Saúde mental na escola volta à pauta

Ataque com morte em unidade escolar em São Paulo reacende a discussão sobre o que deve ser feito com urgência

Por Vanessa Ferranti

Na manhã de segunda-feira (27), um aluno de 13 anos entrou na escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, e matou uma professora e feriu outras pessoas

O ataque de um aluno, de 13 anos, em uma escola estadual de São Paulo e que resultou na morte de uma professora e ferimentos em outras pessoas, acendeu a discussão sobre a segurança e saúde mental nas unidades de ensino. O tema ganhou destaque esta semana na mídia e também foi abordado na Câmara dos Deputados, em Brasília. O debate dividiu a opinião dos parlamentares, pois há quem defenda punições mais rigorosas para adolescentes infratores. Já outros acreditam que medidas preventivas sejam a solução.

Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) -- Subsede de Sorocaba e região, a violência ainda é um tema considerado tabu na política pública educacional. “A escola não gosta de falar sobre isso, pois a resposta é sempre culpabilizar os educadores que, por sua vez, se sente acuados. Com profissionais desvalorizados economicamente e socialmente e que são sempre culpabilizados, o silêncio impera”. Na escola, há alunos que vivem ciclos de violência, seja verbal ou física, e reproduzem as atitudes no ambiente educacional. “A escola trabalha com os poucos recursos, ou seja, chama os responsáveis que muitas vezes se colocam contra a escola e a favor do filho, ou encaminha para o Conselho Tutelar, que também não tem condições estruturais de acompanhar e dar os encaminhamentos necessários e, em último caso, transfere o aluno de unidade escolar, mudando o problema de lugar”.

A Secretaria Estadual da Educação (Sedu) garantiu que as escolas da rede estadual de Sorocaba estão atentas aos comportamentos dos estudantes, atuando com a escuta ativa e mediação, buscando solucionar os conflitos identificados. Há campanhas contínuas de prevenção ao bullying e cyberbullying nas unidades, a partir do Plano de Melhoria da Convivência, que inclui as ações voltadas ao tema.

Periodicamente, a equipe Conviva SP -- Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar - promove encontros formativos junto aos coordenadores de organização escolar, com pautas voltadas à promoção da cultura da paz, à valorização da vida e à mediação de conflitos. De acordo com a Sedu, conforme a necessidade, outras entidades são acionadas para atuar em conjunto como o Centro de Atenção Psicosocial (Caps), Conselho Tutelar e Vara da Infância e Juventude. O Conviva realiza visitas nas escolas, orientando cada caso específico e contribuindo com sugestões da melhoria do Plano de Convivência.

A Apeoesp confirma que há campanhas constantes de combate ao bullying nas escolas da região, porém, questiona: “será que são suficientes e eficazes? Sem um combate sistemático a todas as formas de preconceito, as campanhas contra o bullying são superficiais. Esse combate ao preconceito e a todas as formas de violência deve ser uma iniciativa do governo estadual e da Secretaria de Educação”.

O Sindicato reforça, ainda, que a violência é gradativa e, antes de ocorrer uma tragédia, há uma série de violências ocorridas anteriomente. A elaboração de um boletim de ocorrência e a transferência do aluno para outra escola não resolve o problema. Só muda o agressor de lugar. “O agressor está em processo formativo. Então a sociedade, os meios de comunicação, as redes sociais, os representantes políticos, a política pública educacional têm responsabilidade na formação do agressor. A escola não é um lugar onde tudo pode, onde todos podem mandar, onde os pais e os responsáveis culpabilizam os educadores por tentar colocar limite nas interações dos educandos. Retirar a autoridade dos educadores no processo formativo dos educandos é um equívoco que tem ocorrido constantemente”. A Apeoesp acredita que a Secretaria de Segurança Pública só deve ser acionada se for identificado o porte de armas.

O ataque

Na manhã de segunda-feira (27), a escola estadual Thomazia Montoro, localizada na Vila Sônia, em São Paulo, foi alvo de um ataque provocado por um adolescente de 13 anos. A professora Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, morreu após ser esfaqueada pelo aluno.

Outros três professores e um estudante ficaram feridos no ataque. Um aluno também foi atendido em estado de choque. Todos eles já receberam alta. A unidade escolar permanece fechada.

Novos casos

Após o ataque em São Paulo, dois casos de estudantes tentando entrar em escolas com armas foram registrados no País esta semana. Na terça-feira (28), um aluno de 15 anos da escola municipal Manoel Cícero, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, tentou golpear com uma faca outros estudantes dentro da unidade de ensino. De acordo com a Polícia Militar, o aluno foi contido por funcionários da unidade. Nesta ação, o agressor se feriu na cabeça, sem gravidade, e foi levado pelos policiais militares ao hospital. Também na terça-feira (28), um estudante tentou entrar com arma de fogo e atacar na escola estadual Nelson Pizzotti Mendes, em Santo André, no ABC Paulista. Ele foi contido pela equipe escolar.

Ações

Para conter o problema de violência nas escolas do Estado, o governo paulista anunciou algumas ações. Na área da educação, o secretário Renato Feder disse que planeja contratar 150 mil horas de atendimento psicológico e psicopedagogo para as escolas estaduais.

Já na área de segurança, o secretário Guilherme Derrite informou que o governo prevê ampliar programas já existentes. “O que nos cabe agora é intensificar os programas que já existem como o de ronda escolar e o programa de vizinhança solidária escolar”, disse ele. (Vanessa Ferranti, com informações da Agência Brasil)