Queda é o inimigo número 1 dos idosos
Acidentes comuns dentro de casa provocam fraturas sérias, problemas psicológicos e até morte
As quedas dentro de casa são mais danosas aos idosos e podem causar fraturas sérias, problemas psicológicos e até levar à morte. As fraturas decorrentes desse tipo de acidente respondem por aproximadamente 70% das mortes acidentais de idosos acima de 75 anos. Além disso, entre essas pessoas, os óbitos devido a acidentes desse tipo são oito vezes maiores e as hospitalizações, dez vezes acima do normal. Os dados são da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), vinculada à Associação Médica Brasileira (AMB).
A fisiatra Matilde Spósito atende pacientes com sequelas de diversas doenças. Dentre eles, idosos vítimas de quedas. A médica informa que, após os 60 anos, as próprias consequências da idade deixam essas pessoas mais vulneráveis a acidentes domésticos. Os mesmos fatores os tornam mais propensos a sofrer complicações. “O idoso perde o reflexo e não consegue se proteger na queda, não tem massa muscular para se segurar durante a queda, e os ossos são frágeis”, explica. Segundo ela, comorbidades, como obesidade e a hipotensão (pressão baixa), são outros fatores de risco.
Conforme a especialista, os incidentes causam, principalmente, lesões e fraturas ósseas. Mas, a depender da gravidade do caso, a vítima pode vir a óbito. Matilde ainda cita que a recuperação total também pode ser mais difícil, principalmente para idosos com osteoporose (enfraquecimento dos ossos). De acordo com ela, a doença é comum na terceira idade e tende a interferir negativamente no tratamento. “O processo de recuperação da fratura é sempre mais lento em idosos osteoporóticos. Às vezes, a fratura não cicatriza direito e, quando é feita uma cirurgia para a correção, o osso pode não aderir às placas e parafusos usados na fixação das partes fraturadas, devido à falta de minerais”, esclarece.
Por isso, há riscos de sequelas, como perda da mobilidade e acamamento. Para mitigar esses feitos, o tratamento consiste em fisioterapia e, em alguns casos, uso de medicamentos. Porém, segundo Matilde, quando não é possível erradicá-los, a ausência da capacidade funcional pode gerar abalo emocional. “Ele (idoso) pode se sentir restrito e ficar deprimido”, fala.
A permanência na cama por longos períodos ainda pode desencadear outras doenças. “Ele (idoso) acaba tendo muita infecção, principalmente, pulmonar e urinária. Ele não consegue levantar da cama para ir ao banheiro, por exemplo, passa a usar fralda e, daí, há infecção. Por não conseguir se movimentar, aparece infecção no pulmão”, comenta.
Matilde alerta que as quedas constantes podem ser sinais de outros problemas de saúde, especialmente, neurológicos. Um exemplo é a labirintite. Desta forma, ela orienta o idoso a procurar um médico logo após a queda, mesmo sem danos aparentes. Também aconselha as famílias a prestar atenção no comportamento das pessoas mais velhas. Assim, é possível descobrir as doenças precocemente, bem como possíveis machucados internos.
Cuidados
Segundo a especialista, com cuidados simples, os idosos conseguem evitar incidentes. A primeira recomendação é não ter tapetes de materiais escorregadios, como crochê, e prender os panos com fita. Outra dica é usar sapatos fechados, em vez de chinelos. “Chinelos e tapetes pela casa causam 90% das quedas de idosos”, diz.
Outra orientação é evitar subir em bancos e cadeiras para pegar coisas em lugares altos. Nessas situações, deve-se pedir ajuda. Tomar banho sentado é mais uma medida de segurança. Matilde ainda aconselha os idosos a adaptar suas casas. Para tanto, devem instalar barras de apoio no banheiro, escolher pisos antiderrapantes e colocar corrimãos em escadas e rampas.
Evitar tapetes, escadas improvisadas
Quem já passou por essa situação sabe a importância de tomar precauções. Um deles é o aposentado Antônio Carlos Sartorelli, de 64 anos. Após cair na cozinha de seu apartamento, ele precisou da ajuda de uma cadeira de rodas para se locomover durante cinco meses.
Na ocasião, vazou água da geladeira, ele não viu, pisou descalço e escorregou. “Houve uma fratura leve na canela. Devido à minha condição, eu tive que colocar uma tala para imobilizar a perna”, conta. Sartorelli já convivia com as sequelas de uma queda anterior, ocorrida em uma praça de Sorocaba.
Com repousos e remédios para aliviar a dor, ele se recuperou do acidente doméstico. Hoje, anda normalmente. “Graças a Deus, não tive sequelas por conta desse tombo.” Antes do incidente, Sartorelli já seguia alguns cuidados. Tanto que optou por morar no andar térreo de um condomínio, para evitar escadas. Também não tinha tapetes. Mas, agora, redobrou a atenção e passou a usar sapatos dentro de casa o tempo todo.
A dona de casa Alzira Alves Fontanezi, de 68 anos, já caiu algumas vezes. Em uma delas, escorregou no boxe do banheiro, durante o banho, batendo as costas no chão e a cabeça na parede. Foi parar no hospital. “Fez um barulho terrível, estrondoso. A dor foi terrível. Fiquei uma noite no hospital e fiz várias exames, mas, graças a Deus, não aconteceu nada”, lembra. Ela afirma nunca ter sofrido consequências sérias.
Após o susto, Alzira também ficou cautelosa. Não possui mais tapetes, nem sobe em cadeiras, bancos ou escadas para limpar armários altos, por exemplo. Nem higieniza escadas. Para essa tarefa, conta com a ajuda de uma diarista. “Todo o cuidado é pouco, porque, quando menos esperamos, acontece um imprevisto”, pontua. (Vinicius Camargo)