Há 19 anos, Nova York era surpreendida por terroristas
A lembrança do 11 de setembro de 2001 ainda é nítida para muitas pessoas do mundo todo, especialmente para aquelas que estavam em Nova York na ocasião e, também, para os que tiveram a rotina do dia a dia interrompida com as notícias.
Tatiane Patron é jornalista e mora, atualmente, em Orlando, no estado norte-americano da Flórida. Na época em que aviões colidiram contra as duas torres do World Trade Center, ela ainda vivia no Brasil e, apesar de ter vontade de ir aos Estados Unidos, considerava essa possibilidade “difícil”.
Tatiane lembra nitidamente do contato com as notícias que recebeu sobre o atentado terrorista. “Eu estudava de manhã, devia ter entre 13 e 14 anos. Cheguei em casa e, na TV, estavam falando sobre as Torres Gêmeas. Já gostava de acompanhar as notícias na época e ficaram falando o dia inteiro daquilo na televisão. Fiquei bem assustada, porque, na minha imaginação, seria a Terceira Guerra Mundial. Até escrevi em um diário sobre isso”, conta.
Morando nos Estados Unidos desde 2016, a jornalista demorou quase três anos para ir a Nova York e, quando fez a viagem, reservou um dia para conhecer o local que se transformou em um memorial em homenagem às vítimas do atentado. “Nas ruas próximas, já é possível sentir o clima. Nova York é grande, barulhenta, mas, naquele local, onde estavam as Torres Gêmeas, o clima ficou muito diferente, só estando lá para sentir”, diz.
Tatiane explica que o local que hoje abriga o memorial é silencioso e que as pessoas respeitam a memória das vítimas. “Andando por ali, não tem como não imaginar como foi o dia do atentado. Nova York é uma cidade que não para, as pessoas andam sempre correndo e olhando para o chão. Mas, naquele dia, todo mundo teve que olhar para cima, mudou completamente a rotina da cidade e refletiu no país todo”, completa.
A jornalista conta que, atualmente, todos os dias, há um voluntário que vai ao memorial para colocar rosas próximas aos nomes das pessoas que fazem aniversário na data. Ela relata ter visitado o One World Trade Center, edifício construído posteriormente naquela região, e que, no prédio, há um observatório no 132º andar. “É justamente o andar onde o primeiro avião bateu. É possível ver toda a cidade lá de cima e ter a sensação de como seria ver o avião vindo naquela direção”, relembra.
História
Quase três mil pessoas morreram no atentado que, além das torres do World Trade Center, também atingiu a sede do Pentágono, localizado em Washington, capital dos Estados Unidos. A organização Al Qaeda, que tinha Osama Bin Laden como um dos líderes, assumiu a autoria dos ataques e, mesmo tendo sido criada na década de 80, passou a ser mais conhecida no mundo a partir do episódio.
Para José Antônio Andrade Soares, professor de História e Sociologia do Objetivo Sorocaba Norte, há diferentes análises sobre os acontecimentos que vieram como consequência dos atentados de 11 de setembro. “Para alguns, foi um choque cultural, uma resposta ao imperialismo estadunidense, uma guerra ideológica. O fato é que, até hoje, a questão é muito mais complexa. Podemos buscar detalhes, inclusive, na História das intervenções do Ocidente no Oriente”, aponta.
O professor afirma que, a partir daquele dia há 19 anos, os Estados Unidos, formados por imigrantes, se fecharam e houve um aumento da xenofobia, que é o medo ou aversão a estrangeiros. “A questão que impactou foi a segurança. Tudo mudou, dos aeroportos à privacidade das pessoas. Houve, também, um aumento da xenofobia, mas o Oriente Médio tem vida, cultura. Já tive um aluno muçulmano e expliquei aos demais, inclusive, que o fundamentalismo faz barulho, mas é minoria e eles não devem levar o estereótipo para a vida”, conta.
Soares destaca, ainda, que os efeitos dos atentados ainda são vistos nos dias de hoje. “Os Estados Unidos não conseguiram se desvencilhar das ações militares no Oriente Médio, onde houve um crescimento do fundamentalismo religioso”, finaliza.
NY está em crise, porém resiliente
Índice de criminalidade subindo, apartamentos e lojas vazios, moradores de rua por toda a parte: Nova York completa 19 anos dos atentados de 11 de setembro de 2001 hoje (10), mergulhada em uma crise profunda e palco de uma batalha política com a aproximação da eleição presidencial nos Estados Unidos.
Apesar da pandemia, a maior metrópole americana manteve sua homenagem anual aos quase três mil mortos nos ataques mais sangrentos da história, com vários minutos de silêncio no momento em que os aviões sequestrados por extremistas colidiram com as Torres Gêmeas, derrubando-as.
Desta vez, os familiares das vítimas gravaram seus depoimentos, em vez de pronunciá-los ao vivo, embora possam se reunir - de máscara e sem desrespeitar o distanciamento social - no memorial do Marco Zero, onde antes ficavam as torres. O museu será aberto hoje pela primeira vez desde março passado.
Passados 19 anos, o 11 de Setembro continua sendo sinônimo de heroísmo dos nova-iorquinos diante da adversidade. As autoridades garantem que foi por causa dessa resiliência que a cidade conseguiu, há mais de um mês, controlar o novo coronavírus que matou 23 mil pessoas e reduzir a taxa de infecção para menos de 1%.
Todos destacam, no entanto, inclusive o governador Andrew Cuomo, que essa lendária resiliência se vê agora submetida a uma prova de fogo, com os efeitos colaterais da pandemia - econômicos e sociais.
A presidente do bairro de Manhattan, Gale Brewer, reconhece que a ilha enfrenta uma série de problemas. Alguns deles derivam diretamente do coronavírus. Quase todos os bancos, seguradoras e outras empresas mantêm o trabalho a distância para seus funcionários. A medida esvaziou os distritos financeiro e comercial. (Erick Rodrigues, com informações de Catherine Triomphe/AFP)