Campanha da Fraternidade 2023 chama atenção para a fome no País

Lema "Dai-lhes vós mesmos de comer!", alerta a sociedade sobre o seu papel na solução do problema

Por Vanessa Ferranti

Cerimônia de ontem também marcou o início da Quaresma

A Campanha da Fraternidade 2023 começou nesta quarta-feira (22) com missas em todo o Brasil. Em Sorocaba, a celebração de lançamento da ação, presidida pelo arcebispo da Arquidiocese Metropolitana, dom Julio Endi Akamine, ocorreu ao meio-dia.

Neste ano, o tema abordado pela Igreja Católica é “Fraternidade e Fome”. Já o lema bíblico, extraído de Mateus é: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”.

No âmbito nacional, a cerimônia de abertura da campanha foi presidida pelo secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Joel Portella Amado, às 9h, na sede da organização, em Brasília, e transmitida, ao vivo, por emissoras de televisão de inspiração católica. O dia também foi marcado pelo início da Quaresma.

Durante a missa na catedral de Sorocaba, dom Julio chamou a atenção dos fiéis para o tema da ação. O arcebispo relembrou que, atualmente, 33 milhões de brasileiros estão em situação de fome no País e ressaltou que a Campanha da Fraternidade coincide com a Quaresma -- um tempo de conversão.

“A conversão é sempre pessoal, uma conversão do coração, mas isso não significa dizer que ela não tenha consequências e nem uma expressão social. Se há, de fato, uma conversão pessoal, ela necessariamente tem suas consequências na vida em sociedade, nas relações com as pessoas, portanto, a Quaresma visa a gente, de fato, cair na conta, desse flagelo, dessa vergonha, que é ter pessoas passando fome neste País. Um país que produz tanto, um país que bate recordes de produção agrícola todos os anos. Então, isso nos questiona bastante, ‘nós estamos produzindo para quê? Nós produzimos para o mercado ou nós produzimos para a nutrição?’, isso já é um bom caminho de conversão para todos nós”, explicou.

Santina Grande, de 71 anos, participou da Missa de Cinzas e se emocionou com a fala de dom Julio. A aposentada contou que já passou fome e, sem dúvida, irá ajudar, mais uma vez, a campanha este ano. “Eu sempre ajudo e acho isso muito importante. Eu acredito, que a palavra de Deus hoje tocou no coração de alguém para colaborar com o próximo. Porque é difícil quando chega a hora de almoçar e não tem o que comer. Eu já senti o que essas pessoas passam; isso dói na alma”.

Campanha da Fraternidade

A Campanha da Fraternidade é realizada pela Igreja Católica desde 1964 e a cada ano um tema é abordado com o objetivo de transformar a sociedade. Segundo a CNBB, a ação nasceu por iniciativa de dom Eugênio de Araújo Sales, em Nísia Floresta, Arquidiocese de Natal, no Rio Grande do Norte, como expressão da caridade e da solidariedade em favor da dignidade das pessoas. No Brasil, a Campanha da Fraternidade é um modo de a Igreja celebrar o tempo da Quaresma, com oração, jejum e caridade associado à reflexão e ação sobre um tema específico.

Arrecadação

A Coleta Nacional da Solidariedade, gesto concreto da Campanha da Fraternidade, acontece em todas as comunidades do Brasil, nas missas de Domingo de Ramos, celebradas este ano em 2 de abril. Do total arrecadado, as dioceses enviam 40% ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), gerido pela CNBB, ação responsável pelo atendimento a projetos sociais em todo território brasileiro. A outra parte, 60%, permanece nas dioceses para atender projetos locais, pelos respectivos Fundos Diocesanos de Solidariedade (FDS). O arcebispo da Arquidiocese de Sorocaba explicou que no município a ação funciona da mesma maneira e, inclusive, nesta quinta-feira (23) será publicado um edital para que as entidades beneficentes da arquidiocese recebam uma parte das doações. O documento ficará disponível no site arquidiocesesorocaba.org.br.

As cinzas

Ao final da missa celebrada por dom Julio, os fiéis fizeram uma fila para receber a imposição das cinzas. Conforme o arcebispo, o ato tem raízes no Antigo Testamento e significa um gesto de pesar e de dor, pois é o momento em que o ser humano reconhece que está longe de Deus. “O pecado nos causa dor e nos afasta de Deus, por isso, colocamos as cinzas, para exprimir a nossa dor, porém, uma dor a se lutar, uma dor boa, no sentido de que reconhecemos que precisamos da conversão”.

O arcebispo ressaltou ainda que as cinzas sempre são acompanhadas de uma tradicional exortação, como “convertei-vos e crede no Evangelho” ou “lembra-te que és pó e ao pó as de retornar”. “Então, há também a recordação dessa nossa condição muito precária da nossa vida terrena, já que viemos do pó e ao pó retornamos, por isso, uma exortação para aproveitarmos bem essa vida terrena, no sentido de que nos preparamos para a vida eterna. E, para viver bem essa vida terrena, é necessário viver a fraternidade e a nossa conversão a Deus”. (Vanessa Ferranti)