Itupararanga terá redução da vazão para controle do nível
Recomendação é do Comitê da Bacia Hidrográfica de Sorocaba e Médio Tietê
Após a represa de Itupararanga atingir o volume útil de 29,60% de sua capacidade ontem (6), o menor de 2021, o Comitê da Bacia Hidrográfica de Sorocaba e Médio Tietê recomendou à Votorantim Energia, gestora da usina hidrelétrica de Itupararanga, que adote medidas, a partir de segunda-feira (9), para evitar que o nível do reservatório diminua ainda mais.
As medidas foram decididas durante reunião na manhã de ontem entre representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica de Sorocaba e Médio Tietê, da Câmara Técnica de Planejamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos, da Votorantim Energia, do Saae Sorocaba e representantes de municípios da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), e também do Ministério Público estadual.
Entre as medidas, a Votorantim Energia deverá reduzir a vazão da saída de água do reservatório durante sete dias e, em seguida, deverá fazer uma nova redução a partir do dia 16.
Além disso, na próxima sexta-feira (13), o Comitê de Bacia Hidrográfica de Sorocaba e Médio Tietê deverá se reunir, novamente, com representantes da empresa para avaliar o resultado da primeira redução na vazão da saída de água da represa de Itupararanga.
Questionada pelo Cruzeiro do Sul, a Votorantim Energia informou que acatará as determinações dos órgãos reguladores e Comitê de Bacias assim que for solicitada oficialmente.
A empresa disse que, diante da falta de chuva dos últimos meses e o início do período de seca, promoveu, como medida de gestão responsável dos recursos, a diminuição da geração de energia da usina de Itupararanga e, desde a segunda quinzena de dezembro de 2020, libera somente a vazão mínima obrigatória (permitido pelo órgão regulador), mantendo apenas uma das quatro unidades geradoras em operação.
Segundo o vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica de Sorocaba e Médio Tietê e coordenador da Câmara Técnica de Planejamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos, André Cordeiro Alves dos Santos, as medidas são necessárias porque a atual situação do nível do reservatório é crítica. “O atual nível da represa está muito próximo do chamado volume morto. O atingimento do nível mínimo do reservatório é de 817,5 m e atualmente está em 818,78 m, ou seja, muito próximo”, destaca.
Sem as medidas para reduzir a vazão da saída de água do reservatório, o Comitê acredita que o atingimento do nível mínimo aconteceria já em setembro, embora a estimativa da Votorantim Energia é que o chamado volume morto fosse atingido em outubro, por conta da previsão de chuvas de 50% da média histórica para os próximos meses.
Além disso, André alerta que o nível da represa precisa ser monitorado atualmente, já que o índice neste momento é praticamente o mesmo de 2014, quando cidades da RMS enfrentaram uma crise hídrica.
Outro fator de preocupação é que algumas cidades da RMS, como Itu, Salto e Tietê, já estão enfrentando rodízio no abastecimento de água. “Estamos conversando também com os prefeitos dos municípios que fazem captação de água do reservatório para que estudem medidas de redução no consumo de água. O mesmo foi orientado para o Saae Sorocaba sobre a importância na redução do consumo de água, ou outras ações serão necessárias, como um racionamento”, destaca André que ainda alerta que a diminuição da vazão da saída de água do reservatório de Itupararanga poderá comprometer a qualidade da água do rio Sorocaba. A recém-inaugurada ETA do Vitória Régia vai dar uma folga para a represa, mas vai piorar a qualidade da água do rio”, afirma.
Segundo ele, a redução da vazão da saída de água da represa também é preocupante e precisa ser monitorada e feita de forma bastante controlada para não prejudicar o abastecimento de algumas cidades da RMS, sobretudo aqueles que ficam próximos a parte mais alta do reservatório, como Mairinque e Alumínio. “Estamos conversando também com os municípios de Votorantim, Boituva, Cerquilho e Laranjal Paulista no sentido de adotarem medidas para reduzir a captação de água da represa e ações para diminuir o consumo de seus habitantes”, ressalta.
Ministério Público acompanha
Em entrevista à rádio Cruzeiro FM 92,3, na quinta-feira (5), o promotor de Justiça do Grupo Especial de Proteção ao Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público, Antonio Domingues Farto Neto, se mostrou bastante preocupando com o cenário de uma nova crise hídrica em Sorocaba e na região. Farto Neto disse que está monitorando de perto a situação de Itupararanga.
Ele afirma que tem conversado sobre o problema com os prefeitos da região e com a Votorantim Energia a respeito da necessidade de economizar água. Segundo o promotor, as previsões de chuva não se confirmaram e até o fim do ano as projeções de consultorias mostram que o volume das precipitações não deve ser suficiente para recompor o volume de Itupararanga.
“O momento é crítico e bastante parecido com 2014, então, vamos ter que economizar água, pois estamos enfrentando um inverno muito seco e as previsões de chuva para os próximos meses são bastante preocupantes”, destaca Farto Neto.
O promotor disse ainda que, neste momento, descarta qualquer medida judicial a respeito, mas que a situação exige acompanhamento diário e que o governo estadual também está ciente e monitorando a crise hídrica que já atinge algumas regiões do Estado. (Ana Cláudia Martins)