Sorocaba quer reduzir captação de água de 80% para 20% em Itupararanga

A medida será possível por conta de uma série de ações que serão executadas, por meio do novo Plano Diretor de Água de Sorocaba; investimento total é de R$ 200 milhões

Por Ana Claudia Martins

Anúncio do novo Plano Diretor de Água de Sorocaba

Sorocaba quer reduzir os atuais 80% a 85% de captação de água da represa de Itupararanga, para o abastecimento da cidade, para até 20%, dentro de cinco a 10 anos, com uma maior participação do Rio Sorocaba no processo. Atualmente, o reservatório é o principal manancial que abastece a cidade.

Conforme a proposta, o objetivo é fazer a captação de água diretamente do Rio Sorocaba, e não mais da própria represa, diminuindo assim a distância dos atuais 15 quilômetros para um, para a captação de água direto do reservatório. Além disso, com a mudança, não haveria mais o risco de acidentes nas adutoras que trazem a água de Itupararanga para a cidade, como os casos que já ocorreram e afetaram o abastecimento na cidade.

Lembrando que o Rio Sorocaba continuará a receber água do reservatório de Itupararanga normalmente. O anúncio foi feito no início da tarde desta sexta-feira (14), durante entrevista coletiva no sexto andar do Paço Municipal.

No entanto, para que a medida de fato possa ser adotada, serão necessárias cinco principais obras e ações, que fazem parte do Novo Plano Diretor de Água de Sorocaba, que está sendo finalizado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba. O valor total das obras é de R$ 200 milhões, com previsão de início no ano que vem.

Segundo o diretor-geral do Saae Sorocaba, Tiago Suckow, o novo plano prevê a construção de uma nova Estação de Tratamento (ETA), com quatro sistemas de produção, provavelmente na zona leste da cidade, na divisa com Votorantim. O local exato ainda não foi definido. Outra ação é a diminuição da dependência de Itupararanga e da ETA do Cerrado, a interligação entre os centros de distribuição e ampliação de mais seis reservatórios, a continuidade do Programa de Redução de Perdas, e a implantação de Sistema de Reuso, com foco na indústria.

Ainda conforme o Saae, atualmente o abastecimento de água na cidade funciona da seguinte maneira: entre 80% a 85% da água vindo da represa de Itupararanga via ETA do Cerrado, que possui adutoras construídas no ano de 1938. Além disso, atualmente também fazem parte do processo a ETA do Éden, que representa até 10% do abastecimento, por meio das represas Ferraz e Castelinho, a ETA Vitória Régia, que significa entre 15% a 30%, com captação de água 100% do Rio Sorocaba, e ainda poços semi-artesianos, que representam menos de 1% do abastecimento de água da cidade. Já a captação de água da represa de Ipaneminha estava suspensa por causa de problemas apresentados no local.

De acordo com o Saae, com o novo Plano Diretor de Água de Sorocaba, a captação e o abastecimento de água na cidade ficará da seguinte forma: em um cenário de 2 a 3 anos, ETA Cerrado responsável por 50%, a ETA Vitória Régia 15% a 30%, com 100% da captação de água do Rio Sorocaba. ETA Éden 5% a 10% (represas Ferraz e Castelinho), poços semi-artesianos menos de 1%, e a novidade a ETA IV Zona Leste, que deverá ser construída, entre 15% a 20%, com captação de água também 100% do Rio Sorocaba.

Já a longo prazo, daqui a 5 a 10 anos, a previsão do novo plano é que a composição do novo sistema funcione da seguinte forma: ETA Cerrado baixando de 50% para 20%, ETA Vitória Régia subindo para 30% a 50% do abastecimento, por conta de sua ampliação, e a ETA IV Zona Leste aumentando o abastecimento entre 20% a 30%, além de 3% a 5% de água de reuso, e a ETA Éden permanecendo com entre 5% a 10%, por meio das represas Ferraz e Castelinho.

Vantagens do novo modelo

O diretor-geral do Saae Sorocaba, Tiago Suckow, afirma que as vantagens do novo modelo são: menor dependência da ETA Cerrado (Itupararanga), raio de atendimento mais colaborativo para distribuição de água na zona leste da cidade, redução de custos de energia elétrica para tratamento, adução e distribuição de água, e potencial de ampliação e capacidade de tratamento com tecnologia avançada.

Além disso, ele cita ainda que a nova ETA (Zona Leste) terá tratamento avançado, com sistema de ozônio e captação com tomada de água direto do Rio Sorocaba (porcentagem de abastecimento de aproximadamente 20%), e capacidade de tratamento de 500 litros por segundo.

“A mudança também trará melhor controle de vazamentos, desde a tomada de água até as estações de tratamento, diminuição da dependência da ETA Cerrado, que é um sistema com alto custo operacional, manutenção de redes e ramais antigos, além da interligação entre os centros de distribuição, e a ampliação de mais seis reservatórios”, aponta Suckow.

O valor total das obras previstas é de R$ 200 milhões e parte dos recursos dependerá de aprovação da Câmara de Sorocaba, visto que a Prefeitura de Sorocaba pretende emprestar dinheiro para concluir o projeto.

Conforme o Saae, os recursos seriam utilizados da seguinte forma: R$ 120 milhões para a construção da nova ETA IV (Zona Leste) e mais R$ 30 milhões para a captação, mais R$ 20 milhões para as interligações dos centros de distribuição e reservatórios, e R$ 30 milhões para o programa de perdas.

Preservação do Rio Sorocaba

O diretor-geral do Saae Sorocaba, Tiago Suckow, e prefeito Rodrigo Manga foram questionados sobre a preservação do Rio Sorocaba e a quantidade de água que será captada do local para o abastecimento da cidade. Lembrando que a captação de água do rio é controlada pelo governo estadual, que define uma quantidade que o município pode retirar do rio para o abastecimento da cidade.

Segundo eles, o novo Plano Diretor de Água foi elaborado já prevendo a quantidade de água que o governo estadual permite que seja captada do rio, e que o Rio Sorocaba continuará sendo preservado. Não foi informado qual é atualmente o limite da captação de água do rio que é autorizado pelo governo estadual.

Crise hídrica

Lembrando que no ano passado a represa de Itupararanga chegou a menos de 20% de seu volume útil de água, enfrentando sua pior seca dos últimos 96 anos. E no início de 2022 Sorocaba passou por um racionamento de água para ajudar na recuperação do reservatório, que alcançou 50% em abril deste ano. Porém, no mês passado, o volume útil do reservatório voltou a baixar para menos de 40%. (Ana Claudia Martins)