Cidades são culpadas por danos ambientais, diz ministro
O grande problema da qualidade ambiental no Brasil está na área urbana e a culpa é das cidades. Foi o que disse nesta segunda-feira (15) o ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro, Ricardo Salles, que visitou Sorocaba para participar, no Teatro Municipal Teotônio Vilela, do Seminário Resíduo de Valor 2019, realizado pelo Instituto Movimento Cidades Inteligentes, com o tema lixo sustentável: receita e energia.
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No seu discurso, Salles disse que todos os sistemas ligados ao meio ambiente são relevantes. Entre eles, citou o desmatamento na Amazônia, mudança climática, meio ambiente no campo e nas áreas do agronegócio, mas observou que esses itens vêm sendo tratados e cuidados no Brasil há muitos anos e para os quais há programas, entidades, recursos, estudos, observações. “Aquilo que está realmente abandonado no Brasil é a questão de qualidade urbana, do meio ambiente nas cidades, onde vivem quase 80% da população brasileira, inclusive na região amazônica vivem mais nas cidades do que no campo.”
O ministro considerou “uma vergonha absoluta” a falta de qualidade urbana nas cidades: “Um país que não tem saneamento, que tem um índice de cobertura de coleta e tratamento baixísimo”, comentou, referindo-se às regiões onde não existe tratamento de esgoto. “Eficiência baixíssima: você gasta um dinheirão para coletar o esgoto, passa dentro de uma estação que devolve o esgoto praticamente do jeito que coletou. Isso é vergonhoso.”
Citou várias vezes as palavras “vergonha” e “vergonhoso” para dar exemplos de descaso com o meio ambiente. Na sua análise, não é possível ter em desenvolvimento com esse cenário e disse que é a marca do subsdesenvolvimento ter um sistema de saneamento tão precário quanto o brasileiro: “Faltam recursos, faltam boas políticas, falta uma decisão sobretudo dos órgãos federativos -- municípios, Estados governo federal -- para fazer essa coleta, esse tratamento eficiente do esgoto.”
Salles criticou: “É vergonhoso nós termos um litoral com essas línguas negras de esgoto jogando dejetos no mar todo dia. É vergonhoso nós termos o rio Tietê, que nasce limpo lá em Salesópolis e, quando passa aqui, lá na usina, lá em Salto, uma imundície, cheio de material, não só água contaminada, mas a poluição difusa. Isso é culpa de quem? Das cidades.”
Essa também é uma questão cultural, na visão do ministro: “As pessoas não se importam com o tema no Brasil, infelizmente. Você vê pessoas jogando resto de bituca de cigarro, papel de embalagem de bala, saco de salgadinho: abre a janela do carro e joga pela janela, passa na rua, joga no chão. É um desrespeito contínuo que não vem só do setor administrativo, da parte administrativa urbana, vem das pessoas.”
Segundo ele, é preciso colocar na cabeça das pessoas “que todos têm responsabilidade” no comportamento pessoal e na prática dentro das casas, nas universidades, nas empresas, onde quer que esteja. E acrescentou, como ilustração: “Você não ter coleta seletiva nos municípios é uma vergonha. Nós estamos aqui no Estado mais rico do Brasil e São Paulo, que é a capital econômica do país, não tem coleta seletiva decente. Esse é um problema que vai se acumulando: você não coleta direito, aí destina para o aterro, que quando não cuida e vira lixão.”
Como solução, indicou que os municípios precisam encontrar as políticas públicas, que são feitas no mundo inteiro, e que requerem ações como coleta seletiva, destinação adequada dos resíduos, reciclagem, aproveitamento energético. “Isso tem que virar um negócio sustentável, inclusive financeiramente, para que empresas entrem no mercado para valer. Só os governos não vão resolver.”
O agrônomo e ambientalista Xico Graziano, que sucedeu o ministro nas apresentações, recomendou o “conhecimento científico” e a “tecnologia” como instrumento para as soluções que forem encontradas. E disse: “Lixo tem valor e nós precisamos dar valor ao lixo. Lixo é energia e nós temos as condições de fazer o lixo virar energia.”
‘Vai demorar para ser resolvido’
O Cruzeiro do Sul perguntou ao ministro Ricardo Salles em quanto tempo as coisas podem mudar, tendo em vistas as complexidades: “Isso vai demorar ainda um tempo para ser resolvido. Por uma razão simples: o Brasil é um país grande, com deficiências ainda muito grandes. Agora, nós temos que começar o quanto antes a dar soluções técnicas, que tenham conteúdo, que vão ao encaminhamento do problema. O Estado de São Paulo tem uma situação melhor do que vários estados, até pelo seu nível de renda e de arrecadação de recursos, mas é um problema nacional.”
Questão regional
O ministro também destacou a necessidade de coordenação, regionalização e cooperação entre os governos e os municípios como forma de encontrar soluções para os resíduos sólidos. A regionalização foi admitida como prioridade por parte dos participantes do seminário. Para o secretário de Meio Ambiente, Parques e Jardins de Sorocaba, Jessé Loures, essas questões precisam ser debatidas e encaminhadas na esfera da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Ele lembrou que os resíduos sólidos têm importância econômica porque podem ser explorados em seus potenciais de produção de energia, de biodiesel e de material biossintético.
O deputado estadual Danilo Balas (PSL), presente no seminário, disse que toda a atenção em torno do aproveitamento dos resíduos sólidos é “primordial” para o desenvolvimento dos municípios. Ele entendeu que a palavra do ministro Salles abordou a organização para aplicar as ações de políticas públicas, enquanto que o agrônomo e ambientalista Xico Graziano defendeu a “coragem” de usar a tecnologia para que esse aproveitamento saia do papel e ocorra na prática.
Auditório lotado
Com auditório lotado e mais de 400 pessoas, segundo a organização do seminário, o evento atraiu prefeitos como José Crespo (Sorocaba), Vanderlei Polizeli, (Iperó) e Geraldo Garcia (Salto). Além do diretor-geral do Saae-Sorocaba, Ronald Pereira da Silva, do advogado e consultor ambiental Antonio Pinheiro Pedro e o deputado federal Enrico Misasi (PV) e do deputado estadual Frederico D’ Ávila (PSL) e do subsecretário de Infraestrutura do Estado, Gláucio Atorre. Polizelli também é presidente do Consórcio Ceriso e Garcia, do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e Médio Tietê. E também participou o presidente do Instituto Movimento Cidades Inteligentes, Luigi Longo. (Carlos Araújo)