Impermeabilização é a causa das enchentes

Falta de planejamento, associado a chuvas intensas e crescimento desordenado, favorece os alagamentos urbanos

Por Ana Claudia Martins

Morador da região do Parque das Águas observa a rua onde mora novamente alagada

Para o professor Manuel Enrique Gamero, do curso de Engenharia Ambiental do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Sorocaba), a causa principal dos frequentes alagamentos que ocorreram em Sorocaba nas últimas semanas, em função das chuvas, é a impermeabilização do solo. Com experiência na área de Hidrologia, com ênfase em Planejamento Integrado dos Recursos Hídricos, Gamero explica que a impermeabilização do solo é um problema geral em todas as cidades e que, aliada à falta de planejamento dos municípios, o crescimento urbano desordenado e as chuvas intensas localizadas acabam provocando, em uma área impermeabilizada, os problemas de alagamentos de avenidas -- como tem ocorrido recentemente nas regiões da avenida Dom Aguirre (Praça Lions), Parque das Águas e avenida Afonso Vergueiro.

A impermeabilização é o processo construtivo que tem por objetivo impedir que a água (ou outro fluído) penetre em uma estrutura ou escape dela. “Primeiro, precisamos entender e lembrar que a causa principal é a impermeabilização do solo. É um problema geral em todas as cidades. Lamentavelmente, não houve, no passado, planejamento das cidades. O crescimento urbano foi (e continua sendo) desordenado. Somado a isto, tem-se que, nos meses de verão, ocorrem chuvas intensas localizadas que provocam, todo ano, numa área impermeabilizada, os problemas de alagamentos de avenidas”, ressaltou.

Em relação ao córrego Supiriri, que fica próximo da avenida Afonso Vergueiro e da praça da Bandeira, o professor afirma que aquela área também foi impermeabilizada. “Neste caso, não vejo solução, pois a área do Supiriri foi impermeabilizada, e o córrego canalizado. Desta forma, o curso natural foi alterado. Somando-se a impermeabilização e chuvas intensas, temos os alagamentos nas avenidas. Infelizmente, soluções nestes casos, para a recuperação destas áreas, principalmente centrais, são praticamente inviáveis, visto que projetos desta magnitude requerem custos muito elevados, algo que aqui não funcionaria”, disse Gamero.

Rio Sorocaba e Itupararanga

Em relação aos constantes transbordamentos do rio Sorocaba, o professor Gamero vê relação direta com a represa de Itupararanga. “Sim, neste caso, a relação é direta: rio com mais vazão e chuvas intensas provocam os alagamentos presentes.

Da forma como está sendo mantida a liberação de água na represa, tem provocado um aumento no nível do rio. Somado a isto, quando ocorrem as chuvas intensas, tem provocado os alagamentos destes últimos dias”, afirma.

Sobre os trabalhos de desassoreamento do rio Sorocaba para evitar os transbordamentos, Gamero disse que é a ação é somente paliativa. “É a mesma coisa, chover no molhado. Já é tarde para ter uma solução definitiva, o desassoreamento atual é paliativo. Em dois anos ou mais, voltará à mesma condição atual. Isso porque não houve a manutenção das áreas das nascentes e áreas de preservação permanentes (APP), e nem o planejamento do ordenamento das cidades. Assim, a natureza continuará enviando as chuvas intensas no verão e a cidade continuará a sofrer as consequências disso”, alertou Gamero.

Saae Sorocaba

Questionado a respeito, o Saae Sorocaba informou que, com o passar dos anos, a rede antiga de esgoto que margeia o córrego Supiriri ficou sobrecarregada. “A região da Afonso Vergueiro trata-se de um ‘fundo de vale’ que segue em direção ao rio Sorocaba. Nesse ponto, há um trecho de pouca declividade e que recebe toda a contribuição do Centro e dos bairros Trujillo e adjacências. Neste período chuvoso, identificam-se intensas contribuições pluviais. Com o alto nível do rio, devido à elevada vazão liberada pela represa de Itupararanga, toda essa água fica com a velocidade de escoamento reduzida, causando acúmulo nesses pontos planos que, por sua vez, baixam rapidamente quando as chuvas cessam, demonstrando que o sistema está operacional”, informou.

A autarquia disse, ainda, que já realizou um criterioso levantamento técnico em toda a extensão da galeria do córrego Supiriri até o rio Sorocaba. “No momento, uma equipe de engenharia faz estudo desse levantamento para apresentar as soluções para melhorias nessa rede de drenagem. Há, ainda, o projeto do Reservatório de Detenção de Cheias (RDC) na Vila São João, iniciativa que está em fase de licitação para execução dos trabalhos e que igualmente contribuirá para evitar esses alagamentos”.

O Saae informa ainda que foi concluída neste mês uma obra para melhoria da rede coletora de esgoto localizada na Afonso Vergueiro. Conforme a autarquia, o objetivo foi ampliar a tubulação e prevenir casos de sobrecarga e entupimento. Uma nova rede, de 85 metros de extensão ao longo de um lado da avenida e parte da rua Professor Toledo foi instalada, e serve para interceptar o esgoto coletado na rede antiga e encaminhá-lo direto ao emissário, que passa pela Afonso Vergueiro, com maior vazão”, destaca.

Ainda de acordo com a autarquia, continuam sendo feitas as obras de desassoreamento, para melhorar o escoamento das águas do rio Sorocaba, em conjunto com o governo estadual. “Somente em 2022 foi retirado o volume equivalente a 5 mil caminhões cheios de sedimento do rio. No momento, os trabalhos prosseguem nas proximidades das pontes Radial Norte (região do Jardim Brasilândia) e Pinheiros (junto ao Clube do Idoso), onde já foram retirados mais de 10 mil metros cúbicos (715 caminhões) de um total previsto de 26 mil metros cúbicos (1.800 caminhões). Em janeiro, houve remoção de cerca de 1.200 metros cúbicos de material (100 caminhões) do leito do rio, no ponto localizado na Dom Aguirre e proximidades do entroncamento com a linha férrea e a Usina Cultural”, informou o Saae. Sorocaba. (Ana Claudia Martins)