Professora descobre que tem autismo aos 50 anos

Dia Mundial e Nacional de Conscientização do Autismo e Pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA), é lembrado hoje (2)

Por Thaís Marcolino

Diagnosticada erroneamente aos 15 anos, Silmara dedica parte do seu tempo à conscientização dos colegas de trabalho a identificar o problema nos seus alunos o mais cedo possível

Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007 e instituído no Brasil pela Lei 13.652/2018, o Dia Mundial e Nacional de Conscientização do Autismo e Pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA), é lembrado hoje (2). A data tem como objetivo difundir informações para a população sobre o autismo e assim, reduzir a discriminação e o preconceito que cercam que apresenta o transtorno.

Uma das pessoas que trabalham na causa, principalmente no âmbito da educação, é a Silmara Lopes, de 53 anos. Atuando na rede estadual de ensino como supervisora, na pasta da educação especial, desde 2011 em Sorocaba, a profissional só descobriu que tem a Síndrome de Asperger - -transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com eficiência, e que está inserido no TEA -- há três anos.

Isso aconteceu devido à falta de diagnóstico e exames. Aos 15 anos foi diagnosticada com depressão. Desde então, tem se tratado com remédios, principalmente contra a insônia, uma das características típicas da síndrome. Outros sintomas que também apresentava, e, às vezes ainda tem, principalmente em momentos de grande ansiedade, são pequenos surtos, movimentos repetitivos e o hábito de andar de um lado para outro.

Silmara diz que desde criança já se sentia diferente. Não gostava de brincar com os brinquedos na sua funcionalidade principal. Por exemplo: em vez de pentear as bonecas, as colocava empilhadas na horizontal; se incomoda quanto tem muitas pessoas por perto; o cansaço era (e é) algo bem forte, entre outros. Apesar de todas as dificuldades, a tatuiense não se abalou e se desenvolveu, principalmente na área acadêmica. Nunca ficou de recuperação na escola, fez faculdade, doutorado.

“A data é de extrema importância. Seria muito bom que não precisasse, mas se torna boa para quem não tem o transtorno nos enxergar. Na verdade, o que traz o preconceito é a falta de conhecimento e interesse das pessoas. Muitos acham que com o diagnóstico de autismo vou querer vantagens, e é óbvio que não, os autistas querem oportunidades e respeito acima de tudo, independente do nível que ele tenha”, disse Silmara.

E para mostrar o mundo da deficiência e partilhar conhecimento, sobretudo do autismo, a supervisora de ensino está produzindo um livro em parceria com outras sete pessoas. Como não está finalizado, seu título provisório é “Autismo na educação”. Em um dos capítulos, o texto relatará o processo e a convivência em sociedade, os desafios e o que pode ser feito perante a sociedade para que a inclusão seja mais eficaz. “A sociedade desconhece muito o tema autismo, os níveis e a característica de cada um. É entender como nós agimos. Nós somos diferentes e vemos o mundo diferente, mas não vivemos num outro mundo, vivemos, sentimos e reagimos de maneira diferente à esse mundo”, explicou.

O autismo

Apesar dos avanços nos sistemas de diagnóstico e de informação sobre o tema, há muito o que se fazer, a começar pela estatística. No Brasil, estima-se que existem 2 milhões de pessoas com TEA. Mas esse número é incerto e precisa ser oficializado pelo Estado. Para isso foi sancionada, em 2019, a Lei 13.861 que obriga o IBGE a perguntar sobre o autismo no censo populacional. Com isso, é possível saber quantas pessoas no Brasil apresentam o transtorno e como os diagnósticos estão distribuídos pelas regiões brasileiras.

Por isso que é necessário prestar atenção os hábitos. Entre os sintomas de autismo estão a demora ou incapacidade para desenvolver a fala; dificuldade de manter contato visual; movimentos repetitivos; alteração nas funções motoras; preferência por determinadas comidas e a dificuldade de concentração. Quando se observa tais sintomas é essencial buscar auxílio médico.

Geralmente, o diagnóstico e o tratamento são feitos por uma equipe interdisciplinar, que inclui o psicólogo. “Quanto antes começa a tratar, maiores são as chances de evitar o medicamento. Se não tratado no tempo certo, pode acarretar outras comorbidades. Em algumas situações, apenas a teoria não oferece a resposta. É aí que entra a equipe interdisciplinar”, explica a psicóloga e psicanalista Vanessa Bifano.

“É um transtorno como outro qualquer, e as pessoas precisam entender, aprender e ter empatia para auxiliar a quem tem o transtorno e também a família”, complementa Vanessa. (Thaís Marcolino)