Candidatos veem irregularidade em concurso

Inscritos alegam favorecimentos em teste físico de processo seletivo; empresa organizadora rebate acusações

Por Vinicius Camargo

O concurso é para a Guarda Civil Municipal de Salto de Pirapora

Uma suposta conduta inadequada de avaliadores durante o Teste de Aptidão Física (TAF) do concurso público para ingresso na Guarda Civil Municipal (GCM) de Salto de Pirapora teria interferido na classificação dos candidatos. A afirmação é de, pelo menos, dois participantes que dizem ter sido prejudicados. Questionada, a empresa organizadora do processo seletivo, SH Dias Consultoria e Assessoria, negou ter havido qualquer irregularidade: “Não houve registro de nenhuma ocorrência quanto a isso. Os profissionais são altamente qualificados e capacitados para realizar esse tipo de atividade”, informou, em nota.

O TAF ocorreu no último domingo (12), na área esportiva Walter Benedetti Rosa, no Jardim Áurea. Os reclamantes alegam que a banca julgadora da SH Dias teria computado exercícios e repetições errados. Com isso, mesmo com irregularidades, alguns candidatos teriam sido aprovados. Já outros, apesar do desempenho correto em todas as atividades, não teriam passado.

Aspirante a uma das 15 vagas, a gerente de negócios Aline Prudente de Medeiros, de 31 anos, conta que a primeira etapa -- uma prova teórica -- ocorreu sem problemas. Segundo ela, aproximadamente 850 candidatos participaram, e os 100 com as melhores pontuações, considerando a nota de corte, avançaram para o TAF. As supostas irregularidades teriam ocorrido nesse estágio, quando, segundo a participante, do total de aprovados, 67 compareceram aos testes físicos. A empresa, por sua vez, confirma 100 candidatos, sendo 19 femininos e 81 masculinos.

As mulheres precisaram fazer abdominal remador, corrida de 200 metros e polichinelo. Conforme Aline, nas abdominais, por exemplo, é obrigatória a colocação das mãos no chão, mas candidatas teriam desrespeitado essa regra. Mesmo assim, funcionários da SH teriam permitido a prática “incorreta” e computado os movimentos imprecisos. “De qualquer jeito que (a candidata) fazia, eles contavam”, falou.

Para Aline, outro problema foi o fato de a empresa não ter gravado os testes, como ocorreu em outros certames dos quais já participou. A organizadora também teria proibido os participantes de registrá-los e permitido apenas gravações por terceiros, na área externa. Aline diz que GCMs realizaram a segurança do local, mas não acompanharam as atividades. Dessa forma, segundo ela, todos ficaram sem provas das inconsistências.

Por isso, considerou o TAF injusto e sem transparência. “O concurso tem que ser honesto. Eu nunca fui a um TAF desse jeito. Ele é gravado e, se (o avaliado) mexe um pouquinho as pernas, já não pontua”, comentou. “O TAF tem que ser gravado, para o candidato ter contraprova”, completou.

Ainda de acordo com ela, em um caso específico, um homem quebrou mais uma diretriz ao pegar impulso com as pernas para conseguir realizar os movimentos na barra fixa. Contudo, também não teria sido reprovado. Um vídeo que circula em um grupo no WhatsApp criado pelos candidatos o mostra durante a suposta prática irregular.

Aline diz ter se preparado durante meses para o processo seletivo da GCM. Afirma ter obtido os resultados necessários nas provas teórica e prática. No entanto, por conta desse cenário, teme não ser convocada para o teste psicológico. De acordo com ela, a informação é de que 30 candidatos serão chamados. Se isso se confirmar, como ficou na 29º lugar no ranking geral, estará entre eles. Vale ressaltar que o avanço ao terceiro estágio depende da média das notas nos anteriores.

Conforme ela, vários outros candidatos também se empenharam e se saíram bem. Porém, devido ao comportamento dos avaliadores, teriam ficado em baixas colocações. Para ela, esses foram os mais prejudicados. “Quando o candidato consegue trapacear, não é justo com quem se esforçou”, afirma.

O vendedor Bruno Cabrera Teixeira de Souza, 37 anos, corrobora com as acusações. De acordo com ele, das três atividades desempenhadas pelos homens -- abdominal remador, flexão de braços em barra fixa e corrida de 400 metros --, houve descumprimento de regras nas duas primeiras. Relata que viu a banca considerar exercícios errados e até elevar o número de movimentos praticados por participantes. Por isso, questiona a competência dos responsáveis pela função. “Eu acredito que não são avaliadores profissionais.”

Souza diz ter estudado e treinado ao longo de seis meses, tendo conquistado pontuação superior à nota de corte na prova teórica e quase a máxima na física -- segundo ele. Entretanto, figura em 33º na lista, atribuindo a colocação aos possíveis deslizes dos avaliadores. Assim, o seu futuro no concurso é incerto.

“Fiquei triste, chateado com essa situação, porque me empenhei no treino. Eu treinei barra, tiro (corrida) e abdominal quase três horas por dia”, desabafou. Conforme Souza, mais candidatos, inclusive, de outros Estados, como Minas Gerais e Paraná, passaram pela mesma situação. “O pessoal que ficou de 30º para trás vai ficar de fora injustamente”, criticou. “Acredito que eu poderíamos ter ‘pego’ posições melhores, se os avaliadores fossem mais ‘ponta firmes’”, acrescentou.

Ele acusa haver sinais de privilégios no exame. Em busca de providências, protocolou, inclusive, denúncia junto ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP). “Queremos que seja refeito o TAF e que seja igualitário para todo mundo, somente isso”, pontuou. Em nota, o Ministério Público confirmou o recebimento da denúncia pela Promotoria de Justiça de Salto de Pirapora. Segundo o órgão, o caso está em andamento.

Empresa nega

Questionada pela reportagem a respeito, a SH Dias Consultoria e Assessoria detalhou cada exercício solicitado, conforme consta no edital do concurso, e negou ter havido irregularidades. “Não houve registro de nenhuma ocorrência por parte de nenhum candidato no dia da prova/TAF”.

Sobre a capacidade dos avaliadores da empresa organizadora, foi além: “Os avaliadores envolvidos são profissionais altamente qualificados e capacitados para realizar esse tipo de atividade, os quais estão acostumados a esse tipo de avaliação”.

Indagada sobre quantos candidatos foram classificados para a próxima etapa, bem como a pontuação média dos classificados, respondeu: “Estamos em fase de análise de recurso, tem que ser acompanhado no site a publicação (sic)”.

Os candidatos também reclamaram que o exame foi feito individualmente, sem que os outros participantes pudessem acompanhar os concorrentes. Também falaram sobre a proibição de filmar o teste, embora o edital nada mencionasse a respeito disso. A empresa respondeu que “em vista da estrutura, somente os candidatos executantes do exercício puderam acessar a área de teste, sendo que os demais candidatos aguardaram na área de espera, tal qual tinha visibilidade dos exercícios (sic)”. Informou, ainda, que “todos os TAF’s da empresa são filmados e fotografados aleatoriamente pelo fiscal da empresa.”

Segundo a SH Dias, “conforme edital, aparelhos eletrônicos (computadores portáteis, GPS, bips/pagers, telefones celulares, walkmans, MP3 players) deverão ficar totalmente desligados. Desta forma, indiretamente não há previsão de autorização para filmagens pelos candidatos”. E finalizou, afirmando que “contudo, se houve algum ‘paparazzi’ não podemos afirmar, pois não temos responsabilidade pela área externa do local de prova”. (Vinicius Camargo)