Há 20 anos, hospital da Unimed Sorocaba realizava o primeiro transplante de fígado

Genil Quinalha Coraio, hoje com 80 anos, lembra, com gratidão, de todo o cuidado médico e do pioneirismo

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Primeiro procedimento foi feito pela equipe chefiada pelo cirurgião de fígado e aparelho digestivo Ben-Hur Ferraz Neto

Há exatos 20 anos, Genil Quinalha Coraio seu deu uma nova chance de viver, como ela mesma diz. No dia 14 de março de 2003, a sorocabana foi a primeira paciente a passar por um transplante de órgão na Unimed Sorocaba. Ela recebeu um novo fígado, sendo este o primeiro procedimento do tipo na cidade. A cirurgia inédita, que completa 20 anos hoje (13), ocorreu no hospital Dr. Miguel Soeiro. Desde então, o Centro de Transplante Hospital Unimed Sorocaba Dr. Miguel Soeiro (Cethus) já realizou 1.771 procedimentos de diversos tipos.

Do total de transplantes, a maior parte foi de córnea (965). Na sequência, vêm os de medula óssea autólogos (359) -- com células-tronco do próprio paciente -- e de fígado (287). Ainda houve 52 de ossos, 48 de medula óssea alogênico (48) -- com células de doador --, 21 de coração, cinco de fígado-rim e quatro de rim intervivos (doador vivo).

Neste ano, o Cethus contabiliza, até o momento, 52 procedimentos. Somente na última semana, quatro transplantes de órgãos foram feitos, dos quais três deles (dois de fígado e um de rim) foram realizados simultaneamente por profissionais do hospital, divididos em três salas cirúrgicas diferentes. Em 2022, foram 195. Inclusive, no ano passado, o hospital bateu seu recorde de transplantes, tendo feito oito em apenas 36 horas. Somente nos 12 primeiros dias de julho, sete pacientes passaram por cirurgias. De toda a rede Unimed, a de Sorocaba é a única que realiza transplantes de órgãos.

Primeiro transplante

O primeiro procedimento foi conduzido por uma equipe chefiada pelo cirurgião de fígado e aparelho digestivo Ben-Hur Ferraz Neto, então à frente do Cethus. Segundo o médico, antes dessa cirurgia, transplantes de fígado não eram realizados em Sorocaba. Ele conta que, em 2003, veio da capital paulista com o objetivo de implementar o serviço na rede pública de saúde da cidade. A iniciativa foi viabilizada por meio de parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde, Ministério da Saúde e a Unimed. À época, o presidente do hospital era o médico oncologista clínico Rodolfo Pinto Machado de Araújo, um dos responsáveis pela instalação da unidade.

Com isso, desde aquele ano, apesar de ser uma rede privada, a Unimed Sorocaba começou a efetuar transplantes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Foi, sem dúvida, uma quebra de paradigmas”, disse Ben-Hur.

Após a implantação do Cethus, a primeira transplantada foi escolhida a partir de uma lista de espera. De acordo com o especialista, naquela época, o chamamento baseava-se na ordem cronológica, e não de prioridade. Assim, como aguardava há mais tempo, Genil Quinalha Coraio, então com 60 anos, foi a primeira a receber um novo fígado no município.

 

O transplante de fígado era a única de chance para Genil Quinalha Coraio continuar viva (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (13/3/2023))

 

Genil, hoje com 80 anos, sofria de cirrose hepática em estágio avançado, causada por uma hepatite C diagnosticada em 2001. Durante algum tempo, fez tratamento, mas o problema não desapareceu. Por isso, a substituição do órgão tornou-se a única alternativa de cura. Como o procedimento não acontecia em Sorocaba, ela entrou na fila para realizá-lo em São Paulo.

Devido à demanda na capital, o tempo de espera era longo. Genil já aguardava há mais de um ano quando a implementação do núcleo da Unimed se concretizou, e ela finalmente foi chamada. Corajosa, não hesitou em se submeter à operação. “Foi o maior presente que Deus podia me dar”, comentou.

A cirurgia

A equipe que fez o procedimento era formada por 25 profissionais, de várias especialidades. A cirurgia durou quase seis horas e tudo ocorreu dentro do esperado. “A cirurgia transcorreu super bem, não houve nenhuma intercorrência. Foi um sucesso”, falou Ben-Hur. Após a operação, Genil permaneceu um mês internada. Depois da alta, passou a levar uma vida normal, não tendo qualquer sequela ou complicação. “Graças a Deus, ao Dr. Ben-Hur e à equipe dele, que fizeram o que podiam por mim, estou aqui, firme e forte. Só tenho a agradecer”, destacou.

Genil acredita ter contribuído, de certa forma, para melhorias na área de transplantes em Sorocaba. Ela se sente lisonjeada por isso e por ter feito parte desse acontecimento pioneiro. “Foi o meu transplante que ajudou os médicos a continuar salvando vidas”. O fato de ter passado por procedimento complexo, sem qualquer adversidade, também é motivo de gratidão. Ela usa o seu exemplo para motivar quem teme o transplante. “Temos de fazer o que tem que ser feito”, finalizou.

Solenidade

Para lembrar a data e homenagear os profissionais, a Unimed Sorocaba realizará uma solenidade na sexta-feira (17), às 19h, na Câmara Municipal de Sorocaba.

Procedimento de 2003 foi decisivo para aperfeiçoamento do hospital

O diretor-presidente da Unimed Sorocaba, médico Gustavo Ribeiro Neves, disse que o primeiro transplante trouxe uma série de aperfeiçoamentos para o hospital. “O hospital foi inaugurado em 1996 e comemorou, recentemente, 27 anos. O programa de transplante se iniciou há 20 anos. Então, fazer transplante, naquela época, foi o primeiro grande salto de melhoria de qualidade técnica do hospital”.

 

Gustavo Neves, diretor-presidente da Unimed Sorocaba, disse que o primeiro transplante ajudou o hospital a ser aperfeiçoar (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (13/3/2023))

 

Segundo ele, por tratar-se de uma cirurgia complexa, exigiu a adequação da estrutura física do centro cirúrgico e da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Além disso, houve o aprimoramento da capacitação dos profissionais para atender aos pacientes durante e depois da cirurgia. “O paciente precisa ser muito bem conduzido no pós-operatório. Os médicos precisam estar preparados para tomar conta do paciente, para não comprometer os resultados do transplante”, explicou.

Gustavo Neves conta que todas essas medidas mostram a complexidade da estrutura do hospital. Isso o tornou apto a continuar com os transplantes de fígado e a iniciar a realização de outros tipos. Posteriormente, essa expertise se estendeu, também, para outras cirurgias e tratamentos complexos. “Esses transplantes, em primeiro lugar, nos ajudaram a melhorar nossa capacidade técnica. Quando isso ocorre, todos os outros pacientes se beneficiam, porque o hospital melhora a sua capacidade de atender a casos mais graves e fica habilitado a cuidar bem de todos os outros casos”, disse.

Ao longo dos anos, a infraestrutura foi sendo refinada cada vez mais. “Hoje, o Centro de Transplante Hospital Unimed Sorocaba Dr. Miguel Soeiro está entre os núcleos com melhores resultados no Estado de São Paulo. Os resultados da Unimed Sorocaba são melhores do que a média do Estado, em termos de sobrevida dos transplantados”, disse Gustavo Neves.

Único que faz transplantes

 

Renato Hidalgo, cirurgião do aparelho digestivo e responsável pelos transplantes de fígado do Cethus (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (13/3/2023))

 

Segundo o cirurgião do aparelho digestivo e responsável pelos transplantes de fígado do Cethus, Renato Hidalgo, o hospital Dr. Miguel Soeiro é o único que ainda efetua transplantes de órgãos em Sorocaba e região. A unidade, completa, é referência nesses procedimentos, especialmente, de fígado, no Estado e no Brasil. “Nós recebemos pacientes de todas as regiões do Estado e até de fora. Tem muita gente do Mato Grosso do Sul, da Bahia que nos procura. Em janeiro, fizemos um transplante de um paciente de Ariquemes, em Rondônia”, disse.

Atualmente, o Cethus assiste ao paciente em todas as etapas do processo, desde o pré-operatório até a sua recuperação. O centro efetua até mesmo a captação de fígados, se necessário, para o próprio hospital, bem como para unidades de todo o País. “Quando aparece um doador de órgãos para o nosso paciente, a (atuação) da nossa equipe vai desde o acionamento dela, passando pela retirada do órgão, transporte, cirurgia e pós-operatório, até que ele (paciente) receba alta”, detalhou.

Conforme Renato Hidalgo, o Cethus dispõe de equipe multidisciplinar para cuidar da saúde do transplantado em todos os aspectos de sua saúde. Mesmo após a alta, os operados seguem com acompanhamento ambulatorial durante a vida toda. “Temos profissionais que atendem de maneira integral ao paciente, que são fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, farmacologistas, assistentes sociais, dentistas e enfermeiros”, disse o médico.

Até hoje

 

Médico anestesiologista Fábio Soeiro, integrante da equipe de transplante desde o primeiro procedimento (crédito: DIVULGAÇÃO)

 

“Um fato interessante a ser destacado diz respeito ao anestesiologista Fábio Soeiro. Ao longo destes 20 anos de transplantes, os profissionais envolvidos nos cuidados dos pacientes foram se alterando, com exceção dele, que desde o primeiro procedimento, realizado em 2003, permaneceu atuando em praticamente todos os transplantes de fígado até os dias atuais”, ressaltou Renato Hildalgo. (Vinicius Camargo)