Boa noite, Cinderela
A prática do "boa noite, cinderela" é facilitado por meio do emprego de drogas que deprimem e/ou perturbam as atividades do sistema nervoso central da vítima
Éric Diego Barioni
No Brasil, com a redução do número de casos e mortes causadas pela pandemia de COVID-19, festas, shows, bares e baladas retomaram as suas atividades com força total e têm adicionalmente deixado nossos adolescentes e jovens adultos vulneráveis e expostos a pessoas mal-intencionadas e crimes facilitados pelo uso de drogas.
Fada-madrinha, animais da floresta que se transformam em pessoas e um feitiço com hora para acabar. À meia noite e um minuto, a magia de Cinderela iria se desfazer aos olhos de todos e, antes mesmo de um simples “boa noite”, “Cinderela” foi obrigada a correr, mas esqueceu um dos seus sapatinhos de cristal e foi encontrada pela polícia -- digo, príncipe.
O crime “boa noite, cinderela”, cujo nome foi aparentemente atribuído a este tipo de roubo e/ou abuso sexual na década de 70 -- o conto de fadas de Cinderela e um programa de TV da década de 70 apresentado por Silvio Santos certamente contribuíram para a denominação do crime -- tem feito vítimas no Estado de São Paulo.
A prática do “boa noite, cinderela” é facilitado por meio do emprego de drogas que deprimem e/ou perturbam as atividades do sistema nervoso central da vítima. Estas substâncias são classificadas como Designers, Club ou Rape Drugs (drogas sintéticas, drogas da noite, drogas facilitadoras de estupro) e, entre elas, estão os benzodiazepínicos, como midazolam, clonazepam; anestésicos, como a cetamina; GHB, álcool, entre outras.
De maneira geral, estas substâncias poderão causar diferentes graus de euforia, desinibição, sonolência, inconsciência, passividade, redução ou perda de memória, incoordenação motora e incapacidade de pensar com clareza e tomar decisões, incluindo a possibilidade de quadros graves de intoxicação que poderão ou não evoluir para o coma e morte. A vítima, que praticamente não irá se lembrar de nada, será facilmente conduzida pelo criminoso.
Muitas das drogas que foram citadas acima, tal como o anestésico cetamina, não possuem cheiro, cor ou sabor, e podem ser facilmente adicionadas a copos e embalagens vazias, bebidas e/ou alimentos sólidos que estejam abertos.
Em festas, shows, bares e baladas, é muito importante estar acompanhado por alguém de confiança e manter-se atento ao seu comportamento diante da ingestão de bebidas que consome costumeiramente. Para além disso, vale ressaltar aqui uma prática adicional de crime que vem ocorrendo nesses eventos e envolve a aplicação não consensual de drogas por meio de seringas e agulhas.
Por fim, não aceite bebidas ou alimentos sólidos em embalagens abertas, não descuide de copos e/ou bebidas, descarte bebidas que forem abandonas por um tempo sobre a mesa e fique atento ao gosto, cor e aspecto do que for consumir.
Com as festas de final de ano, o período de férias e o carnaval que se aproxima, estes crimes se tornam mais frequentes e todo cuidado é pouco e necessário para a nossa segurança.
Éric Diego Barioni (eric.barioni@prof.uniso.br) é biomédico, mestre e doutor em toxicologia, conselheiro suplente e presidente da comissão de toxicologia do CRBM-1 e coordenador do curso de Biomedicina na Uniso