Distribuição de marmitas no Centro gera embate entre voluntários e Prefeitura

Grupos afirmam que o município está proibindo a entrega, enquanto a Prefeitura afirma não haver nenhuma proibição

Por Vinicius Camargo

Rosemeire e outros voluntários distribuíam 200 refeições

A distribuição de marmitas para pessoas em situação de vulnerabilidade social no Centro de Sorocaba motivou um embate na cidade. Idealizadores de projetos solidários afirmam que o município está proibindo a distribuição das refeições, enquanto a Prefeitura alega não haver nenhuma proibição. De acordo com o Executivo, existe um diálogo com entidades filantrópicas e com a comunidade para garantir a dignidade dos assistidos, inclusive, no fornecimento de comida.

Segundo voluntários dos projetos sociais, o Executivo disse que a medida foi tomada devido a denúncias de supostas condutas inadequadas dos beneficiados. Criadora da iniciativa Marmita Solidária, a empregada doméstica Rosemeire Sousa Carvalho, de 51 anos, serviu, durante quase dois anos, 200 refeições na praça Frei Baraúna, todos os domingos. Porém, desde a semana passada, não realiza mais esse trabalho, por determinação do governo municipal.

Conforme Rosemeire, a municipalidade justificou ter recebido diversas denúncias de moradores das proximidades da praça a respeito de brigas e roubos praticados por pessoas que vivem no local. “Falaram que estava atrapalhando”, contou. Ela discorda desse argumento. A orientação foi para que as marmitas fossem levadas para o Serviço de Obras Sociais (SOS).

A sorocabana e outros cerca de 20 voluntários preparavam os marmitex com mantimentos e dinheiro provenientes de doações. Com a interrupção das atividades na região central, para não perder o estoque atual, o grupo montou cestas básicas. Elas foram destinadas a moradores do bairro Aparecidinha em situação de vulnerabilidade.

Apesar de continuar a fazer o bem ao próximo de outra maneira, Rosemeire não esconde a tristeza por não mais desenvolver o Marmita Solidária em conformidade com a essência desse trabalho. “Isso acabou comigo. Eu ajudava as pessoas. Eu não queria que o meu projeto parasse”, disse.

Já os 12 integrantes do Sopão do Bem também deixaram de oferecer, em dezembro de 2022, refeições na rua São Bento, seguindo ordem da Prefeitura. Segundo a responsável pelo programa solidário, a florista Fernanda Alberto, de 44 anos, durante mais de oito anos, eles distribuíam cerca de 60 a 70 marmitas no local, sempre às quartas-feiras.

De acordo com Fernanda, a administração municipal atribuiu a decisão ao fato de comerciantes terem denunciado que a presença de quem pegava as marmitas atrapalhava a rotina na região. “No Centro, a demanda é muito maior, e acabamos não atendendo somente pessoas em situação de rua, visto que o nosso País está passando por uma crise enorme e muito precária. (Por isso) existe um acúmulo de mais de 150 a 200 pessoas, não necessariamente em situação de rua (na região). Então, atrapalhava o movimento dos comércios, dos moradores e da rua”, falou.

Ainda conforme Fernanda, o Executivo remanejou o local de realização da ação justamente para a praça Frei Baraúna. Lá, afirma ela, não há qualquer problema. Dessa forma, o grupo prossegue com a iniciativa. “Além de a demanda ser menor, não atrapalha ninguém”. Rosemeire Carvalho, por sua vez, reafirma estar vedado o uso da praça para essa finalidade também.

Humanização

Questionada sobre a situação, a Prefeitura afirmou manter diálogo com as entidades “no sentindo de proporcionar uma ação humanizada”. Segundo a resposta, o objetivo é que “essas pessoas sejam tratadas com dignidade em todos os aspectos, inclusive, no fornecimento de alimentação”.

Por meio de nota, a administração cita o programa Humanização, criado em 2021, para atender pessoas em situação de rua. “E, desde o início, o programa tem contado com a parceria de instituições e grupos de pessoas que vêm colaborando para que as pessoas em situação de rua não apenas tenham acesso às refeições necessárias ao longo do dia, mas que também o façam de forma digna e garantindo a segurança alimentar, de maneira adequada, com acesso a mesa e talheres, por exemplo, e em locais organizados e limpos.”

O Executivo afirma receber constantes reclamações sobre “a entrega de comida em vias públicas, o que causa situações de desconforto, tanto para as pessoas atendidas, bem como para os moradores próximos e a população em geral, além de oferecer riscos sanitários a todos, pois os restos de comida, muitas vezes, abandonados em vias públicas por pessoas em situação de rua, pode levar à propagação de doenças e de pragas.”

Segundo a o governo municipal, os munícipes podem sempre colaborar com o “Humanização”, informando os locais da cidade onde haja pessoas em situação de rua necessitando de cuidados e acolhimento, assim como doando roupas, cobertores e alimentos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp: (15) 99666-2636, disponível 24 horas por dia, ou pelos telefones: (15) 3229-0777, do SOS; (15) 3212-6900, da Secretaria da Cidadania, e 153, da GCM. (Vinicius Camargo)