Ícones contam a história e marcam a paisagem de Sorocaba

Conheça as características, os detalhes e a importância de prédios, monumentos e esculturas da cidade

Por Vanessa Ferranti

Estação ferroviária é do século XIX: em concreto e aço

 

Valmir Pataro, de 47 anos, acorda todos os dias de manhã e sai para caminhar. O local escolhido pelo profissional de logística, morador do Iporanga 2, é o Paço Municipal, por ser uma área plana, agradável e próxima de sua casa. Pataro conta que não conhece muitos pontos de Sorocaba, mas o parque do Paço faz questão de visitar, pois além desses benefícios, o local conta com duas construções que chamam a sua atenção. “O prédio da Prefeitura é um prédio diferenciado. O da biblioteca também. Olhando do chão, não conseguimos ver muito bem, mas por cima, ele tem o formato de um livro aberto. É um design bem interessante, inclusive, as diversas cores chamam atenção”.

Os prédios citados por Valmir são o Palácio dos Tropeiros, projeto arquitetônico concebido pelo paulistano Luiz Arthur Guimarães Navarrete e sede do Poder Executivo de Sorocaba; e a Biblioteca Municipal “Jorge Guilherme Senger”, a maior da cidade com 3.000 m² de construção, ambos considerados símbolos de Sorocaba. Esses são apenas dois dos dezenas de ícones que o município abriga, entre eles, monumentos históricos, obras de arte e bustos de personalidades espalhados por todos os cantos. Juntos, contam homenageiam personalidades ou lembram passagens importantes da história da cidade, desde a sua formação, com as feiras de muares, passando pelas transformações e chegando até os dias atuais, com o avanço da tecnologia.

Para conhecer e aprender mais sobre a história de Sorocaba, basta passear um pouco pelas ruas da cidade. Assim, é possível entender os períodos que cada um de seus prédios foram construídos e sua arquitetura. De acordo com Tiago da Guia, secretário municipal da Habitação e professor de arquitetura na Universidade de Sorocaba (Uniso), o Centro é um dos lugares onde as memórias antigas ainda se mantém presentes. O local é o berço da cidade. Mas também é possível enxergar estilos distintos construídos em séculos diferentes.

O Mosteiro de São Bento e a Estação Ferroviária de Sorocaba são bons exemplos. As construções, que ficam a aproximadamente 1,5 quilômetros de distância uma da outra, são dois dos principais ícones da cidade e foram feitas em um intervalo de cerca de 200 anos, já que o Mosteiro é do século XVII e a Estação do século XIX. Os monumentos também se diferem pelo material utilizado. O prédio mais antigo foi construído em taipa. Já o da Sorocabana, em aço e concreto, é do período pós-revolução industrial.

Outro símbolo imponente, que marcou a história da cidade, é o Palacete Scarpa, erguido na década de 1920. O imóvel, localizado na esquina das ruas Souza Pereira e Doutor Álvaro Soares, foi feito para abrigar o antigo Banco União. Foi o primeiro prédio da região com três pavimentos a possuir um elevador, que passou por reformas e funciona até hoje. Atualmente, é sede da Secretaria da Habitação, mas apesar das atividades exercidas no Palacete ter mudado, o seu desenho original continua preservado.

Ainda passeando pela região central encontramos o Mercado Municipal, imóvel ainda mais diferente do que os outros prédios. O patrimônio histórico tem linhas em Art Déco, estilo que surgiu na Europa nos anos de 1920. “Você percebe que o imóvel tem um tipo de arquitetura mais arredondada, com alguns detalhes que mostram esse tipo de manifestação”, explica Tiago da Guia.

“Aranha”

Mas, além dos prédios mais tradicionais, pensados e construídos para ser estabelecimentos empresariais, Sorocaba conta também com outros mais incomuns. Quem nunca viu ou já ouviu falar da “Aranha do Vergueiro?”. A obra inacabada do que seria o Santuário de São Lucas, igreja dedicada ao padroeiro dos médicos, mas nunca acabada, tem 20 metros de altura e foi feita de concreto e vergalhões. A pedra fundamental do santuário foi instalada em 18 de outubro de 1959. Assim, curiosamente, a estrutura apelidada pelos sorocabanos de “Aranha do Vergueiro” virou um dos cartões postais da cidade.

O arquiteto especialista em restauro e intervenção do patrimônio histórico e presidente do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), Alberto Streb, explica que existem monumentos símbolos e os históricos. Os monumentos símbolos são aqueles pensados e criados pelas pessoas para, por exemplo, fazer uma homenagem a alguém ou simbolizar um marco na história. Já os históricos, como o nome diz, são aqueles que a própria história cria. “O busto de Armando Pannunzio, na avenida de mesmo nome, é um monumento que representa um período histórico para Sorocaba. Assim, como na marginal tem a “Mãe Preta”. É uma homenagem às importantes mulheres negras. Outra coisa são os monumentos históricos. A capela João de Camargo é um monumento que não foi feito por órgão governamental, mas que a própria população e fiéis criaram e virou marco histórico”, explica.

Além desses ícones, Sorocaba tem ainda manifestações artísticas que chamam atenção dos moradores e visitantes da cidade. Uma delas é a obra “Criador e Criatura”, instalada em janeiro de 2012 no Parque das Águas. A escultura vermelha em formato de arcos pode ser visualizada de longe. Feita de aço, ela tem 12 metros de diâmetro e pesa 76 toneladas.

Já na avenida Dom Aguirre, em frente ao terminal São Paulo, está a “Bicicleta”, obra do artista plástico Gilberto Salvador, inaugurada em setembro de 2014. “Temos as obras de artes que vem compondo sorocabana nos último 15, 20 anos. A ação que fica em frente ao terminal São Paulo mostra a relação das ciclovias com Sorocaba, que acabou se tonando um marco da cidade. Eu já participei de palestras em outras cidades, São Paulo, até em Belo Horizonte, onde Sorocaba se torna um símbolo de ciclovias e de parques”, ressaltou Tiago da Guia.

Parques, vias e edifícios

Sorocaba é uma cidade em desenvolvimento e com o passar dos anos novas formas de ícones vão surgindo no decorrer da história. Como citado pelo secretário da Habitação, Tiago da Guia, os parques se tornaram símbolos de Sorocaba e são uma marca da cidade. Já o presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Alberto Streb, cita a avenida Itavuvu como um ícone da zona norte e ressalta a importância da rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho, para o crescimento da cidade. “Os grandes momentos tem a ver com interligação, Castelinho foi uma grande conquista para Sorocaba porque nos aproximou de São Paulo e trouxe desenvolvimento”, disse.

E com desenvolvimento populacional aumentando -- de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sorocaba teve em 2021 a população estimada em 695.328 pessoas --, os imóveis, muitas vezes construídos na horizontal, passam a ser feitos na vertical para ocupar menos território. O Edifício Antares, mais conhecido como “Pirâmide”, foi construído em 1986. Quase quatro décadas depois, tem ar de moderno e é um dos mais famosos na cidade. Agora, na atualidade, um novo símbolo deve surgir, dessa vez, no Jardim Faculdade, região do parque Campolim. Segundo a construtora responsável, trata-se do prédio mais alto de uma cidade do interior no Brasil, com mais de 140 metros de altura.

O publicitário Vanderlei Testa lembra que, muitas vezes, a transformação de imóveis em ícones é algo que ocorre de forma involuntária. “Quando um artista ou profissional que projeta uma escultura ou marco histórico, como estátua ou um edifício, como está sendo construído em Sorocaba, eles não imaginam que poderão estar produzindo uma peça símbolo e marca de referência da cidade ou País. É o caso da Torre Eiffel em Paris e o Portão de Brandemburgo, sem dúvidas, um dos maiores símbolos da Alemanha. Sua origem vem do século XVIII, quando este era uma das portas de acesso à cidade de Berlim, que na época era protegida por antigas muralhas. Exemplos sólidos entre outros ícones mundiais”, explica o publicitário. (Vanessa Ferranti)