Abandono da malha ferroviária que corta a cidade traz incômodo
Ao mesmo tempo que se discute a volta do trem de passageiros, o transporte de cargas deixou de ocorrer
A malha ferroviária que cruza Sorocaba está em estado de abandono, o que tem deixado moradores da cidade indignados, principalmente os residentes próximos. Entre as reclamações estão o mato alto e falta de zelo com o patrimônio. Atualmente, a ferrovia está sob os cuidados da empresa Rumo Malha Oeste, que desde janeiro de 2022, com o fim do transporte de celulose, só movimenta veículos de manutenção, usando a linha como acesso. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) afirmou que vai fazer um processo de relicitação para passar a concessão à uma nova empresa. Geralmente, isso ocorre quando a empresa que ganhou a licitação não cumpre os termos do contrato ou é incapaz de fornecer os serviços acordados.
Segundo a ANTT, o prazo para conclusão do processo para relicitação do trecho concedido à Rumo foi prorrogado para 18 de fevereiro de 2025. Para selecionar a nova empresa concessionária será realizado um processo licitatório na modalidade leilão, por concorrência internacional. Ainda de acordo com a agência, a partir da assinatura do segundo termo aditivo ao contrato de concessão, a Rumo deve fazer o levantamento de todos os passivos patrimoniais em virtude da falta de zelo pelos bens concedidos. O valor desses passivos será considerado para fins de indenização à União.
Após isso, com o encerramento, a modelagem do novo contrato em estudo na Superintendência de Concessão da Infraestrutura (Sucon), da ANTT, definirá a destinação dos trechos da malha, inclusive quanto a eventual recuperação, retomada da operação ou mesmo desativação. Desta forma, espera-se que a malha ferroviária seja novamente utilizada para a prestação de serviços de transporte, trazendo benefícios tanto para a população local quanto para a economia da região.
No dia 28 de fevereiro, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou a inclusão da implantação do trem intercidades entre São Paulo e Sorocaba no pacote de projetos de concessões e parcerias público-privadas (PPPs) que está em estudo. No total, são 15 projetos, que representam investimentos que podem ultrapassar os R$ 180 bilhões em todo o Estado.
Do auge à decadência
Luiz Feitosa, de 38 anos, é um apaixonado por trens. Ele cresceu ao lado da malha da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), que foi incorporada à Ferrovia Paulista S/A (Fepasa) em 1971 e permaneceu até 1998. Feitosa disse que a situação de abandono é vista em toda a extensão da ferrovia, do bairro Brigadeiro Tobias até o bairro Jacutinga, cortando toda a Manchester Paulista. Em uma foto registrada em 1990, o cenário é totalmente diferente do atual, a grama está aparada e a ferrovia, bem cuidada.
Feitosa disse que sempre que pode faz a capinagem em volta da margem da linha, que é bem colada à calçada e à uma academia ao ar livre, e lamenta a situação de descaso. “É uma coisa que dói muito para quem viu a linha de passageiros e vê agora como está”. Ele mora próximo ao trecho da ferrovia que liga o Jardim Zulmira à Vila São João e, devido ao desleixo, também sempre procura retirar do local objetos que possam se transformar em focos de dengue.
Além disso, outro problema apontado por Feitosa é a falta de placas e grampos de fixação dos trilhos, por conta dos furtos. “Hoje em dia, as linhas férreas estão sem grampos de fixação e sem as placas. Exemplo disso é o trecho atrás de uma apicultura do Trujilo, perto do Sorocaba Shopping. Olha que absurdo a concessionária subir com esse veículo! Já pensou se descarrilha? É um absurdo! Além de não fazer a capinação, estão andando em uma linha irregular, que pode provocar acidente a qualquer hora. Fico revoltado porque eu vi trem de passageiro passar aqui. Eu vi essa malha ferroviária brilhar”, lamentou Feitosa.
O que diz a Rumo
A concessionária Rumo informou que executa os serviços de roçada e limpeza nas áreas de sua responsabilidade de acordo com um cronograma interno. “Atualmente, a empresa está em fase de contratação de um novo fornecedor para que os serviços sejam executados ainda no primeiro semestre deste ano, em paralelo equipes realizam o controle da vegetação nas áreas administradas pela empresa”, garantiu. (Wilma Antunes)