Mortes no trânsito aumentaram 24% em 2020, na comparação com 2019

Por Marcel Scinocca

Foram 41 mortes registradas em 2020 contra 32 de 2019, mostram os números oficiais. Crédito da foto: Pedro Negrão (1/2/2021)

Mesmo com a pandemia iniciada em 2020, que por muitos dias deixou a cidade com movimento reduzido, o número de mortes no trânsito em vias administradas pelo município de Sorocaba aumentou 24%, se comparado com 2019. O número registrado no ano passado ainda é o maior desde 2015. Os dados mostram que os acidentes -- os sinistros -- têm sido mais violentos em Sorocaba, já que há mais mortes para um número menor de ocorrências. As informações fazem parte de um levantamento do jornal Cruzeiro do Sul com informações da Urbes, a empresa pública que gerencia o trânsito na cidade.

De acordo com as informações, foram 41 mortes registradas em 2020, contra 32 de 2019. Esse número representa aumento de 24%, em 12 meses. Ainda pelos dados, o número do ano passado é o maior desde 2015, já que o registro de óbitos vinha em uma decrescente, até 2018. Em 2015, foram 33 mortes. No ano de 2016, chegou a 32. Caiu mais ainda em 2017, indo a 29. Por fim, chegou a 23 em 2018.

O levantamento aponta também que os acidentes têm sido mais violentos, já que os números têm apresentado redução, ano a ano. Para se ter ideia, foram 1.078 no ano passado. A série histórica disponibilizada pela Urbes, com dados a partir de 2012, mostra neste primeiro ano, que a cidade registrou 3.079 acidentes ou sinistros nos quais houve vítimas. Foram registrados 8,5 acidentes por dia, em 2012. O número caiu para cerca de três por dia, em 2019.

Por outro lado, devido a gravidade em um número maior de acidentes, mais gente morreu. Em 2012, era uma morte para cada 64 sinistros. No ano passado, foi registrado uma morte para cada 26 acidentes.

No ranking das vias mais violentas da cidade, a Itavuvu lidera em todos os anos. Ela é um dos principais corredores da zona norte da cidade. Desde 2012, a via registrou 1.032 acidentes com vítimas. Foram 38 mortes contabilizadas no período.

Tendência de sinistros violentos

“Esse é um fenômeno nacional”, diz o especialista em trânsito e mobilidade urbana Renato Campestrini. “O número de sinistros de trânsito tem reduzido, mas os óbitos aumentam ou continuam igual”, explica. Conforme ele, esses acidentes ou sinistros, como essas situações devem ser chamadas, mostram que as ocorrências estão mais violentas. “Essa é a leitura que podemos ter a medida que o número de acidentes diminuiu e o de óbitos aumentou”, diz. Sinistro ao invés de acidente está de acordo com as normas brasileiras (NBRs) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Campestrini explica a tese. “Esse é um indicador, por exemplo, de que a velocidade praticada está acima do desejável, que as pessoas têm deixado de utilizar o cinto de segurança, em especial o cinto traseiro, o que pode levar o passageiro a ser ejetado do veículo. No caso das motocicletas, o excesso de velocidade atrelado ao uso incorreto do capacete (solto, maior que o tamanho da cabeça do usuário) resultam em lesões praticamente fatais”, diz.

“Infelizmente, a tendência é essa a medida que a legislação de trânsito vem sendo afrouxada, flexibilizada como dizem alguns. E sinistros de trânsito graves em época de pandemia levam as pessoas a dividirem leitos de UTI com vítimas da Covid”, lembra. “Nas rodovias federais, desde agosto os números de sinistros vêm sendo superiores ao período pré-pandemia segundo alguns estudos”. lembra.

Caminhos

O especialista aponta uma recomendação recorrente e necessária, mas que muita gente não segue. “Por mais que possa parecer repetitivo, é preciso consciência das pessoas de que o trânsito mata. O motociclista que passa por cima de um canteiro central para cortar caminho, não tem ideia do risco que corre de ter sua motocicleta colhida por um veículo. O cidadão que para ir realizar uma tarefa qualquer perto de sua casa, e em razão disso não utiliza o cinto de segurança, está se colocando em uma situação de alto risco. Então para mudar isso é preciso que cada um faça sua parte”, recomenda.

Ele também lembra da questão da prevenção no que refere também às administrações públicas. “E quando dizemos que é preciso que cada um faça sua parte, apontamos para uma constante diligência do Poder Público, dos usuários das vias para situações que possam ser fator de risco para que sinistros de trânsito venham a ocorrer. Galhos de árvores que encobrem parcialmente um conjunto semafórico podem potencializar os riscos de um sinistro e devem ser evitados, sanados o quanto antes”, reforça. “Inclusive dentro da nova Década de Ações para a Segurança Viária, de 2021 a 2030 essa premissa é um dos destaques, que a prevenção dos sinistros seja trabalhada assim como a responsabilidade dos eventos não seja apenas algo exclusivo do condutor, e para isso é preciso avaliar cada caso”, acrescenta.

O que diz a Urbes

Em nota, a Secretaria de Mobilidade e Desenvolvimento Estratégico (Semob) afirmou que trata com a máxima atenção o aumento do número de óbitos registrados no ano passado, principalmente em razão de a maioria deles ocorrer por falha humana. “A Semob trabalha diariamente no sentido de promover a fluidez do trânsito e garantir a segurança viária. Ações são desenvolvidas permanentemente, principalmente voltadas à efetividade da sinalização e da fiscalização das normas de trânsito”, garante a pasta.

“Há, ainda, a busca pela mudança de comportamento dos condutores, por meio das ações de educação para o trânsito, com temáticas variadas. Exemplo é a ação “Motociclista Seguro”, voltada á segurança na circulação das motos, além da “Faixa Viva”, importante na orientação para uma travessia segura e na conscientização quanto ao zelo com pedestres”, garante.

Com relação aos acidentes em determinadas vias da cidade, coma a Itavuvu, a Semob disse que “mantém esforço permanente, visando à redução de ocorrências nesses pontos”. “O fato está diretamente atrelado à maior quantidade de veículos e pedestres que circulam por essas vias. São corredores estruturados, com a devida sinalização, providos de redutores de velocidade, semáforos e onde a condução veicular deve ser realizada com a cautela necessária”, conclui. (Marcel Scinocca)