Consumo de água em Sorocaba é acima da média
O consumo de água per capita (por habitante) em Sorocaba está acima das médias estadual e da região Sudeste. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes a 2019, os mais recentes disponíveis, cada morador da cidade utiliza, em média, 186,67 litros de água por dia. No Brasil, o consumo médio diário é de 153,9 litros. Já no Sudeste, a quantidade é de 177,4 litros. Na comparação com a média nacional, os sorocabanos consomem, diariamente, 32,77 litros a mais, enquanto, em relação ao nível estadual, são 9,27 litros a mais. O consumo também está acima da quantia recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para atender as necessidades básicas de uma pessoa: 110 litros por dia.
A água é captada de cinco fontes: Represa de Itupararanga (manancial Rio Sorocaba), Represa Ipaneminha (manancial Rio Ipaneminha), Represa do Ferraz (manancial Pirajibu-mirim) e de poços profundos (aquíferos Tubarão e Cristalino). O Saae explica que o nível de consumo varia conforme a região, em razão de diversos fatores, como densidade demográfica, características da ocupação (residencial, comercial, industrial, rural, etc), entre outros.
Já a quantidade de água produzida todos os dias é de 200.496 metros cúbicos, para abastecer a cidade. A água em condições de consumo chega para 99,50% da população sorocabana. Ao todo, há 231.585 ligações ativas.
Tratamento
Duas Estações de Tratamento de Água (ETAs), do Cerrado e do Éden, garantem a qualidade da água consumida em Sorocaba. A primeira tem capacidade para produzir 2.300 litros por segundo, enquanto a segunda trata 300 litros, no mesmo período. Atualmente, as unidades operam com o nível máximo. O volume de produção deve aumentar, com a inauguração da nova ETA Vitória Régia, que tratará mais 750 litros por segundo.
Conforme o Saae, durante o processo de tratamento, há perdas operacionais de cerca de 3%. Já no decorrer da distribuição, 36,2% do recurso hídricos são desperdiçados. Desse total, 49% referem-se às perdas reais. No País, o índice médio de perdas na distribuição é de 39,2%. Isto é, Sorocaba está abaixo da média de desperdício. De acordo com a autarquia, vários fatores e situações refletem nas perdas, como vazamentos, falhas na medição de hidrômetros, fraudes nos aparelhos e furtos de água.
Redução de perdas
Para melhorar o abastecimento na cidade e, principalmente, reduzir o volume de perda de água, são necessárias, sobretudo, ações eficazes. A população deve continuar a seguir as recomendações quanto ao uso consciente da água, para contribuir com a melhoria desses dois pontos. Além da economia doméstica, o poder público precisa ter ações para diminuir o desperdício. A avaliação é do especialista em recursos hídricos, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) — campus Sorocaba, e membro do Comitê de Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), André Cordeiro Alves dos Santos. Na análise de Santos, com a criação de estratégias eficazes, o índice de água tratada perdida poderia ser reduzida dos atuais 39,2% para apenas 15%.
Conforme o especialista, o principal problema de abastecimento na cidade está relacionado à captação do maior volume de uma única fonte. O município retira o recurso de cinco reservatórios, mas quatro deles fornecem pouca quantidade. Por isso, grande parte provém de Itupararanga. Esta é uma questão logística e não compete à autarquia e à administração municipal, esclarece Santos, pois não há outros mananciais que possam fornecer água ao município.
A resolução de problemas de captação, tratamento, distribuição e desperdício e consumo, acredita Santos, depende, essencialmente, da criação de políticas públicas e da mudança de protocolos, tanto por parte da autarquia, quanto do Executivo. Uma recomendação do especialista para a diminuição do consumo é a criação de uma lei municipal para obrigar as empresas, especificamente, a adotarem sistemas de reúso da água da chuva. Nesse sentido, igualmente poderiam ser desenvolvidas iniciativas de incentivos fiscais para os empresários.
Saae tem programa para reduzir perdas
O Saae possui um Programa de Controle e Redução de Perdas que permite a autarquia realizar diversas ações: redução das pressões nas redes de distribuição, por meio de instalações de válvulas; setorização dos centros de distribuição, com a implantação de macromedidores; combate a ligações clandestinas e fraudes; troca de hidrômetros, para minimizar a submedição; pesquisas de vazamentos não visíveis (caça-vazamentos); redução do tempo de resposta aos chamados de vazamentos; e substituição de redes antigas. A autarquia recebeu, recentemente, R$ 26 milhões do governo federal para aplicar nessa área.
Município tem 1,3 mil nascentes catalogadas
No decorrer do mapeamento das nascentes de Sorocaba, a Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema) já cadastrou 1.384 olhos d’água no município. O levantamento refere-se ao período entre os anos de 2018 e 2019 e, de acordo com a Sema, uma grande parte das nascentes tem algum grau de degradação, “muitos decorrentes de ação antrópica, ou seja, ação causada pelo próprio homem”. O Cadastro Ambiental das Nascentes começou em julho de 2018 e a etapa inicial foi concluída em 2019. Segundo a Sema, o levantamento ainda não foi feito apenas em duas regiões. Para o término dos trabalhos, a pasta aguarda a contratação de nova empresa especializada.
Para as análises, a cidade foi dividida em cinco áreas. A maior parte das nascentes catalogadas fica na zona urbana. Até o momento, somente as regiões da bacia do Pirajibu-mirim e Brigadeiro Tobias não foram mapeadas. Conforme a pasta, ambas possuem maior concentração de olhos d’água. Por isso, “o levantamento em campo é mais complexo”, informa a secretaria. Para a realização das análises nessas duas áreas e o término o processo de cadastramento, a Sema afirma providenciar a contratação de uma nova empresa. Um processo licitatório para a escolha da responsável pelos serviço está em andamento.
De acordo com a pasta municipal, já foi aberta a etapa para as empresas habilitadas apresentarem propostas. Agora, a secretaria aguarda os próximos passos para a conclusão da seleção. A Sema informa que o cadastro das nascentes faltantes terá início após a assinatura do contrato com a vencedora da licitação.
A primeira fase da catalogação foi efetuada pela empresa Geojá Mapas Digitais e Aerolevantamentos, com recursos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro). O valor do contrato foi de R$ 123 mil. A expectativa da pasta é de custear a maioria parte do novo contrato também com verba do Fehidro, com contrapartida de 10% do município. Porém, a confirmação sobre o modelo de contratação, assim como os valores pagos para a empresa a ser escolhida, só poderão ser obtidos depois da conclusão do processo.
Levantamento
Durante o levantamento, foram analisados parâmetros de cada nascente, como vazão, nível de degradação, proximidade de áreas construídas, ocorrência de lixo e entulho, erosão, interferências humanas, dentre outros. Segundo a Sema, o cadastramento auxilia o poder público a conhecer a situação dos olhos d’água da cidade.
Os dados coletados servem de base para a proteção e o planejamento de ações para a recuperação das nascentes. A depender da análise de cada uma, informa a secretaria, é possível desenvolver medidas para o controle da erosão, limpeza do entorno, realização de plantios, além de outras intervenções de conservação. “Uma questão importante e que traz desafios para a recuperação das nascentes em áreas públicas é que elas se concentram nas áreas urbanas”, afirma a secretaria por meio de nota.
Processo de mapeamento
No processo de mapeamento, o afloramento, formado por nascentes e olhos d’água, recebe uma numeração, de acordo com a sequência das nascentes vistoriadas em campo. Cada série numérica é iniciada com a letra ‘N’, de nascente. A nascente também possui um número de identificação, relacionado ao mapeamento da Sema. A numeração ID é informada em uma ficha, na qual há duas numerações. A primeira é referente à sequência de nascentes vistoriadas em campo, seguida da numeração referente ao ID do cadastramento.
No catálogo, constam, ainda, as datas das vistorias. Os dados de cada nascente igualmente contêm o nome da sub-bacia que a nascente está localizada, seguindo o mapeamento da pasta.
As informações colhidas também levam em conta detalhes como o bairro, fluxo de água, ocorrência de chuva, tipo de nascente e a persistência do fluxo. Além disso, é verificado a presença de lixo, materiais flutuantes, óleo, espuma, esgoto e analisado o estado da vegetação do local onde o olho d’água fica.
As informações sobre as nascentes sobre o levantamento feito até o momento estão disponíveis no site da Sema (http://meioambiente.sorocaba.sp.gov.br/gestaoambiental/cadastro-ambiental-das-nascentes-de-sorocaba/). Os demais dados serão acrescentados após a conclusão dos trabalhos.
Conheça empresas que adotam economia e reúso
A economia e a contribuição para a preservação do meio ambiente são dois fatores que têm motivado, nos últimos tempos, diversas empresas de Sorocaba e região a adotar sistemas de reutilização de água. Na cidade, negócios dos mais variados segmentos, a exemplo de shopping, hospital, concessionária de transporte público e construtora, já possuem esse tipo de recurso. Os sistemas corroboram para a redução dos gastos das empresas. Como eles possibilitam o reúso de água da chuva, por exemplo, o consumo tende a cair e, consequentemente, o valor da conta também. Pela mesma razão, a prática da reutilização auxilia na redução do desperdício.
A Unimed Sorocaba -- Hospital Dr. Miguel Soeiro (HMS) é uma das empresas que desenvolvem diversas ações para economizar água. A principal medida é a utilização de um filtro para a separação da água a ser usada no tratamento de hemodiálise. Implementado em 2011, o recurso recebe a água da rede regular. Em seguida, separa o volume com condições de uso para a diálise da quantidade carregada de sais minerais. Posteriormente, em vez de descartada, a água considerada inutilizável para o procedimento vai para os vasos sanitários da unidade de saúde.
Segundo Alessandra de Fátima Ferreira da Silva, gerente de hotelaria da Unimed Sorocaba, o sistema de filtragem do Centro de Nefrologia e Diálise consome, mensalmente, 945 metros cúbicos de água. Desse total, 350 metros cúbicos vão para as privadas. “Poderíamos pensar que é só uma água que sobrou (e descartá-la), mas ela é limpa, e não podemos desperdiçá-la”, pontua ela.
Desde 2014, o hospital também tem um sistema de captação de água da chuva. A coleta é feita por caixas subterrâneas, instaladas em uma área de mil metros quadrados. A água oriunda desses reservatórios é usada para regar o jardim do hospital, bem como para a higienização do abrigo de resíduos, dos contêineres de armazenamento de lixo e dos carros responsáveis pelo recolhimento dos dejetos do local.
Além disso, a unidade de saúde adotou outras medidas para evitar o desperdício. Há restritores de vazão nos chuveiros de todos os leitos de internação e nas torneiras das áreas comuns. A limpeza do piso do hospital, antes feita manualmente, agora, é realizada por máquinas com reservatório de água. Conforme Alessandra, manualmente, gastava-se 75 litros de água para limpar um corredor de 340 metros quadrados. Já o equipamento lavador de pisos precisa de apenas 24 litros, para higienizar uma área com a mesma dimensão. Ainda em relação à limpeza, a Unimed usa um detergente hospitalar específico, sem enxágue.
Construção civil
A Construtora Planeta também instala, desde 2013, sistemas de captação de água da chuva em todos os empreendimentos entregues pela empresa. Conforme explica o gerente geral de obras, Rodrigo Mikami Taneishi, o recurso faz a coleta no telhado do edifício. Por meio de calhas e tubulações, a água é levada para os reservatórios de absorção inferiores, geralmente, localizados nos subsolos dos condomínios (próximos aos estacionamentos de veículos). Nesses reservatórios, o tratamento é feito por um conjunto de filtros. Após essa etapa, a água pode ser usada nas áreas comuns dos residenciais. “Pode ser utilizada para a rega de plantas, hortas, grama, paisagismo em geral, e para limpeza de pisos e calçadas, mas não tem potabilidade para consumo humano”, esclarece.
Transporte público
A reutilização da água chuva também é feita na garagem do Grupo São João, situada em Sorocaba, há nove anos. A empresa opera o transporte público na cidade e algumas linhas metropolitanas de municípios da região de Sorocaba. O sistema do local capta toda a água proveniente da lavagem dos ônibus. Por meio de encanamentos, ela chega até piscinas coletoras. As caixas têm capacidade para armazenar mais de 70 mil litros.
Na sequência, a água decanta, para ficar sem impurezas. Na etapa seguinte, é tratada. Inicialmente, passa por um filtro e, depois, recebe cloro. Por fim, as espumas são extraídas. Após esse processo, pode ser usada mais de uma vez, tanto para a limpeza dos ônibus, quanto nos vasos sanitários. De acordo com o gestor de higienização do grupo, Emerson Bueno Alves, antes da implementação desse recurso, a empresa gastava 700 mil litros de água por mês. Atualmente, são apenas 200 mil.
Alves diz que cisternas igualmente devem ser implementadas em todo o telhado do prédio de manutenção da empresa.
Comércio
Com a adoção de recursos sustentáveis, boa parte da água consumida no shopping Iguatemi Esplanada provém de reúso ou de fonte própria, desde a fundação do estabelecimento, em 2013. O centro de compras possui um poço e uma Estação de Tratamento de Efluentes Industrial para Reuso. Além disso, a água da chuva é captada dos telhados e armazenada em quatro reservatórios, com capacidade para 2 mil metros cúbicos. Essa água é filtrada e usada nos vasos sanitários.
Além desses sistemas, as privadas instaladas no shopping utilizam só seis litros por fluxo. Elas contam, ainda, com redutor de vazão, diminuindo em 30% o volume gasto em cada descarga. Já as torneiras dos banheiros têm arejadores. O dispositivo diminui o consumo de seis litros por minuto para 1,8 litro/minuto.
Ao todo, o Iguatemi consome 124.968 metros cúbicos de água por ano. Por conta das medidas de economia, utiliza 44% de água de produção própria, sendo 30.190 metros cúbicos (24%) do poço e 24.771 metros cúbicos (20%) de reúso. Do total consumido, cerca de 50% não gera esgoto. (Vinicius Camargo)