Cápsulas de café ainda são pouco recicladas

Plástico, alumínio e até a borra podem ser reaproveitados, afirma pesquisadora

Por Jomar Bellini

O ideal é abrir as cápsulas e retirar o material orgânico antes de doar para reciclagem.

Seja no frio ou no calor, uma boa xícara de café acompanha o brasileiro em qualquer época do ano. A bebida é a segunda mais consumida no País e teve um aumento de 35% nas vendas durante a pandemia. Nos últimos anos, as cápsulas têm chamado a atenção dos consumidores pela praticidade e variedade nos tipos de café. Esse crescimento no consumo, entretanto, está preocupando os especialistas pelo baixo índice de reciclagem do material empregado.

O brasileiro consumiu 12 mil toneladas de café em cápsulas em 2019, número mais recente divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). A maior venda é na região Sudeste. No entanto, apenas cerca de 34% de todo esse volume é reciclado hoje no País, de acordo com o coffee expert Daniel Carvalho. “É muito pouco e a gente precisa fazer com que todos ‘vistam’ essa campanha de reciclagem como um hábito até por uma questão de consumo consciente”, afirma.

Na visão do especialista, o processo de gestão ambiental depende tanto do consumidor quanto da empresa que fabrica os produtos. “A gente fala muito da responsabilidade coletiva. Existe a preocupação do destino final”.

Reciclagem

O consumidor que busca destinar adequadamente o material, frequentemente se depara com muitas dúvidas e, principalmente, dificuldades. “No interior do Estado nós temos muitas dificuldades para descartar de forma correta, além de poucos pontos de coleta”, avalia a professora Virginia Aparecida Silva Moris, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Engenharia da Sustentabilidade no campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

As cápsulas de alumínio e plástico de cafés e máquinas multibebidas podem ser 100% recicladas, segundo Virginia. Para que elas tenham o destino correto, entretanto, é necessário prestar atenção na forma como o descarte é realizado. “Aqui em casa nós colocamos junto com o material plástico. Separamos também a tampinha de alumínio para a reciclagem e a borra”, afirma a gerente de contas Karina Toffoli Jandotti. Ela mora em Sorocaba e adotou as cápsulas há dois anos.

O meio adotado por Karina é o mais indicado pelos especialistas, já que a abertura das cápsulas para a retirada do material orgânico (a borra ou outros produtos usados na preparação das bebidas) é o principal entrave para a reciclagem desse material nas cooperativas. “Nós não temos como limpar cada cápsula para vender e a quantidade não é tão grande, então não gera custo-benefício. Acaba indo junto com o lixo orgânico”, diz a presidente da Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso), Áurea Bueno.

A dificuldade é explicada pelo tamanho da cápsula, que acaba não sendo tão lucrativa quanto os outros materiais. Uma lata de alumínio, por exemplo, tem cerca de 14 gramas enquanto o peso das cápsulas gira em torno de um grama.

A Cooperativa de Egressos e Familiares de Egressos de Sorocaba e Região (Coopereso), que fica na rua Leopoldo Machado, 270, no Centro, fechou um acordo com uma empresa de café da cidade para receber as cápsulas de alumínio. O material é armazenado junto com os demais enviados por moradores até que forme um volume suficiente para ser vendido.

Já em Votorantim, os moradores conseguem descartar as cápsulas diretamente na coleta seletiva que passa nos bairros. Há cerca de um ano, a Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável de Votorantim (Coopervot) passou a receber o material fechado e a retirar a borra da embalagem no galpão. “A gente começou a trabalhar com as cápsulas para evitar que elas sejam enviadas para o aterro. Não é uma coisa que dá muito lucro, mas juntando já ajuda a virar renda para as famílias da cooperativa. Fora que para o meio ambiente é, sim, um grande lucro”, conta Marlene Barros Dias, presidente da Coopervot.

Vida nova

Outra alternativa é procurar as empresas que produziram o material. Muitas delas recebem as cápsulas usadas em pontos de coleta ou pelos Correios. “São vários programas com a postagem gratuita. As cápsulas são separadas. A borra é usada para compostagem até mesmo nas plantações e a água é tratada e reutilizada na própria lavagem das cápsulas e irrigação nas fazendas”, explica Virginia Moris, pesquisadora da UFSCar.

A partir da reciclagem, as cápsulas podem ganhar vida nova. As de alumínio, por exemplo, podem virar novas embalagens e até outros itens inusitados, como canivetes e bicicletas. Outra vantagem é o fato de o alumínio reciclado precisar de 95% menos energia para produzir do que o alumínio virgem, além de colaborar com uma redução significativa na pegada de carbono.

Já o plástico é usado para produtos que não envolvam alimentação, como a produção de paletes. Outros optam por reutilizar as cápsulas no artesanato e até mesmo como vasos para pequenas plantas. (Jomar Bellini)