Após despejo de material químico, peixes aparecem mortos em lago no Campolim
Atualizada às 18h16
Centenas de peixes do lago situado no parque Carlos Alberto de Souza, no bairro Campolim, em Sorocaba, apareceram mortos, na manhã desta segunda-feira (14). A mortandade ocorreu três dias após o descarte criminoso de produto químico em uma boca-de-lobo na rodovia Raposo Tavares (SP-270), próximo à região.
O local ainda cheira mal e diversos peixes agonizam na superfície. O responsável por despejar o material e contaminar o lago ainda não foi identificado.
A principal suspeita é de que um caminhão tenha sido utilizado para jogar o produto químico em uma boca-de-lobo na Raposo Tavares, nas proximidades do Campolim. O caso é investigado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Moradores já haviam registrado mortes de peixes no local, na manhã do domingo (13). Eles caminhavam na pista do parque e notaram muitos peixes próximos à superfície da água, para tentar respirar.
"Fiquei chocado com a cena, passei por lá e tinha muitos peixes mortos e vários buscando por oxigênio. O cheiro de peixe morto misturado com material químico está um horror. Isso acontece por conta da poluição, parece que esperam acontecer o pior", reclama um morador do Campolim, que preferiu não ser identificado. Ele caminha na pista de caminhada do parque há cerca de 35 anos.
A Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema) informou que o teor de oxige?nio da a?gua diminuiu em raza?o do descarte criminoso de o?leo no lago do parque, por isso os peixes estão indo à superfície para respirar. Com a remoc?a?o do produto feita pelo Saae na quinta e na sexta-feira (10 e 11), a taxa de oxige?nio se estabilizara? naturalmente em alguns dias e os peixes então terão o ambiente normalizado, afirma a pasta.
"Na?o ha? o que se possa fazer neste momento. Retirar os peixes do lago é tecnicamente inviável agora, ja? que seria necessário contratar uma empresa para esse trabalho. Importante salientar que vamos monitorar o lago nos próximos dias e, se a situação não se estabilizar, faremos uma intervenção para a remoção dos peixes. Os peixes que morreram estão sendo retirados do lago. Tudo isso será registrado e será um agravante no processo de multa ambiental, assim que o responsável pelo ato criminoso seja identificado" informa a secretaria.
O Saae diz ter feito todo o trabalho de sucção do produto químico encontrado no lago, rastreamento e localização da área onde ocorreu o despejo criminoso (galeria de águas pluviais da ViaOeste, na marginal da Raposo) e buscas de câmeras de segurança ao redor que pudessem ter registrado a ação. “Conseguimos duas, mas as imagens não alcançaram o local do despejo. Após a sucção de todo material químico do lago, a autarquia realizou jateamento com água limpa justamente para evitar morte de peixes”, alega.
Segundo o Saae, acredita-se que o material despejado seja uma mistura de diversos produtos. Esse material foi coletado e levado encaminhado para análises nos laboratórios da autarquia.
O Coordenador do Núcleo de Estudos Ambientais (Neas) e do curso de Ciências Biológicas da Uniso, Nobel Penteado de Freitas, explicou que o óleo despejado de forma irregular causa sérios problemas ambientais. "Precisaríamos saber exatamente qual a composição deste material, mas as substâncias oleosas, por sí só, causam uma série de problemas ambientais quando lançadas em altas concentrações nas coleções hídricas, como rios e lagos", informou ele.
O biólogo relatou que o material dificulta as trocas gasosas entre a água e o ar, o que pode levar à diminuição da concentração de O2 na água. "Também podem chegar às branquias dos peixes, e diminuir ou cessar as trocas gasosas, e novamente causar mortandade", acrescentou Nobel.
"Este lago faz parte da Bacia do córrego água vermelha que é um afluente do rio Sorocaba, e portanto, este óleo poderá ser captado pela futura estação de tratamento de água", lembrou o professor.
De acordo com o coordenador do Neas, "é mais provável que apareçam casos de contaminação do que doenças, pois trata-se de um episódio isolado e, com as ações do SAAE e da própria natureza, isso deve retornar ao normal". Ele concluiu explicando que existe o risco deste material ser consumido por peixes que, depois, serão consumidos por humanos. Dessa forma, pode haver contaminação com gravidade variante da composição do óleo despejado.
No domingo (13), a Cetesb encaminhou um técnico da Agência Ambiental de Sorocaba para vistoriar a área do parque. De acordo com Companhia, não foram encontrados indícios ou evidências de um novo descarte. A provável causa foram as chuvas, que caíram na região e arrastaram o material remanescente da rede de drenagem de águas pluviais. (Wilma Antunes)