Candidatos tentam conquistar quem se absteve de votar em Sorocaba

Por Marcel Scinocca

João Francisco dos Santos, presidente do Observatório Social do Brasil, em Sorocaba. Crédito da foto: Divulgação

Para especialistas, a postura do eleitorado em relação às urnas foi um recado para os candidatos. Crédito da foto: Fábio Rogério/ Arquivo JCS (22/10/2018)

Sorocaba tem 485.962 eleitores aptos a votar. Mas, diante desse número e do resultado do primeiro turno, há uma disputa acirrada entre Jaqueline Coutinho (PSL) e Rodrigo Manga (Republicanos) pelo convencimento para que uma grande parcela do eleitor sorocabano, primeiro, vá votar, já que muita gente sequer saiu de casa no primeiro turno. Depois, a batalha é para escolhê-los como candidatos, de fato. Para especialista e entidade ouvidos pelo Jornal Cruzeiro do Sul, os números, na verdade, denotam um recado para todos os políticos.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a abstenção em Sorocaba atingiu 129.485 eleitores, 26,65% do eleitorado. Já os votos “branco” foram a opção para 21.874, ou 6,14% do total. Há, ainda, os votos nulos, que chegaram a 40.258 eleitores, ou 11,29% do eleitorado local.

Jaqueline e Manga

Para a candidata Jaqueline Coutinho, há um caminho. “Só há uma alternativa na busca pela diminuição desse número: a verdade. Nem sempre agradável, só ela demonstra o respeito ao outro, à coletividade. Em meio a tantas promessas e projetos mirabolantes, é mostrando a real situação das finanças públicas, é enfatizando naquilo que será possível fazer que o eleitorado poderá rever sua posição em relação ao primeiro turno das eleições”, acredita a candidata.

“Não temo expor essa verdade em respeito aos sorocabanos que, compreensivamente, almejam as justas conquistas do suor de seus trabalhos. Quem respeita, não mente, não obscurece os fatos, não engana a população nem ilude os eleitores. Acredito que é pelo comprometimento com ideais de justiça social que os sorocabanos vão se mobilizar na escolha do melhor futuro para Sorocaba”, acrescenta.

A candidata ainda explica como recebeu os números. “Com lamento e preocupação, pois, apesar de Sorocaba apresentar alto percentual de abstenção nas eleições, e a Covid-19 ainda assustar muito, o número é de uma expressividade que, também, reforça a descrença na política e nos políticos”, lembra. “Uma fotografia brasileira, consequência, infelizmente, de um legado de desdém, de abuso e desrespeito de muitos políticos para com o Brasil e os brasileiros. E quem adentra a esse universo pensando em fazer pelo todo, acaba relegado à vala comum, julgado por baixo”, termina a atual prefeita de Sorocaba.

Já Rodrigo Manga, após avaliar os números, fala em pacificação. “Convido os indecisos a conhecerem nossa trajetória e nossas propostas. Nós temos tudo para colocar Sorocaba nos eixos, pacificar os ânimos e organizar a casa, para avançar rumo a uma cidade com mais desenvolvimento e oportunidades para todos. Nosso Plano de Governo tem foco nas necessidades essenciais à população, como atendimento digno e de qualidade na saúde, vagas em creche e modernização do sistema educacional, moradia para todos, dentre outras frentes fundamentais à qualidade de vida de todos”, diz o candidato. “Por onde quer que a gente passe, vemos um sentimento de confiança, esperança e apoio para a construção de uma nova história para Sorocaba. Tenho certeza que isso vai se manifestar no dia 29”, acredita.

Ao avaliar o resultado do primeiro turno, ele fala em descontentamento. “Os números mostram um descontentamento dos sorocabanos com a atual administração e com os resultados que foram apresentados nas últimas gestões. Mas, não foi só a descrença que se manifestou. O recado das urnas também é o recado da mudança e do avanço. É por isso que chego ao segundo turno com a tranquilidade de quem apresentou um projeto alternativo para a cidade, com propostas sólidas, reais, com base no que já deu certo em grandes cidades. O eleitor entendeu esse projeto e o recado veio nas urnas. Tenho certeza de que, agora, nossa mensagem vai tocar o coração de mais e mais sorocabanos”, termina.

Opiniões e caminhos

Apesar das medidas de segurança sanitária, muitos eleitores não compareceram aos locais de votação. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (15/11/2020)

Para Bruno Silva, cientista político e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), há motivo para preocupação. “Semelhante à sequência dos últimos pleitos municipais, as abstenções eleitorais (não participação nas eleições) aumentaram no Brasil. Comparando com as eleições de 2016, saímos de cerca de 17% do eleitorado para 23%. Embora não tenha ocorrido a propagada ‘explosão das abstenções’, ainda assim um sinal de preocupação se acende mais uma vez na democracia brasileira”, diz o especialista.

Bruno Silva, cientista político e professor da UNESP

Ele lembra que a questão pandêmica não foi o único fator que levaram a esses números. “É fato que as eleições municipais de 2020 ocorreram sob condições adversas e atípicas. Por um lado, a pandemia da Covid-19 pode ter influenciado uma parte do eleitorado a não sair de casa, ainda mais considerando-se que haviam facilidades para a justificativa do voto e a determinação explícita da Justiça Eleitoral para que as pessoas com sintomas da doença nas últimas semanas não saírem de suas casas. No entanto, há outros fatores que não podem ser desconsiderados. A mudança no calendário eleitoral de outubro para novembro fez com que as eleições municipais ocorressem muito próximas às eleições norte americanas, o que colaborou para desviar a atenção dos eleitores do processo eleitoral municipal”, explana.

“Ademais, as eleições municipais acabaram não ganhando tanto a atenção das pessoas devido às questões nacionais incomodarem muito os eleitores nesse momento delicado da vida política nacional. Contudo, apesar desses fatores contextuais, é inegável que o desinteresse do eleitorado e a sensação de descrédito na capacidade dos políticos em expressar os anseios da população tem colaborado para o aumento das abstenções. No caso de Sorocaba não é diferente. O município em 2016 apresentou taxa de abstenção de 19,4% do eleitorado e, nesta eleição, esse valor aumentou para 26,6% (aumento de 7,2%). Já aqueles que optaram por ‘não escolher ninguém’, que votaram branco ou nulo, esses diminuíram um pouco: saíram de 19,8% em 2016 para 17,3% em 2020, o que pode apontar para maior clareza acerca do direcionamento desses votos por parte dos eleitores (lembrando que são votos inválidos e, portanto, não impactam no resultado dos eleitos)”, avalia. “De maneira geral fica a reflexão para cidadãos e partidos, afinal, uma democracia não se faz sem a ampliação da participação política”, finaliza.

 

 

João Francisco dos Santos, presidente do Observatório Social do Brasil, em Sorocaba. Crédito da foto: Divulgação

João Francisco dos Santos, presidente do Observatório Social do Brasil, em Sorocaba, aponta ainda outros problemas ao visualizar os números; “Cansaço e desapego pelo formato da política-partidária praticada ao longo de décadas. Reforçada pela falta de conscientização da importância de escolher o seu representante”, afirma.

 

Ele aponta caminhos. “Surgimento de novas lideranças que falem linguagem acessível à massa desinteressada em política e transmitam confiança aos eleitores e que a sociedade organizada se reúna para discutir política como princípio, não apenas política-partidária ou ideologia, já que programas de partidos são, em geral, pura ficção”, opina. (Marcel Scinocca)