Lar Casa Bela conta, agora, com as famílias acolhedoras

Programa atende crianças de 0 a 6 anos encaminhadas pelo Poder Judiciário

Por Vinicius Camargo

Família acolhedora passa a ser uma referência para crianças que precisaram deixar a sua origem temporariamente

O Lar Casa Bela, entidade social de Sorocaba, ampliou as suas atividades e, agora, também oferece o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA). Antes, a Organização Não Governamental (ONG) realizava somente com o acolhimento institucional. Essa iniciativa consiste na disponibilização de abrigo temporário, na própria instituição, para bebês, crianças e adolescentes retirados de suas famílias pela Justiça ou pelo Conselho Tutelar. No SFA, os atendidos são encaminhados para famílias voluntárias.

Fundada há 10 anos, a entidade conta com o acolhimento institucional, chamado de casa lar, há oito. Nesse período, já abrigou 117 crianças e adolescentes. Hoje, cuida de dez, sua capacidade máxima. Pensando no bem-estar dos atendidos, o Lar decidiu, em 2015, iniciar os trâmites para implementar, igualmente, a modalidade família acolhedora.

Em 2021, um aporte financeiro de uma pessoa física ajudou viabilizá-la. Após a formação da equipe e a resolução de todas as outras questões relativas a esse trabalho, a implantação ocorreu, efetivamente, em setembro deste ano. O programa é desenvolvido em parceria com a Secretaria da Cidadania (Secid) de Sorocaba.

Segundo Isabela Nardi, coordenadora técnica do serviço, o SFA também garante abrigo a menores de idade afastados das famílias por violência, negligência ou abandono. Porém, eles não ficam na instituição, e, sim, sob os cuidados de famílias interessadas em acolhê-los. Outra diferença é que o novo programa atende apenas crianças de 0 a 6 anos encaminhadas pelo Poder Judiciário e pela Secid.

O assistido permanece na casa acolhedora até a Justiça determinar o seu retorno à família de origem ou condução para abrigo. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o tempo não pode exceder 18 meses.

De acordo com Isabela, nesse período, os responsáveis devem conferir aos tutorandos todos os recursos necessários para uma boa criação e desenvolvimento. Os tutores recebem até mesmo a guarda provisória da criança. Durante esse processo, a equipe técnica da instituição acompanha o atendido e a família, para averiguar se as regras estão sendo cumpridas.

A representante da entidade citou que o lar temporário é, inclusive, um direito das crianças e adolescentes garantido por lei. “Está instituído no ECA”, disse. A legislação trata essa modalidade como prioritária. Isto é, se a organização social é adepta desse serviço, deve sempre ofertá-lo em primeiro lugar, em detrimento do acolhimento institucional.

Segundo Isabela, a ciência mostra que o acolhimento familiar é mais benéfico para o desenvolvimento integral e saúde da criança, quando comparado com o institucional. O contato das crianças com os responsáveis temporários é igualmente fundamental para moldar o caráter delas enquanto cidadãs. Isso porque as famílias tornam-se suas fontes de referência e ensinamento.

Além disso, só o fato de construírem relações profundas as ajuda a lidar com o trauma de terem sido retiradas de seus núcleos originais. “Essa vinculação no espaço familiar proporciona maior segurança, para que as crianças possam ampliar os seus vínculos, investir em relações saudáveis com outras pessoas de referencial”, disse.

“A família vai ser um agente de transformação na vida dessa criança, no período de maior dificuldade da vida dela, que é quando precisa ser afastada da família de origem. E o resultado disso é para sempre, porque a família acolhedora passa a ser uma referência para ela”, completou. (Vinicius Camargo)

 

Programa ajuda a mudar a realidade das crianças

O serviço já tem sete famílias de Sorocaba em processo de habilitação. Uma delas é a da supervisora Adriana Alves Pereira. Natural do Paraná, ela ingressou no programa naquele estado, em 2016. Decidiu fazer parte do projeto por gostar de crianças e ter o desejo de ajudar o próximo. Além disso, devido a um problema de saúde da filha, parou de trabalhar. Assim, passou a utilizar o tempo livre para auxiliar crianças em situação de vulnerabilidade.

Até 2020, quando deixou o sul e veio morar em Sorocaba, Adriana e o marido, o operador de máquina Lauro da Conceição Ribeiro, acolheram várias crianças. Assim que chegou à nova casa, o casal procurou, imediatamente, a iniciativa no município. Contudo, ainda não havia.

Até que, no mês passado, o Lar Casa Bela iniciou a modalidade, e eles não pensaram duas vezes em se inscrever. Agora, aguardam o término do seu processo de capacitação, para, finalmente, iniciar os acolhimentos.

“Cada um pode fazer um pouquinho para ajudar, porque a criança é totalmente indefesa e não tem noção da situação em que ela vive ou está. Não custa para ninguém estender a mão e ajudá-la no período em que ela mais necessita”, disse.

Mãe de dois filhos -- um de 7 anos e outro de 8, -- Adriana sabe da importância de oferecer às crianças uma vida digna. Para ela, mais pessoas deveriam aderir ao serviço e, assim, contribuir para amenizar o sofrimento e transformar a realidade de quem mais precisa.

“Todos já fomos crianças e nem sempre recebemos aquilo que devíamos receber. Então, hoje, como adultos, tendo filhos ou não, por que não proporcionar a uma criança o melhor que você consegue?”, enfatizou.

Segundo Adriana, as famílias acolhedoras contribuem para dar às crianças a oportunidade de terem um futuro e uma realidade melhores. Isto é, transformam a vida delas. E essa é a maior recompensa. “A importância maior é poder dar a oportunidade da criança aprender e ver que existe outra forma de vida. Isso é dar a chance para essa criança crescer com outra visão de mundo e de família, principalmente”, destacou.

Para participar, é preciso entrar em contato com o Lar Casa Bela, pelo telefone (15) 99114-0046, ou pelo perfil da entidade no Instagram (@lar_casabela). O candidato deve ser maior de 21 anos, morar em Sorocaba há, pelo menos, um ano, e não ter antecedentes criminais.

Um ponto importante é que o interessado também não pode estar habilitado no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), ou ter interesse em adotar uma criança. Conforme ressalta Isabela Nardi, o serviço não trata-se de uma forma de adoção, nem é um caminho para isso.

Inicialmente, o potencial acolhedor participa de uma palestra informativa, na qual é explicado o funcionamento do programa. Caso se interesse, passa, em seguida, por um processo de formação e avaliação psicossocial, com a equipe da ONG. Após essa etapa, se cumprir todos os requisitos e for considerado apto, é habilitado a iniciar os acolhimentos. (Vinicius Camargo)