K9 é mais nociva do que maconha, diz biomédico
Clandestina e sem controle, droga sintética contém moléculas modificadas que causam problemas físicos e mentais
A droga K9, uma espécie de maconha sintética, é mais danosa ao organismo do que a planta seca. A afirmação é do biomédico doutor em toxicologia e perito judicial Éric Diego Barioni. Recentemente, o entorpecente começou a se espalhar na capital paulista e também já chegou a Sorocaba. Na semana passada, duas mulheres, ambas de 39 anos, admitiram ser usuárias e aceitaram ser internadas para tratamento.
Segundo Barioni, a K9, chamada, igualmente, de supermaconha, K2, Spice, dentre outros nomes, é um canabinoide sintético. Essas substâncias imitam os efeitos do delta-9-tetrahidrocanabinol (TCH), a molécula psicoativa da maconha. A fabricação e o comércio ilegal dessas substâncias, informa o especialista, tiveram início em 2004. Antes disso, inicialmente, havia produção para utilização em estudos farmacológicos sobre mecanismos de ação e função de receptores canabinoides. “Porém, de algum modo, elas passaram a ser produzidas clandestinamente e utilizadas de forma recreacional, como drogas de abuso”, disse.
Barioni explica que o entorpecente é comercializado em embalagens para sais de banho, fertilizantes e até incensos, trazendo a informação "imprópria para o consumo humano" para desviar a atenção das autoridades (crédito: DIVULGAÇÃO)
Essa nova droga, explica Barioni, assim como a maconha, ativa os receptores canabinoides nos sistemas nervoso central e periférico. A diferença é que “os efeitos são muito mais intensos, inesperados e nocivos à saúde, colocando em risco a vida do usuário”, destacou. Isso porque, de acordo com o biomédico, a quantidade de substâncias que imitam o THC é muito maior na K9 do que na própria maconha. Além disso, os laboratórios clandestinos trabalham modificando a estrutura das moléculas dos canabinoides, tornando-as ainda mais tóxicas, conforme ele.
De acordo com Barioni, essas substâncias sintéticas, tóxicas por si só, ainda são misturadas com diversos outros elementos nocivos, elevando a toxicidade. Os mais comuns são matérias vegetais, como plantas de variados tipos e galhos, além de vitaminas, ácidos graxos, conservantes, dentre outras. “Como é um produto sintético e sem controle de qualidade no seu preparo, não se sabe o que tem nele”, pontuou.
Esses compostos, conforme Barioni, quando fumados ou ingeridos pela via oral -- duas formas de uso do entorpecente --, podem causar diversos problemas. Os sintomas variam de acordo com a composição da droga. Mas, geralmente, os usuários apresentam sintomas neurológicos, como psicose, convulsões, ansiedade, agitação, irritabilidade, mudanças na memória, sedação e confusão mental. Reações cardiotóxicas, a exemplo de aceleração do ritmo do coração, taquicardia e dor no peito, também podem ocorrer. A lista inclui, igualmente, quadros gastrointestinais, a exemplo de náusea, vômito e alterações no apetite. “Também pode, como qualquer outra droga, induzir à tolerância e à dependência”, alertou.
Embalagem disfarçada
Para Éric Barioni, a disseminação da K9 está relacionada, principalmente, à produção em larga escala, preço baixo e fácil acesso. Conforme ele, é possível comprá-la pela internet, e há de se fiscalizar a provável venda ilegal em tabacarias, conveniências de postos de combustíveis, entre outros locais. “Ela é comercializada em embalagens para sais de banho, fertilizantes e incensos”, citou. “Essas embalagens contêm, muitas vezes, a informação imprópria para o consumo humano, ou utilize como incenso, ou somente para aromaterapia. Essas frases visam desviar a atenção das autoridades de um produto que, aparentemente, é inócuo, mas que as pessoas têm utilizado para obter os efeitos da maconha”, emendou.
Nesse sentido, ele aponta o fato de usuários e laboratórios clandestinos conseguirem burlar a legislação como outra causa da difusão. Conforme Barioni, há uma gama de substâncias sintéticas proibidas no Brasil, incluindo as suas variações. Dessa forma, produzir, vender e portar esses elementos são considerados crimes. Contudo, como os produtores mudam a composição dos entorpecentes frequentemente, surgem novas versões não incluídas nessa relação, ao menos por enquanto. Assim, a aplicação de punições aos que portam e, possivelmente, produzem ou comercializam os entorpecentes esbarra nesse ponto. “A substância até será apreendida, mas o indivíduo que foi pego (com ela), não”, comentou. (Vinicius Camargo)