Feira livre, tradição que não sai de moda em Sorocaba

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Nilza e a irmã Deunice são fãs da feira livre. Crédito da foto: Wesley Gonsalves (24/8/2020)

Quarentena atraiu novos consumidores atraído pelo “ar livre”. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (20/8/2020)

Pouco mais de 5h do domingo e os primeiros carros e caminhões começavam a estacionar próximo ao cruzamento das ruas José de Alencar e Barão de Cotegipe.

Antes mesmo do nascer do sol os trabalhadores da Feira Livre do Cerrado, na zona oeste da cidade, já tinham suas barracas de pé, com toda a mercadoria exposta.

Frutas, legumes, verduras, utensílios de cozinha, peças de roupa, e os clássicos pastéis aguardavam a chegada dos clientes.

Nesta terça-feira (25) é comemorado o Dia do Feirante e, para marcar a data, a reportagem do Cruzeiro do Sul acompanhou um pouco da rotina desses profissionais que acordam cedo e rodam a cidade toda para levar produtos frescos à mesa da população sorocabana.

Referência à primeira feira livre

A data escolhida para homenagear o grupo faz alusão a assinatura do decreto que instituiu, de maneira oficial, a primeira feira livre da capital paulista, à época, em 25 de agosto de 1914 pelo então prefeito de São Paulo, Washington Luís Pereira de Souza.

De lá para cá, as feiras se popularizaram em todo território paulista.

De acordo com a Prefeitura, atualmente, Sorocaba conta com 42 feiras livres espalhadas de norte a sul da cidade, que funcionam de terça a domingo.

Muitas vezes, os clientes que chegam pela manhã no ponto de compras ao ar livre não imaginam a organização necessária para preparar a feira do dia.

O feirante Jefferson Manuel, de 29 anos, trabalha em uma banca que comercializa bananas e cogumelos.

Ele explica um pouco da rotina iniciada ainda durante a madrugada.

“Meu tio começa a trabalhar às 3h, passa com o caminhão carregado, deixa as mercadorias em casa e depois vai para a feira dele”, contou.

Frequentador das feiras desde cedo, o comerciante que “dormia nas caixas de banana” quando criança ressalta a importância do reconhecimento do Dia do Feirante.

“Essa data é uma satisfação total para nós trabalhadores que estamos sempre com o povo.

A vida da gente é outra coisa aqui, é onde a gente conversa com todo mundo e dá muita risada”, garantiu o comerciante, que fazia questão de cumprimentar todos que passavam em frente a sua banca com um “bom dia seu moço”.

Aumento nas vendas e novos clientes

Anali Guarini Lanzieri, presidente da Associação dos Feirantes. Crédito da foto: Wesley Gonsalves (24/8/2020)

Durante a pandemia da Covid-19, o setor de feiras livres registrou aumento nas vendas. Segundo a presidente da Associação dos Feirantes de Sorocaba (AFS), Anali Guarini Lanzieri, o ambiente aberto teria proporcionado uma sensação de maior segurança atraindo os consumidores.

“Aqui é diferente de um supermercado todo fechado com ar condicionado. Muitas pessoas optaram por vir às feiras como uma alternativa, que chegou a gerar aumento no consumo considerável”, justificou a representante.

O período de quarentena também serviu para diversificar o público que frequenta os ambientes de compra ao ar livre.

Com a intensificação do home office -- teletrabalho -- e mais pessoas trabalhando em casa, alguns deles decidiram se aventurar na cozinha, buscando nas feiras livres seus insumos para a execução das receitas.

“Nós estamos vendo muitos jovens que estão frequentando aqui e antes nem sabiam que havia a feira na rua. Eles compram não só as frutas e legumes, mas até os utensílios de cozinha. Aqui na banca nós perdemos a conta de quantos rolos de massa nós vendemos na pandemia”, afirmou Anali, que também é proprietária de uma banca de produtos domésticos.

Tradição

As barracas de pastel e caldo de cana já viraram uma tradição, quem frequenta os locais de compra dificilmente consegue ir embora sem provar.

Desde a criação da feira no bairro, o Mauro Kuba, 48, trabalha como pasteleiro, profissão que aprendeu ainda adolescente com o pai, também feirante.

“São 30 anos aqui, foi a minha primeira feira, quando eu tinha 18 anos”, recordou.

Conforme Kuba, atualmente, a barraca chega a produzir 600 pasteis dos mais variadores sabores, contudo, essa quantidade já foi maior antes da pandemia do novo coronavírus, quando chegava a vender até 900 unidades.

Questionado sobre o sabor preferido dos consumidores o feirante disparou: “com certeza é o de carne, esse não pode faltar, é o clássico”.

Nilza e a irmã Deunice são fãs da feira livre. Crédito da foto: Wesley Gonsalves (24/8/2020)

Vizinha da feira, a aposentada Nilza Jesus, 71, é uma das frequentadoras assíduas que não abre mão das feiras e da comida tradicional.

“Todo domingo é sagrado, eu acordo cedo e venho comprar minhas verduras e as frutas. E claro, uma vez ou outra um pastelzinho”, contou Nilza, enquanto fazia as compras acompanhada da irmã, Deunice de Jesus.

Endereços

Quem quer encontrar a unidade mais próxima de casa pode acessar uma lista digital criada pela Prefeitura de Sorocaba.

No link do Google Meus Mapas, os consumidores podem acompanhar os endereços de cada uma das 42 feiras livres da cidade. O documento traz ainda uma divisão das feiras de acordo com os dias da semana. (Wesley Gonsalves)