 3.328 estabelecimentos comerciais geradores de empregos no País e a CNC projeta a inauguração de mais de 5,4 mil estabelecimentos comerciais no segundo semestre. Durante a crise econômica, do primeiro trimestre de 2015 ao primeiro semestre de 2017, foram fechadas no Brasil 223 mil lojas.

No primeiro semestre deste ano, ainda segundo a CNC, o maior número de novas lojas foi no segmento de hipermercados e supermercados, tradicionalmente grandes empregadores, com mais 2.716 estabelecimentos. Destacaram-se também as lojas de eletrodomésticos e de utilidades domésticas, além de farmácias e perfumarias.

Medidas de estímulo ao consumo adotadas pelo governo, como liberação de recursos do FGTS, queda na taxa de juros e inflação comportada beneficiam o comércio. Tanto que 45,8% dos varejistas estão dispostos a investir na ampliação ou abertura de novas lojas, o maior porcentual dos últimos quatro anos.

Nesta sexta-feira (20), às vésperas de sua viagem aos Estados Unidos onde discursará na ONU, o presidente Jair Bolsonaro sancionou, com quatro vetos, a lei da Liberdade Econômica que tem como objetivo reduzir a burocracia para empresários e alterar regras trabalhistas. Ao sancionar a lei, o presidente voltou a defender a criação de um programa para incentivar o empreendedorismo.