Homem usa falsa promessa de emprego em empresa de telefonia para enganar pessoas
Até processo seletivo fraudulento foi usado. Intenção do golpista ainda não foi esclarecida
Ótimo salário, benefícios de deixar qualquer um embasbacado e rápida ascensão na carreira. A proposta irrecusável de emprego fez os olhos dos candidatos brilharem com a possibilidade de um futuro melhor. De fato, tudo parecia bom demais para ser verdade. E como o diz o ditado: “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. Ao menos seis pessoas foram enganadas em Sorocaba, entre o período de novembro de 2021 a março de 2022, por um então vendedor da Claro. Ele prometia vagas na empresa e teria até iniciado um processo seletivo fraudulento em uma plataforma do setor de recursos humanos utilizado pela instituição.
A fala mansa do funcionário da Claro convenceu os candidatos de que ele era uma pessoa preocupada com o próximo. Afinal, o rapaz dizia reconhecer o esforço das vítimas e queria valorizá-las como mereciam. Até uniforme da empresa, o vendedor forneceu a uma das mulheres enganadas. Além disso, papéis timbrados, com o logo da instituição, firmaram falsos contratos entre a organização e os candidatos. Apenas as iniciais dos primeiros nomes das pessoas lesadas pela suposta fraude serão mencionadas na reportagem, a fim de preservar a identidade de todos os envolvidos.
“Ele disse que a HS Telecom [parceira comercial da Claro] iria entrar em contato. Fez até um grupo com os candidatos e dizia que a gente iria viajar para Bauru em fevereiro para fazer uma capacitação. Toda vez esse treinamento era adiado. Ele conversou com a gente várias vezes, falava sobre metas, recebeu fotos dos nossos documentos, realizava treinamentos internos e chegou até a aplicar uma prova para nós. Eu saí do meu antigo emprego para começar na Claro e agora estou desempregada”, contou S.
O vendedor foi cuidadoso na hora de contar a mentira. Ele seguiu rigorosamente todos os procedimentos que, geralmente, são feitos em processos seletivos de empresas de telecomunicações. Entrevistas, treinamentos, provas, coleta de dados e entrega de contratos faziam parte de seu plano mirabolante. Para D., o suposto golpista disse que mais de 45 mil chips da Claro haviam sido fraudados e que tomaria frente de uma loja no Centro da cidade, como gerente. Assim, precisava montar uma nova equipe para dar andamento no serviço.
B. ficou sabendo da vaga porque uma das vítimas era gerente de seu namorado. Então, B. ficou interessada e foi conversar com a “futura gerente” da Claro. Tudo parecia certo, se não fosse pela demora do chamamento. “Estava demorando muito. Ele passava uma data, não tínhamos nenhum tipo de resposta, aí ele marcava um outro dia e demorava mais ainda. No fim de março, uma das moças foi na loja da Claro perguntar para o gerente o que estava acontecendo e o motivo do adiamento do exame admissional. O gerente foi até o RH para verificar e não tinha nenhum processo seletivo”, relatou.
Sob posse dos dados da B., o charlatão abriu um plano no nome da vítima, sem autorização, segundo ela mesma. Ainda conforme B., o homem teria pego um novo número e se passado por uma funcionária que se chamava “Camila”. Na foto de perfil, a mulher usava o uniforme da loja, o que passou credibilidade à B. “Camila” mandou a ficha cadastral para a vítima e pediu os documentos para seguir com o procedimento de contratação. Mais tarde, descobriu-se que, na verdade, o rapaz usou indevidamente a foto de uma colaboradora da empresa.
O representante da HS Telecom do Centro de Sorocaba, que presta serviços para a Claro, abriu um boletim de ocorrência relatando toda a situação. No registro policial, o supervisor relatou que, assim que o caso chegou ao seu conhecimento, o suposto golpista pediu desligamento antes mesmo da sua chegada na unidade. O registro foi elaborado na Delegacia Participativa de Polícia (DPP) da zona norte.
Estelionato
Para o advogado Alexandre Berthe, especialista em fraudes e golpes, há a possibilidade do caso ser considerado como crime de estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal. Isso porque o charlatão não solicitou nenhuma quantia antecipada de dinheiro para as vítimas. A recomendação de Berthe é que todas as pessoas lesadas abram boletim de ocorrência para, inclusive, tentar reverter o quadro de quem pediu demissão do emprego para aceitar a falsa proposta.
“Ele pegou os dados das vítimas de forma irregular e, aparentemente, teria vendido produtos da empresa. É um caso atípico de golpe e vai mais na linha do estelionato. Ele, inclusive, pode ter usado uma plataforma falsa para enganá-las. Não se sabe qual era a real intenção dessa pessoa ao pegar os dados dos candidatos. São as chamadas informações sensíveis, que podem ser utilizadas para aplicar outros golpes. A empresa em questão também foi lesada”, explicou.
A punição para quem pratica estelionato é reclusão de quatro a oito anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
O Cruzeiro do Sul questionou a Claro sobre o processo seletivo feito pelo então vendedor da loja. Em nota, a empresa informou que não realiza processos seletivos da forma descrita pelas vítimas, bem como não reconhece como verdadeiros os documentos por elas apresentados. “A operadora esclarece ainda que o parceiro comercial HS Telecom, responsável pela loja citada na reportagem, inclusive registrou um boletim de ocorrência informando os fatos que chegaram ao seu conhecimento”.
A reportagem também tentou entrar em contato com o rapaz que realizou os procedimentos fraudulentos, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. (Wilma Antunes)