Mesmo mais caro, bacalhau marca presença na mesa de sorocabanos
Com a desvalorização do real frente ao dólar, a importação de alguns produtos foi encarecida, como é o caso do bacalhau, prato tradicional da Páscoa. Mesmo com a pandemia da Covid-19 e seus reflexos no bolso do consumidor, a procura pelo peixe por sorocabanos se manteve regular.
Tereza Henna, 70 anos, proprietária da Mercearia King, conta que apesar das vendas sofrerem um leve declínio, a expectativa para esta Páscoa são positivas. "Semana Santa é a semana do bacalhau. Pode ter até alguma alternativa, mas nada substitui o prato principal", comenta.
Já a elevação do preço por conta do dólar, dona Tereza diz ser algo relativo. "Depende, está até mais barato que o ano passado. Naturalmente, as vendas caíram um pouquinho porque as pessoas não vão fazer festas. Mas também não é uma queda exagerada. A família que é acostumada comer bacalhoada no feriado, compra bacalhau".
É o caso da técnica em radiologia Mariana Calegari, 32 anos. Ela e o marido estão desempregados, mas deram um jeito de manter a tradição viva mesmo em tempos de dilemas econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus. "Fui criada nessa religião e estou criando meus filhos nela para manter esse hábito de reunir família em momentos especiais", explica.
Mariana explica como é a celebração na família: na Sexta-feira Santa é feito jejum até meio dia, após o horário, é permitido fazer a refeição, sem carne vermelha, e às 15h, eles rezam. Ela conta que sentiu no bolso quando procurou pelo bacalhau. "O bacalhau está caríssimo. Subiu muito em comparação ao ano passado. Comprei quase um quilo, deu diferença de uns R$ 15". A técnica em radiologia também comprou filé de tilápia, porque os filhos gostam mais, e notou que o preço saiu mais em conta em relação ao bacalhau.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em 2021, a importação de bacalhau foi de 2,26 mil toneladas, a mais baixa desde 2009, que contou com apenas 1,43 mil toneladas. Já a tilápia deve ser a aposta para este feriado, visto que o valor passou a ser um dos principais fatores na decisão de compra do consumidor brasileiro. O preço da tilápia varia de R$ 35 a R$ 45 o quilo, enquanto o bacalhau varia R$ 55 a R$ 75 no varejo.
Conforme o presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), Francisco Medeiros, o comércio de pescados comporta diferentes realidades. Segundo ele, para os piscicultores, cujos principais clientes são os supermercados, as boas expectativas já se concretizaram. Medeiros diz que não foi registrada uma "explosão de vendas" como as de 2018 e 2019, quando, em alguns locais, chegaram a crescer 300%. Mas, neste ano, não perderam vendas. Diferente de 2020, quando foram afetados negativamente. (Wilma Antunes)