Rio Tietê volta a ficar encoberto por espuma em Salto

A Cetesb informa que a diminuição das chuvas causou a situação, já registrada diversas outras vezes

Por

Rio Tietê voltou a ficar encoberto pela espuma branca

O rio Tietê, em Salto, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), voltou a ficar encoberto por espuma no domingo (10) e segunda-feira (11). A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e a Prefeitura de Salto informaram que a redução das chuvas causou a situação. A última chuva no municipio foi há um mês, quando registrou 15.8 milímetros.

De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, atualmente, a vazão do rio está em 51,89 metros cúbicos por segundo, cerca de 17% da vazão ideial, que é de 300 metros cúbicos por segundo.

Segundo a Cetesb, o baixo índice de chuvas durante o outono e inverno reduz a vazão do rio. Com isso, a formação da espuma branca na região de Salto se intensifica. Ainda conforme a companhia, dois fatores ocasionam o fenômeno. "As principais causas são a presença de surfactantes, encontrados em produtos de limpeza, e as quedas d’água deste trecho do rio, que provocam turbulência da água e a formação de espuma", informa. 

De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, atualmente, a vazão está em 51,89 metros cúbicos do por segundo. A pasta pontua que essa estiagem favorece a concentração de poluentes e, consequentemente, o aparecimento da espuma. Porém, conforme o clima esquenta, o material tende a diminuir. 

O Executivo saltense atribui a questão a problemas no tratamento do esgoto da Região Metropolitana de São Paulo (RMPSP). Ainda argumenta que a eficiência do tratamento supera 90% no município. "Mas não adianta Salto fazer a "lição de casa" se a capital e as cidades da região metropolitana não melhorarem", cita, em nota. "Infelizmente, enquanto o tratamento de esgoto da Região Metropolitana de São Paulo não estiver a contento, Salto e as demais cidades do Médio Tietê seguirão sendo prejudicadas", completa. 

Segundo a Cetesb, empresas de saneamento já têm realizado trabalho para universalizar a coleta e o tratamento dos esgotos domésticos. Para a agência agência do governo do Estado de São Paulo, a medida "irá colaborar para a melhoria das condições do rio".

Nociva à saúde

A espuma é nociva à saúde e pode desencadear, principalmente, reações alérgicas. A afirmação é da diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro. Segundo ela, o material é carregado de poluentes, especialmente, gás sulfídrico. Malu explica que, ao entrar em contato com essa substância, a pessoa pode ter irritação na garganta, os olhos e pele. Por isso, é preciso tomar alguns cuidados. "Quando o rio estiver assim, as pessoas devem evitar ficar na beira, não frequentar os parques turísticos da região do Tietê, evitar contato com a pele, não entrar de barco no rio, não pescar,  porque, ao respirar, inala-se esses gases poluentes", aconselha.

Reestruturação

Para Malu, a resolução do problema depende de uma reestruturação no sistema de tratamento de esgoto. Ela considera atual modelo de tratamento ineficiente, pois retira apenas matérias orgânicas (excrementos humanos, por exemplo) da água, mas não inorgânicas (poluentes). "Só coletar e tratar esgoto, embora seja extremamente importante, não é suficiente para que a gente possa ter o rio utilizável", opina. 

A integrante da SOS Mata Atlântica aponta como essencial a implementação e aperfeiçoamento de medidas, principalmente, tecnológicas, para impedir os poluentes de chegarem ao rio. Neste sentido, também defende a criação de regulações acerca da produção de itens poluidores, como produtos de limpeza, com o objetivo de se reduzir a quantidade de substâncias prejudicais nas fórmulas. "Tem que ter resoluções normativas, como faz a Europa, por exemplo, que combatam esses produtos na origem, porque a natureza não vai dar conta de dilui-los", diz. 

De acordo com a especialista, essas ações ajudariam até mesmo ajudar a tornar a água do Tietê própria para consumo. Assim, contribuiriam, igualmente, para amenizar os constantes desabastecimentos registrados em cidades da região abastecidas pelo rio, em razão da estiagem.

Moradores lamentam o estado do rio

Elenice Martins, de 42 anos, mora em Salto há 3 anos e a única imagem do Tietê que tem na cabeça é dele sujo. "Os mais velhos até falam que antes era limpo, mas eu nunca vi", conta a cozinheira. Além disso, Elenice sabe que, por mais que a espuma seja aparentemente bonita, é suja, e que isso atrapalha até os peixes. "A gente até acha bonito, mas é sujeira. E tem as vidas que dependem dele, né? Eu já vi vários peixes mortos por causa dessa situação.", finaliza.

Quando a espuma aparece, o cheiro é insuportável, mas para o monitor de turismo, Adriano Scardo de Camargo, que nasceu na cidade, esse problema não existe mais. "a gente nem sente mais, nosso nariz tá até acostumado já" brinca. Por viver à beira do rio há mais de 40 anos, tem grandes memórias do local e fica triste em saber o estado que o rio se encontra agora. ‘Ele [o rio] já foi turístico, meu pai bebeu dessa água, eu aprendi a nadar no rio. E eu já o conheço inteiro, desde a nascente até a foz. É degradante ver isso hoje.", finaliza. (Vinicius Camargo com colaboração de Thais Marcolino)