‘Sumiço’ de capivaras é normal
Para especialista, animais podem ter deixado Votorantim em busca de alimento
A migração sazonal de capivaras é comum e ocorre por três motivos -- busca por alimento, fuga de predadores e interferência humana. A afirmação é do médico veterinário especialista em animais selvagens André Luiz Mota da Costa. Essa explicação corrobora a informação da Prefeitura de Votorantim de que o sumiço dos animais da cidade, há cerca de dois anos, ocorreu porque eles migraram para outro lugar. Em meados de abril deste ano, um grupo foi visto perto da praça Lions, em Sorocaba.
O “desaparecimento” dos bichos que eram avistados constantemente em Votorantim chamou a atenção de moradores da cidade. Segundo munícipes, circulou a informação de que a Prefeitura teria retirado as capivaras do ambiente urbano e transferido para outro local. O Executivo negou e disse não ter realizado qualquer intervenção na rotina da espécie. A municipalidade apontou a migração como a possível razão para a ausência das capivaras.
André Costa também considera essa possibilidade. De acordo o veterinário, esses animais vivem, geralmente, próximos de rios onde há fartura de alimentos. Dessa forma, se há escassez, eles tendem a procurar outros lugares com comida, sendo esta a principal causa da migração. Ainda segundo o especialista, esse processo ocorre, sobretudo, nas estações mais chuvosas. Isso porque, explica ele, a chuva faz a vegetação característica da alimentação da espécie, como capim e ervas, crescer em áreas distantes dos arredores dos mananciais. Com isso, os grupos tendem a se afastar dos rios.
Por outro lado, de maio a setembro, período de outono e inverno, quando o clima fica mais seco, falta mato nessas regiões. Por isso, as manadas voltam para perto dos rios e, novamente, é possível vê-las em meio às áreas urbanas. “É o único lugar que vai ter alimento”, falou Costa.
Além disso, as capivaras se deslocam para fugir de predadores e, também, se estão em ambientes com interferência humana excessiva. De acordo com Costa, ruídos gerados pelo trânsito intenso, grandes obras, a exemplo da construção de estradas, e ferrovias, dentre outros fatores, as estressam. Esse incômodo muitas vezes, as leva a se afastar das cidades.“O animal sempre vai preferir ir para uma área mais tranquila”, apontou ele.
Costa acrescentou que esses bichos são gregários; isto é, vivem em grupos de seis a trinta exemplares. Portanto, é normal todos sempre migrarem juntos.
Secretaria Estadual não recomenda remoção
A transferência de capivaras não é recomendada, seja pelo comportamento da espécie ou o risco da disseminação de carrapatos infectados com a bactéria causadora da Febre Maculosa Brasileira (FMB). A informação é da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), à qual pertence o Departamento de Fauna (DeFau).
Segundo a pasta, o DeFau segue a resolução conjunta SMA/SEA 01/2016, na qual consta essa orientação. Por outro lado, o dispositivo autoriza o manejo reprodutivo, a depender de dois aspectos. São eles: classificação da área, em relação ao risco da doença, e se trata-se de local aberto ou fechado para a entrada de novos animais. De acordo com a Semil, essa categorização é de sua responsabilidade. Ela ocorre após a testagem dos bichos e levantamento das espécies de carrapatos encontrados na região.
Conforme a pasta estadual, a capivara não transmite a bactéria causadora da febre maculosa, sendo somente hospedeira do carrapato infectado pela bactéria causadora da doença. Por isso, a secretaria aponta que há diversas outras ações de controle dos carrapatos para além da remoção das capivaras. As medidas englobam “zeladoria, como o corte de grama, uma vez que as larvas dos parasitas são sensíveis ao sol, instalação de cercas, principalmente, em locais com playgrounds e áreas de alimentação, além de avisos da presença de capivaras no local”, elencou.
Por fim, a Semil atestou não ter recebido, da Prefeitura de Votorantim, solicitação para o manejo dos bichos.
Transferência só em caso de doença
As prefeituras podem retirar capivaras do ambiente urbano e transferí-las para outros locais, desde que tenham o aval do Departamento de Fauna (DeFau), vinculado à Secretaria de Infrasestrutura, Meio Ambiente e Logística (Semil) do Estado de São Paulo. A afirmação é do presidente da comissão de Defesa e Direito Animal da subseção de Sorocaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Eduardo Roberto Abdala Santos.
Segundo Santos, a remoção dos animais só pode ser feita diante da suspeita de propagação da febre maculosa brasileira (FMB). A espécie é umas das hospedeiras do carrapato-estrela, transmissor da doença. Ainda conforme o especialista, o governo municipal tem de fazer a solicitação diretamente ao DeFau. O departamento analisa o pedido e, se aprová-lo, cabe à Prefeitura realizar todos os procedimentos necessários para o remanejamento.
As exigências incluem, principalmente, a garantia da segurança dos bichos durante o processo e a testagem de todos, por meio de exame de sangue, para FMB. De acordo com Santos, essa medida é essencial para evitar o espalhamento da doença para outros animais e humanos. “Se elas estão infectadas e são transferidas, o problema só é transferido para outro lugar”, destacou. Nessas situações, o sacrifício das capivaras doentes é permitido. Já se a sorologia não indicar infecção, isso é proibido. “O sacrifício delas sem comprovação de estarem com a doença é crime ambiental, por morte de animal, previsto em lei”, comentou .
Sendo assim, as manadas devem ser levados a um lugar seguro e com todas as características necessárias para a sua sobrevivência. Esse local precisa ser providenciado pelo Executivo, assim como a castração dos exemplares. “É para evitar que elas se propaguem sem controle no local a que serão destinadas”, pontuou Santos. (Vinicius Camargo)