Alaskan e Landtrek agitam mercado de picapes médias
Fernando Calmon
O mercado de picapes médias tradicionais, de cabine dupla e quatro portas, é um dos mais disputados tanto no Brasil quanto na Argentina. E ficará ainda mais interessante depois da confirmação de dois novos concorrentes: Peugeot Landtrek e Renault Alaskan.
A Landtrek terá lançamento mundial no México em setembro. Inclusive há planos para uma viagem até Ushuaia no extremo sul do continente com as primeiras unidades, se a pandemia do Covid-19 recuar. A picape será feita no México em instalações da FCA, ou seja, antes mesmo do acordo final da fusão PSA-FCA. Produção começará em seguida, haverá versão de topo como as outras concorrentes, mas câmbio automático não está previsto inicialmente. Chegará ao Brasil no primeiro semestre de 2021. Dentro do acordo de comércio bilateral estará isenta de imposto de importação. Também se beneficiará de custos menores da mão de obra mexicana.
O protótipo da Alaskan existe desde 2015, muito parecido - para não dizer igual - à Frontier. A Nissan já produziu a geração anterior da Frontier nas instalações da Renault, em São José dos Pinhais (PR) de 2002 a 2016. A aliança Renault-Nissan fechou acordo em 2017 com a Daimler para produzir na Argentina um terceiro produto: a picape Mercedes-Benz Classe X. Mas a empresa alemã desistiu do projeto em abril do ano passado em razão do insucesso do modelo lançado antes na Europa, a partir de instalações da Nissan, em Barcelona. A Classe X partilhava quase todas as peças (à exceção do motor) com a picape japonesa e isso atrapalhou.
No Salão do Automóvel São Paulo de 2018 a Renault deixou a Alaskan meio escondida em seu estande. Era o auge da crise envolvendo o executivo mentor da aliança, Carlos Ghosn. Comentou-se a falta de entendimento com a Nissan para evitar conflito de versões. Mas, na semana passada, a filial argentina da Renault confirmou que a Alaskan chegará ao mercado em 2021.
A estratégia de preço não foi informada. Deverá contemplar uma versão de entrada para a Alaskan (câmbio manual), mas também intermediária e de topo, ambas com câmbio automático. Precisará ser feito ajuste fino de preços com a Frontier, porém o desfecho indica que as coisas dentro da aliança estão apaziguadas entre franceses e japoneses. A pandemia, no entanto, pode levar a transformação da aliança de 20 anos em fusão definitiva dos dois grupos, conforme se especula.
Nesse mercado disputadíssimo, a grande incógnita é a nova Amarok. Tanto Ford quanto VW, oficialmente, não confirmam o fim da parceria, mas foi encerrada mesmo, no caso de picapes apenas. A nova Ranger ficará pronta em 2022 e será produzida em General Pacheco. A fábrica da VW fica bem ao lado e o projeto de sua nova picape não foi cancelado. Para isso estenderá a atual Amarok, com atualizações, até 2024.
A dúvida: onde será produzida a nova Amarok? Argentina continua no páreo, de onde virá o SUV médio do projeto “Tarek”, no início de 2021. A picape intermediária “Tarok” (concorrente da Toro) ainda não recebeu aprovação. Se a Amarok fosse produzida pela Ford, o projeto “Tarok” teria espaço livre em General Pacheco. Com o atual cenário de incertezas econômicas, a picape intermediária, se confirmada, poderia vir para São José dos Pinhais (PR), ao lado do T-Cross.
Hyundai revela sua visão pós-pandemia
Em entrevista exclusiva Angel Martinez, vice-presidente de Vendas da Hyundai Motor Brasil, enxerga três comportamentos possíveis após o fim do isolamento social:
“Vejo, primeiramente, uma preferência por produtos que tenham maior valor agregado, uma vez que a economia deverá levar mais tempo para se recuperar com a consequente diminuição de renda. A experiência de compra remota continuará se desenvolvendo fortemente, pois vem quebrando diversos tabus agora e se mostrando perfeitamente viável, agradável e segura. Por fim, maior importância para a proteção da saúde, procurando e valorizando a higienização dos carros como serviço normal.”
Para Martinez as versões de entrada, mais baratas, podem ter procura aumentada e mudar o mix de vendas, mas isso não é certeza.
“Vamos observar. Para evitar o transporte público e o risco de contaminação, alguns consumidores poderão enxergar o carro, nas versões mais acessíveis, como alternativa segura na forma de transporte individual e privado. Isso pode levar a um aumento da procura pelas versões de entrada, para compra ou aluguel. No entanto, produtos que oferecem mais conforto, segurança e eficiência com preço menor serão os mais procurados. Isso guiará as marcas para evidenciar esses atributos ou modificar especificações para oferecer soluções mais competitivas, caso não tenham.”
“No caso da Hyundai, entendemos que, tanto para o compacto HB20 como para o SUV Creta, temos as versões de entrada bastante competitivas e que já se colocam muito bem no mix de vendas. Em um mercado pós-pandemia, essas versões devem se destacar ainda mais, sem a necessidade de modificar o que oferecem hoje”, conclui Martinez.