Violência e covardia

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A população brasileira mantém há vários anos a tendência de envelhecimento. Levantamento realizado pelo IBGE mostra que em 2017, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, superamos a casa de 30 milhões de idosos.

Em cinco anos, segundo a mesma fonte, o país ganhou quase 5 milhões de pessoas nessa faixa etária. Até 2030, ainda segundo o IBGE, o País terá mais idosos do que crianças entre 0 e 14 anos. Esse porcentual continuará subindo até que, em 2055, o número de pessoas com mais de 60 anos vai superar o número de brasileiros com até 29 anos.

Em Sorocaba não é diferente. O Conselho Municipal do Idoso calcula que a população acima dos 60 anos seja de 88 mil pessoas, uma parte expressiva da população.

No último dia 1º foi comemorado o Dia Internacional do Idoso, data que deu início à semana comemorativa com uma série de eventos como atividades de lazer e recreação.

Mesmo nessa área percebe-se que a cidade não está totalmente preparada para tratar dessa parcela da população que tende a crescer e que é bastante frágil. São poucos os equipamentos destinados especificamente aos idosos, como a Chácara do Idoso e o Clube do Idoso, duas iniciativas do poder público que cumprem seu papel de levar lazer a essa população.

Diante do número de idosos, é necessário que cada região da cidade tenha equipamentos destinados especificamente a esse público.

Mas há um lado sombrio da questão do idoso e parte dele foi revelado na reportagem de Ana Cláudia Martins, publicada na edição desta quarta-feira (2) do Cruzeiro do Sul (Sobe o número de violência contra idosos, 2/10, pág. 4).

Por meio da reportagem ficamos sabendo que os casos de violência contra idosos crescem descontroladamente. Somente neste ano, 522 denúncias de agressão foram registradas no Centro de Referência do Idoso (CRI). O CRI é o órgão que recebe parte das denúncias de violência contra a pessoa idosa em Sorocaba.

No ano passado, o aumento no número das denúncias em relação a 2017 já foi brutal: 263,9%. Em 2018 o órgão recebeu 484 denúncias de violência, ante 133 em 2017. O número dos primeiros nove meses deste ano já ultrapassa as ocorrências do ano passado.

A maioria dos casos de violência contra idosos foi registrada pelo Disque 100, um telefone para registrar emergências, e os principais casos são de negligência, violência psicológica, abuso financeiro, violência física, discriminação, entre outras.

O mais triste é que em boa parte das denúncias, segundo representante do Conselho Municipal do Idoso, familiares, cuidadores e pessoas que têm maior contato com os idosos são os agressores, ou seja, quase sempre alguém que convive, é muito próximo do idoso e tem sua confiança é o autor da violência.

Quando denúncias chegam ao Conselho do Idoso são encaminhadas ao Ministério Público e em casos de agressão física, à Polícia Civil. São muito comuns ainda os casos de abuso financeiro, em que parentes ou pessoas responsáveis por cuidar da pessoa idosa se apropriam de seus bens, sua aposentadoria, propriedades, mas o mais comum é a apropriação do cartão bancário do idoso, por meio do qual ele recebe pensão ou aposentadoria.

Sorocaba tem instituições respeitáveis e de reconhecida competência, como a Vila dos Velhinhos que há 85 anos atende pessoas idosas e se tornou uma referência em abrigo de longa permanência.

Mas há também abrigos que não cumprem com seu papel e muitas vezes são acusados de maus-tratos, como tem constatado o Conselho Municipal do Idoso que fiscaliza esses estabelecimentos.

Violência contra idosos, antes de tudo é um ato de covardia e falta de reconhecimento pelo que as pessoas nessa faixa etária realizaram na vida. Para evitar esse tipo de crime é preciso dar agilidade ao Conselho do Idoso semelhante ao que tem o Conselho Tutelar ao tratar de casos que envolvem menores de idade.

E é preciso também atenção redobrada das autoridades com abrigos para idosos, cada vez mais numerosos, e as possíveis violências que podem acontecer em seu interior.

Violência contra pessoas na fase da vida em que estão mais fragilizadas e desprotegidas, muitas vezes doentes e quase sempre sem segurança financeira, é abominável. É o tipo de crime que precisa ser combatido de todas as formas.