Defesa do PM Gouveia explica ‘motivações’
Mudanças de escalas e ‘perseguições’ provocaram estresse no sargento e seriam a justificativa para o duplo homicídio
Problemas no ambiente de trabalho e possíveis perseguições no emprego teriam motivado a atitude do sargento PM Cláudio Henrique Frare Gouveia que matou dois colegas de farda -- o capitão Josias Justi da Conceição Junior e o sargento Roberto Aparecido da Silva -- na segunda-feira (15), em Salto. As informações são do advogado Rogério Augusto Dini Duarte, que defende o sargento Gouveia.
Ao Cruzeiro do Sul, o advogado disse que um conjunto de fatores desencadeou no sargento um quadro de estresse, porém, o profissional não teria recebido o respaldo necessário do comando da companhia. O autor do duplo homicídio atuava há 32 anos na instituição.
Um dos principais fatores do dano psicológico, segundo a defesa, teria sido em relação à escala de trabalho. Duarte conta que a esposa do investigado -- uma cabo da Policia Militar -- também atua na base de Salto. O casal, que é de Araçatuba, tem um filho de 8 meses e os horários do plantão de ambos estavam coincidindo, assim, não teriam com quem deixar a criança. A esposa do sargento tentou, então, alterar a escala, mas não teria sido atendida pelo capitão. Além disso, a defesa informa que o casal estaria sofrendo com perseguições no ambiente de trabalho. “Na sexta-feira passada, houve a apreensão da arma da esposa do sargento. Quando ela tem a arma particular dela apreendida, ela perguntou o que estava acontecendo, por qual motivo a arma estava sendo recolhida”, disse o advogado. Porém, os motivos não teriam sido esclarecidos à policial.
A partir desses e de outros fatores (não informados pela defesa), o sargento teria tido quadros de estresse, o motivando a realizar os disparos. "Começou a ter vários problemas entre o casal, atingindo o estresse e também a vida profissional de ambos, mas isso não foi percebido pelo comando. Por isso a tropa está doente, qualquer polícia no Brasil está passando por isso, tivemos outros casos recentes”, disse o advogado. “Nós temos que rever alguns conceitos, não quebrar a hierarquia e disciplina, isso tem que existir, mas tem que rever alguns conceitos principalmente na captura, ao prestar um concurso público, um policial não pode não saber liderar”, completou.
Questionada pela reportagem sobre as declarações do advogado de defesa, a Polícia Militar manteve as informações da última nota divulgada à imprensa. “Todas as providências de Polícia Judiciária Militar estão em andamento e a Corregedoria acompanha as apurações”. O Cruzeiro do Sul também entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), que afirmou que “as polícias do Estado de São Paulo contam com um sistema de saúde mental que é referência dentro e fora do País dentre as forças de segurança. Os efetivos da Polícia Civil e da Polícia Militar têm acesso a uma rede de atendimento psicossocial dotada de Centro de Atenção Psicológica e Social (CAPS), 41 núcleos (NAPS), uma Divisão de Prevenção e Apoio Assistencial, no Departamento de Administração e Planejamento (DAP), além de e mais de 120 psicólogos para pronto atendimento, distribuídos por todo o Estado. O Sistema é capaz de oferecer apoio a 100% do efetivo e pode ser acionado pelo próprio policial, seu comandante ou superior hierárquico ou ainda por um colega de trabalho”.
A SSP também informou que realiza periodicamente eventos como seminários, palestras e aulas nas academias que buscam levar aos profissionais de polícia informações importantes, de caráter preventivo. Uma cartilha com orientações também é disponibilizada a todo o efetivo. Todas essas medidas de prevenção e promoção de saúde mental são adotadas em razão da complexidade da atividade policial, independentemente do local onde ela é exercida.
Audiência de Custódia
O sargento Gouveia continua detido no presídio militar Romão Gomes, na Capital, onde está desde a madrugada de terça-feira (16). Ele ainda não passou pela audiência de custódia. A princípio, a audiência seria realizada na terça-feira, porém foi adiada em um dia, pois o sargento sentiu-se mal e foi levado ao ambulatório médico do presídio. De acordo com o advogado de defesa, Gouveia não está se alimentando bem e, por isso, precisou de atendimento médico. Prevista para ontem, novamente a audiência não foi realizada, pois o sargento tomou remédios e não teve condições de se apresentar. Ele permanece no ambulatório médico do Romão Gomes sem previsão de alta. Não há uma nova data para a audiência de custódia agendada. Ela pode acontecer a qualquer momento entre hoje e segunda-feira (22).
O crime
O crime ocorreu por volta das 9h de segunda-feira (15) dentro da 3ª Companhia de Polícia Militar de Salto. Segundo o boletim de ocorrência, um PM contou que o sargento Gouveia invadiu a base armado com um fuzil. Em seguida, pediu para todos saírem do local e entrou em uma sala. Logo na sequência, a testemunha disse ter ouvido os disparos. Os corpos PMs mortos foram sepultados na terça-feira em Sorocaba. (Vanessa Ferranti)