Maioria dos acidentes fatais envolve motos

Com 39,1% dos registros, esse veículo mata mais do que o dobro dos carros

Por Marcel Scinocca

Dados mostram que motociclistas devem ter atenção redobrada ao transitar.

 

Quase 40% (39,1%) das mortes registradas no trânsito de Sorocaba, entre 2015 e 2020, envolveram motocicletas. O número de óbitos é mais que o dobro das mortes envolvendo automóveis. As informações são do Infosiga, Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo, gerenciado pelo programa Respeito à Vida e Detran-SP. No período, a cidade ganhou quase 10 mil novas motocicletas nas ruas.

Foram 206 mortes entre 2015 e 2020 em acidentes com motocicletas, de um total de 527 registros. O porcentual é 131% maior que as mortes envolvendo automóveis, que somaram 89 em seis anos. Os dados ainda são maiores que os 171 óbitos envolvendo pedestres e mais de três vezes o número de mortes envolvendo bicicletas -- 46 no período. Nos mesmos seis anos, foram 10 mortes em acidentes com ônibus e nove com caminhões.

Os dados mostram ainda que 35 mortes envolvendo motocicletas ocorreram em 2015, caindo para 19 em 2016. O número subiu para 23 em 2017. No ano seguindo, novo aumento, mais significativo, indo a 40 mortes. Em 2019, manteve os 40, caindo no ano passado para 37, mas ainda sendo o segundo maior montante desde quando os dados passaram a ser analisados pelo sistema paulista. Em 2021, entre janeiro e março, já foram 14 mortes.

Número alarmantes

O advogado e especialista em trânsito, Renato Campestrini, alerta que os dados mostram a necessidade de reforçar a segurança. “Os números apresentados são alarmantes e comprovam que motociclistas devem ter atenção redobrada ao transitar, em especial, com o uso correto do capacete, único e importante equipamento de proteção individual previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) para os condutores que não exercem atividade remunerada de motofrete”, lembra.

“Um capacete mal colocado, solto, protege tanto quanto um boné, mas infelizmente é uma conduta equivocada constantemente vislumbrada em nossas vias. Sou motociclista praticante e entendo o dia a dia no trânsito de quem utiliza o veículo e não vejo razões para se conduzir com um capacete solto”, comenta.

Campestrini também afirma que os dados ratificam a necessidade de uma revisão no processo de formação do condutor de veículo motorizado de duas rodas, para adequar o processo ao novo momento do trânsito brasileiro. Para ele, as perspectivas não são boas. “Infelizmente, temos aumento de acidentes com as constantes flexibilizações das regras. Veja que transitar com a cinta jugular do capacete solta era uma infração gravíssima que, inexplicavelmente, passou a ser uma infração de natureza leve”, opina.

O número de motocicletas em Sorocaba aumentou em 13,4% no período analisado pelo Infosiga. Segundo o Departamento Nacional de Trânsito e o Ministério da Infraestrutura, o total subiu de 73.712 para 83.649. O crescimentos dos automóveis, por exemplo, foi de 9%. Os dados não consideram as chamadas motonetas, que também apresentaram aumento.

Total geral

Com relação ao total de mortes, 57,5% delas ocorreram em vias municipais. 37% foram em rodovias e 4,5% em locais não informados. A faixa etária com maior número de mortes é a que compreende indivíduos entre 28 e 24 anos. Foram 111 mortes no período entre 2015 e 2020. Com apenas 10 óbitos, a faixa etária com mais de 80 anos foi a que menos morreu no período, segundo os dados da Infosiga.

Os condutores foram as maiores vítimas: cerca de 54,4%. As mortes de pedestres correspondem a 31%, enquanto os passageiros constituem quase 9% das vítimas. Do total de mortes em seis anos, a maioria -- 454 -- ocorreu no mesmo dia do acidentes.

Quando o assunto são óbitos por tipo de acidente, os dados apontam que 180 deles foram por colisão -- veículos em movimento. Outros 175 foram por atropelamento, além de 109 por choque -- ao menos um veículo em movimento. Do total de mortes, 87 delas não foram especificadas.

Com relação ao total de óbitos em acidentes de trânsito na região de Sorocaba, houve redução de 13% desde 2015, ano em que se iniciou a série histórica do Infosiga. Já no Estado de São Paulo, a queda nas fatalidades foi de 32%, apesar do crescimento da frota de veículos em 50%. O resultado é de 2.372 vidas salvas desde 2010. (Marcel Scinocca)