A história da Vila Haro, um dos bairros mais antigos de Sorocaba
Colônia espanhola ajudou a construir - e a expandir o lugar, um misto de bairro residencial e comercial
O Cruzeiro nos Bairros tem o intuito de mostrar as histórias e belezas das comunidades sorocabanas e como cada uma delas faz de nossa cidade um lugar único. Como dizem por aí: Sorocaba é grande, mas com a cara do interior!
E assim, traremos a cultura, peculiaridades dos seus moradores e do local, inovações e desenvolvimento em cada canto sorocabano! Vem viajar com a gente!
O bairro Vila Haro é um dos mais antigos em Sorocaba, tem cerca de 25 ruas e fica na Zona Leste da cidade, no Além Ponte, que une diversos bairros colonizados por espanhóis. Fica a cinco minutos do centro da cidade, congregando comércios, escola, mercados, praças, cemitério, áreas para a prática esportiva e bem próximo ao Parque Zoológico Municipal, o Quinzinho de Barros, a Santa Casa de Sorocaba e de uma das principais avenidas da cidade, a São Paulo.
A colônia espanhola, que faz parte da Vila Haro, é bastante expressiva na cidade, pois mais de 30% da população tem descendência, sendo considerada a cidade mais espanhola do Brasil, por ter a maior colônia de hispano-brasileiros do País.
Entre as décadas de 1910 e 1970, a imigração espanhola na cidade teve seu ápice, com a oferta de empregos nas fábricas da cidade e a oportunidade de negócios na região. A influência espanhola está presente na Vila Haro e em outros bairros do Além Ponte, como Vila Hortência, Barcelona, entre outros.
E foi por meio de uma família espanhola: a família Haro, é que o bairro começou a ser loteado. Segundo o jornalista e pesquisador Celso Ribeiro, o início se deu com o casal Ramon de Haro Martinez e Antônia Perez Lopes, que vieram da Espanha já com alguns filhos crescidos.
De acordo com Sidney Haro Firmo, de 61 anos, mais conhecido como Tuim, morador do bairro há 35 anos e bisneto de Ramon Haro Martini, o bairro iniciou quando seu bisavô comprou terras para plantar laranjas por volta de 1920. As laranjas eram beneficiadas no galpão na rua Epitácio Pessoa, em frente ao Cemitério Pax, bastante próximo à Vila Haro e eram exportadas com o rótulo Laranjas do Brasil- Ortega, Haro & Cia. Ltda, entre as décadas de 1930 e 1940.
“Esse galpão facilitava o transporte feito por linha férrea, que passa ao lado. De lá era transportado até o porto de Santos (SP) para serem exportadas”, explica Sidney.
Somente após a década de 50, quando tiveram que queimar toda a plantação por problemas de doença, é que a primeira parte da Vila foi loteada. O loteamento foi lançado em 1958, na propriedade dos Irmãos Haro, projeto assinado pelo engenheiro Júlio Bierrembach de Lima, de acordo com Ribeiro.
“Nesse período os irmãos fizeram a partilha dos terrenos que cabia para cada um deles. Meu avô montou uma fábrica de tamancos de madeira chamada Tuim, mas infelizmente houve um incêndio e ele perdeu tudo. Por esse motivo como uma forma de homenagear, coloquei o nome da minha loja de Tuim”, comenta o comerciante Sidney, que vive na Vila Haro e onde a maioria dos seus ascendentes e descendentes estão.
A fábrica de tamancos, a Indústria e Comércio de Madeiras Haro Ltda, ficava na Rua Pedro José Senger, antiga estrada da Caputera, onde hoje está um Supermercado. Ali ficava a casa da família Haro, que além da plantação de laranjas e cebolas, teve uma loja cerealista perto do Mercado Municipal (Rua Padre Luiz), com venda de sementes, por volta de 1964.
“A Vila Haro é muito especial para mim, pois foi nela que a maioria da minha família nasceu e muitos ainda moram aqui. Minha esposa Isabel já morava aqui quando nos conhecemos. Minhas filhas nasceram aqui também”, ressalta Sidney.
A esposa de Sidney, Isabel, também veio da família Haro. E foi por meio das terras de seu avô, Paco Haro, que uma chácara desapropriada deu lugar a construção da Escola Estadual Escolástica Rosa de Almeida, localizada na rua Dr. Emílio Ribas, a única do bairro.
Com o passar dos anos, as mudanças no bairro foram acontecendo de forma gradual, como a pavimentação das ruas que antes eram de paralelepípedos, o crescimento dos bairros ao redor, muitos empreendimentos imobiliários, acesso a bancos, farmácias, mercados e outros comércios e melhorias no saneamento básico.
“Há muitos pontos positivos em se viver na Vila Haro: a curta distância com o Centro da Cidade, os bancos da avenida São Paulo, a Casa Lotérica que facilitou a vida de muitos moradores que não precisam se locomover até os bancos do Centro, entre outros”, descreve Sidney.
Um dos últimos
Recentemente, em 14 de agosto, faleceu aos 94 anos Cláudio Haro, neto de Ramon Haro Martini, filho de Antônio Haro e de Maria Manzano, e um dos últimos fundadores vivos do bairro.
Cláudio presidiu a Associação Comercial de Sorocaba de 1969 a 1971, por ser comerciante, proprietário da padaria Gonçalo, localizada no centro da cidade e que funcionou de 1960 até 2012. Antes a padaria levava o nome de Pan-Americana, que era de sua família.
Cláudio Haro se destacou também no trabalho social. Foi fundador do Serviços de Obras Sociais (SOS), conselheiro e diretor da Fundação Ubaldino do Amaral, mantenedora do jornal Cruzeiro do Sul, membro da Loja Maçônica Perseverança III e antigo associado do Rotary Club de Sorocaba Leste.
Cemitério
Um dos grandes espaços do bairro, e um dos mais antigos, é o Cemitério da Consolação. Ele foi inaugurado em 1938, praticamente junto com o desenvolvimento do bairro. Possui área total de 69.103 m² e 11.085 sepulturas perpétuas. O primeiro registro de sepultamento foi em 01 de janeiro de 1939.
Dentre as histórias do local há o túmulo que era feito de ladrilhos cor-de-rosa, de número 16, que fica na alameda 13, perto da entrada lateral da esquerda do cemitério. Pertence a uma menina de 8 anos, chamada Cleodenice Correa, que faleceu em 04 de novembro de 1955 devido a queimaduras por água fervente. O túmulo é visitado há anos, pois muitos acreditam que a menina seja milagrosa, auxiliando na cura de crianças, principalmente. No jazigo, que foi reformado recentemente e não está mais cor de rosa, muitos deixavam vasos e coroas de flores, chupetas, brinquedos e doces. Segundo alguns populares, após um longo período de sua morte e enterro, houve necessidade de fazer uma exumação para colocar na sepultura outro membro da família, e assim que acessaram o corpo da menina, estava ainda intacto. Assim ficou conhecida como a menina milagrosa, porém não há registros oficiais sobre o assunto, apenas a história contada de geração em geração.
Hoje
Para Sidney houve melhorias na questão do corredor comercial. “passaram o asfalto sobre o calçamento que havia para o transporte coletivo e o comercio teve maior valorização, pois a Vila Haro se tornou rota para a avenida São Paulo”, declara.
No início de 2021, houve o recapeamento asfáltico na Rua Padre Domingos Paes, muito solicitada entre os moradores do bairro durante edição do programa “Prefeitura de Bairro em Bairro”. O bairro passou por conserto nas calçadas, instalação e pintura de grades, tapa-buracos nas ruas, troca de lâmpadas, roçagem e outros serviços que fazem parte do programa da Prefeitura chamado “Sorocaba Linda de Verdade”.
Saúde
A Unidade Básica de Saúde (UBS), que atende cerca de 16 mil pessoas por mês, também foi um ponto benéfico apontado por moradores no bairro. A UBS passou por reparos em 2021, com novos pisos e vidros instalados, assim como a manutenção do telhado, calhas e pintura.
Além disso, são levados os Ônibus Azul e Rosa, da Secretaria da Saúde (SES) municipal, em frente da UBS – Vila Haro para dar assistência nas áreas de Ginecologia e Urologia, além de realizarem também testes rápidos de HIV e sífilis.
O saneamento também está sendo melhorado. Em julho deste ano, as obras de melhorias no sistema de drenagem na rua Ramon Haro Martini foram iniciadas, na altura do número 555, com troca da tubulação e rede de esgoto que receberam remanejamento para dar mais segurança aos moradores quando as grandes chuvas ocorrerem, feitas pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).
No mês de agosto, está previsto o início das intervenções nos trechos três e quatro, tornando necessária a interdição temporária na Rua Ramon Haro Martini. “Haverá troca da tubulação e será remanejada uma parte da rede de esgoto”, explicou o diretor-geral do Saae/Sorocaba, Tiago Suckow. Um dos motivos da melhoria é que em março de 2021 houve uma grande chuva e os moradores do bairro sofreram com alagamentos. Foram realizadas ações humanitárias para atender os moradores atingidos, contando com o apoio da Defesa Civil, Guarda Civil Municipal (GCM), SAAE, Urbes, Serpo, Ouvidoria Geral do Município e Secretaria da Cidadania (Secid), e o mapeamento adjunto com a identificação foi realizado para que essas famílias pudessem receber todo o auxílio necessário.
Lazer
Munique Mota Giorgetti Alves, 42 anos, moradora do bairro desde seu nascimento, comenta que o espaço criado para o lazer e descanso dos moradores é essencial para melhorar a rotina puxada do dia a dia. “Graças as várias praças com aparelhos de ginástica, pista de caminhada, pistas de ciclovia próximas e parques, o bairro fica mais atrativo quando se trata do lazer, seja sozinho ou em família”, relata Munique.
A área de lazer entre as ruas Padre Pedro Domingos Paes e Antônia Lopes Bravo também passou por reformas da Prefeitura de Sorocaba, que foram entregues no dia 23 de agosto de 2022. O local recebeu manutenção na quadra esportiva, no campo de futebol, pista de skate, calçamento e iluminação pública com lâmpadas de LED. Foram implantados playground, bancos, rampa e sinalização viária. “Criamos o programa municipal ‘Sorocaba Linda de Verdade’, que tem possibilitado a revitalização desses espaços, com o apoio da iniciativa privada. Vamos continuar com esse sistema, que está dando muito certo“, destacou o prefeito Rodrigo Manga.
Em junho deste ano, ocorreu anúncio de início das obras da instalação de um Ecoponto na área pública na rua Lourenço Mollinero, na Vila Isabel, na região da Vila Haro, sendo assim a quarta unidade de Ecoponto na cidade, destinada a atender a população para o descarte correto de diferentes tipos de resíduos.
Daiana Alves Pires, 48 anos, afirma que o ecoponto é uma boa forma da população continuar contribuindo para a limpeza do bairro e arredores. “A coleta de lixo funciona como deveria e por isso não vemos acúmulos nas ruas como víamos antigamente, corroborando para o entupimento das galerias e por consequência disso alagamentos”, afirma a moradora do bairro há 48 anos.
O Cemitério da Consolação também teve seis de suas ruas revitalizadas pela Prefeitura, com retirada total do concreto antigo e danificado, e substituição por nova concretagem. “O intuito é para melhorias aos visitantes, que somam mais de mil em outras épocas do ano e na de Finados. Temos zelado diariamente por esses espaços tão importantes para a memória de famílias sorocabanas”, afirma o secretário da Serpo Darwin de Almeida.