Agricultores de Sorocaba e Piedade perdem até 50% da produção
Produtores de hortaliças e frutas de Sorocaba e Piedade têm amargado perdas de até 50% dos hortifrútis desde o início da crise do novo coronavírus (Covid-19). Com as restrições de funcionamento de restaurantes e demais comércios que transformam alimentos para conter a disseminação da doença, a procura por esses alimentos caiu drasticamente -- o que provoca a dificuldade de escoamento da produção e, consequentemente, o descarte.
Na cultura do produtor Pedro Paifer, de 54 anos, e de outros associados da Cooperativa Mista do Bairro Caguaçu (Coopguaçu), na zona rural de Sorocaba, parte da alface plantada está virando adubo, pois não há procura suficiente e nem preço viável para a colheita. Algumas quantidades são repassadas a “atravessadores”, a preços irrisórios. A crise também afeta a produção de abobrinha, maracujá, quiabo e couve-flor. “O preço para o produtor caiu cerca de 40%. E com isso nós podemos ter uma dificuldade financeira, porque já trabalhávamos no limite”, comenta o vice-presidente da cooperativa.
Conforme Paifer, no entreposto terminal de São Paulo da Ceagesp, para onde era destinada grande parte do volume de hortaliças e frutas, apenas metade das bancas estão funcionando. A possibilidade de prolongamento dessa situação o preocupa e coloca em xeque o futuro da produção de hortifrútis na região. Atualmente, a Coopguaçu reúne 54 produtores de Sorocaba, Porto Feliz e Iperó, mas esse número vem caindo há cinco anos.
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“Não sabemos se será possível salvar a safra e nem salvar o produtor. Nos últimos anos, cerca de 40% dos produtores rurais de Sorocaba deixaram a lavoura para trabalhar em empresas. Com isso o custo de vida vai aumentando porque os produtos passam a vir cada vez de mais longe para a mesa do consumidor”, observa.
Piedade
Em Piedade, metade da produção de rúcula, agrião hidropônico e funcho do agricultor Hélio Minoru, 48, no bairro dos Garcias, está sendo perdida. Diariamente, a plantação dele fornece 300 caixas de rúcula e 60 de agrião. “Nós não sabemos como vai ficar, pois não há perspectiva de melhora (da crise sanitária). Se ficarmos muito tempo parados, terei de dispensar parte dos meus 20 funcionários, pois é muita gente para o nível da produção atual”. Conforme ele, a indefinição afeta também as próximas colheitas, pois os produtores não sabem o quanto devem semear.
Para minimizar os prejuízos, a produtora Vanessa Moreti criou uma “feira delivery” dos alimentos que produz em seu sítio: alface, salsa, cebolinha, coentro, berinjela, abobrinha, couve, morango, gengibre e limão. “O retorno é pequeno, mas está nos ajudando bastante. Estamos nos adaptando e aprendendo com isso”, conta. As entregas são feitas em Piedade e Votorantim, a partir dos pedidos recebidos pelo whatsapp (11) 99539-3128.
Ela também criou uma página no Facebook (Sítio Vanessa), que inclusive serve como uma rede para intermediar o contato dos consumidores com outros produtores que precisam destinar seus alimentos. “Conheci pessoas que precisam muito do isolamento e que necessitam de alimentos que não produzo. Então, procuramos esses itens com outros produtores. Dessa forma aprendemos o verdadeiro significado de parceria”, finaliza.
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Itapetininga e Tapiraí sem perdas significativas
Em Itapetininga também há apreensão sobre os reflexos da pandemia no setor do agronegócio, mas não houve perdas significativas como em Sorocaba e Piedade. Conforme a Secretaria de Agricultura, Agronegócio, Trabalho e Desenvolvimento da Prefeitura, as feiras livres no município foram reabertas nesta semana, por intermédio de decreto municipal. Para a liberação, o decreto tem recomendações sobre a higienização e segurança de produtores e consumidores e proíbe aglomerações.
De acordo com o diretor da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável e do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR -- Itapetininga), Luiz Carlos de Carvalho Leitão, o mercado local começou a reagir nos primeiros dias de abril. Ele é formado por pequenos produtores locais que, juntos, abastecem 14 municípios no entorno de Itapetininga.
No caso da fruticultura, o caqui foi o mais afetado, considerando também os danos da safra por chuvas de granizo. A atemoia, muito parecida como fruta do conde, cultivada em Itapetininga, Angatuba e São Miguel Arcanjo, não apresentou perdas. O tomate italiano teve a colheita retardada para evitar maiores prejuízos e os frutos estão ficando maduros nos pés. Também houve contenção na semeadura de diversos produtos, geralmente contínua, tendo em vista a instabilidade das vendas e diminuição da demanda. É esperada uma melhora dessa situação a partir da reabertura das feiras.
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O diretor aponta, ainda, que o mercado de hortaliças folhosas, legumes e verduras encontra-se estável. Alguns produtos inclusive registraram altas de preços para o produtor, como a abobrinha, em virtude de leve estiagem e das mudanças de hábitos devido às comemorações da Semana Santa. Além disso, as associações e cooperativas de produtores rurais têm conseguido bons resultados pela vantagem da comercialização direta com grandes redes de supermercados -- os quais tiveram um aumento nas vendas com as restrições dos outros meios de abastecimento à população. “O mercado está se rearrumando”, pontua Leitão.
Tapiraí
Em Tapiraí, de acordo com a Divisão de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente, o município está na entressafra da produção e não está havendo influência da pandemia. O principal alimento cultivado no município é o gengibre e os produtores estão seguindo com a colheita normalmente. (Eric Mantuan, com informações da Prefeitura de Itapetininga e Prefeitura de Tapiraí)