A cultura da cola e a ética dentro das universidades
Texto coletivo
Frequentemente os valores éticos da sociedade são questionados, quer seja em áreas como política, religião ou ciência, quer seja no trabalho ou na vida cotidiana. O que é correto? O que é ético ou moral? Entre o querer e o poder, Mário Sérgio Cortella, filósofo e professor, defende que existem questões que devem ser exploradas antes de realmente fazer algo por impulso, as quais devem sempre ser precedidas pela pergunta: “Eu devo?”.
Os termos ética e moral geram confusão no sentido de se imaginar que são sinônimos, porém, conceitualmente e filosoficamente, são distintos. A ética refere-se à conduta ou à postura pessoal necessária para convivermos bem em sociedade; já a moral possui um cunho mais prático, ou seja, são os costumes ou ações que são ditas como “certas” ou “erradas” e que são determinadas de acordo com o padrão cultural em vigor. Além disso, a ética também pode ser definida como sendo um estudo ou reflexão sobre moral.
Perante tantas problemáticas sociais que têm se manifestado em nossa sociedade, dando ênfase à atual situação do país, percebe-se a necessidade de tratar desse assunto, a ética. Mesmo os responsáveis por governar nosso país se veem envolvidos em escândalos, o que torna sugestiva a existência de um vazio ético. Nesse contexto, trazendo para um cenário mais próximo, o qual convivemos todos os dias, tanto nas escolas, quanto nas universidades, identifica-se uma atitude muito comum: a cola.
Colar se tornou frequente; e a normalidade com que é tratada essa prática criou a chamada “cultura da cola” entre os estudantes, o que leva a crer que essa atitude representa falta de ética por parte daqueles que a praticam. Esse aspecto é preocupante, visto que, futuramente, isso pode vir a manifestar-se no exercício profissional, caracterizando-se como uma forma de corrupção.
Os sistemas culturais e sociais em que a sociedade está inserida colaboram para um aumento dessa prática, como foi constatado pelas pesquisadoras Aurora Teixeira e Fátima Rocha, da Universidade do Porto, através de uma pesquisa realizada com 21 países, entre eles o Brasil. Analisando a cola entre os universitários e as taxas de corrupção dos países correspondentes, constatou-se que, países com altos índices de cola, geralmente apresentam problemas de corrupção.
Deve-se estabelecer um compromisso ético dentro das escolas e universidades. É claro que para tal feito demanda-se tempo, uma vez que essa “cultura”, já muito banalizada, necessita ser mais discutida nas universidades, como uma questão de conscientização aos valores morais e éticos. É preciso analisar toda a questão social, o ambiente escolar, se existe uma real preocupação perante as escolas em se trabalhar isso, ou qual a relação com a forma de avaliação dentro das universidades.
Uma maneira de reverter esse ato é tentar mudar a forma como as avaliações são aplicadas, o que deve ser trabalhado ao longo do tempo. Em geral, os alunos são vigiados durante a prova, isso porque infelizmente se considera a desonestidade dos estudantes e não sua honestidade. É claro que se de repente o professor resolver não vigiar uma prova, isso pode não trazer resultados muito benéficos. Porém, pode-se tentar trabalhar a honestidade do aluno ao longo do tempo, aplicando-se, por exemplo, questionários de autoavaliação acerca da nota que merecem receber, fazendo-os refletir se essa nota foi obtida honestamente ou não. É necessário que, ao adotar esse método, os alunos estejam cientes que a questão aqui não se trata de tirar uma nota alta ou baixa na prova, e sim, se durante as avaliações eles foram honestos ou não. Por fim, essa pode ser uma alternativa para fazer os alunos refletirem sobre seus próprios valores éticos e morais.
*Texto coletivo de Maria Alice Frias Urbano, Daniele Oiafuso Didoni e Lais Cristina Marquardt, que são graduandas em Engenharia Ambiental pela Unesp-Sorocaba. José Arnaldo Frutuoso Roveda é professor da Unesp-Sorocaba.