Urbanistas desaprovam nova rodoviária em terreno de Santa Rosália e contam o porquê
Terminal deverá ser afastado de áreas consolidadas e viabilizar possibilidades inteligentes de deslocamento
Especialistas em urbanismo ouvidos pelo Cruzeiro do Sul se mostraram contra a implementação do novo terminal rodoviário de Sorocaba em um terreno no bairro Santa Rosália, próximo ao início da rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho (SP-75). A possibilidade está sendo estudada pela Prefeitura de Sorocaba, conforme informou o Cruzeiro, na edição de quarta-feira (18).
De acordo com a arquiteta Sandra Lanças, a nova rodoviária deve ter uma localização estratégica para atender a toda a população sorocabana, viabilizando possibilidades inteligentes de deslocamento, principalmente para atender a zona norte, a região mais populosa de Sorocaba, em termos de densidade demográfica.
“Minha opinião é que a nova rodoviária não deveria estar localizada na ponta da cabeceira da Castelinho, na área proposta da Santa Rosália. A população do bairro não quer a instalação da nova rodoviária lá. Já não queria há décadas atrás por motivos óbvios, de que vai alterar ainda mais a dinâmica do bairro residencial, e com grande chance de maior degradação do ambiente urbano local, e sem grandes benefícios para a maior parte da população sorocabana que precisa pegar um ônibus rodoviário para viajar, pois precisaria se deslocar muito mais, e por ônibus municipais para chegar lá”, opina.
“Hoje já é demorado, imagina se precisar sair da avenida Ipanema ou avenida Itavuvu, o trajeto que a pessoa teria que fazer na ida, e imagine cansado na volta para casa. Temos a solução do Uber, mas e quem não pode pagar isto todo dia?”, questiona. “E será que tem orçamento familiar para isto? Mais do que só resolver o prédio, ou tirar os ônibus da marginal do rio Sorocaba, é preciso dar uma solução inteligente de conectividade ao cidadão sorocabano que regressa de uma viagem, desembarcando na rodoviária para voltar para sua casa”, argumenta.
“No caso eu sugeriria o aproveitamento do atual vazio urbano que é a antiga Villares, agora Gerdau, que tem possibilidade muito grande de intermodalidade no futuro próximo, com relação ao BRT municipal, e o trem intercidades estadual, área para recebimento e estacionamento de todos os modais, e ainda ativar proximamente áreas que também são atualmente grandes vazios urbanos, e que podem (e devem) receber investimentos para projetos de apartamentos para estudantes, e áreas para desenvolvimento de um distrito de entretenimento”, comenta.
Conforme ela, é uma solução viável, pois até a rua Padre Madureira a marginal do rio Sorocaba tem mais pistas, que depois diminuem a partir da Praça Lions, que atualmente é o trajeto para a atual rodoviária. “Além disso, poderia finalmente também aproveitar o projeto do novo equipamento urbano que é a rodoviária e inovar, propondo novos usos e resgatar (e manter) a histórica área da antiga Fepasa, valioso patrimônio histórico sorocabano e paulista”, conclui.
Lugar não é ideal
“A decisão não é ideal, porque o terreno escolhido para a obra encontra-se inserido em área urbana consolidada, predominantemente residencial, acrescida de áreas tombadas pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), como são a praça Pio XII (coreto e abrigo de ônibus), o edifício onde funcionou o Hospital São Severino (e a capela) e também o edifício da fábrica Santa Rosália”, justifica o arquiteto e urbanista Marcelo Augusto Paiva Pereira, também se posicionando contra a possibilidade.
De acordo com ele, o novo terminal deverá ser afastado de áreas consolidadas, para desenvolver centralidades urbanas e “a mobilidade a elas correspondentes, na razão do estudo dos trajetos origem-destino (OD), que examinam os fluxos de veículos, pessoas e mercadorias, inclusive em relação às áreas do entorno”, diz
“Há outras áreas urbanas mais apropriadas à implantação da nova estação rodoviária. Uma delas é a localizada no entroncamento das rodovias Celso Charuri, Raposo Tavares e José Ermírio de Moraes (Castelinho). Inclusive, esse terreno se encontra amparado pela lei municipal nº 11.319/2016, que instituiu o Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana do Município de Sorocaba”, lembra Paiva Pereira.
Ele diz que a implantação da nova estação rodoviária na Celso Charuri, por exemplo, fomentaria o surgimento de centralidades urbanas e complexos intermodais com vistas aos espaços destinados ao transporte, comércio, serviços, lazer, habitação e o benefício da mobilidade urbana e dos fluxos origem-destino. “Esteticamente causará a integração de áreas urbanas pela diversidade de transportes oferecidos, aprimoramento do desenho da malha urbana e rodoviária, bem como atualizará o ‘skyline’ da cidade em sua totalidade, sem causar prejuízos ao meio ambiente natural nem ao entorno, pensadas desde o desenho do projeto”, lembra.
Ele ainda lembra que a “poluição sonora, bem como qualquer outra espécie (ou tipo) sempre deverá ser considerada em qualquer projeto, arquitetônico ou urbanístico, porque faz parte do conceito de conforto estudado e examinado nos projetos”. Aliás, o projeto do edifício a abrigar a aludida estação rodoviária deverá ser pensado para produzir os menores índices de sonoridade, para assegurar o conforto acústico aos usuários do ambiente, inclusive no entorno urbano”, termina.
Moradores do bairro estão se mobilizando contra a medida, inclusive já realizaram uma reunião para tratar do tema. Um abaixo assinado também está em andamento. (Marcel Scinocca)