Servidores reclamam da precarização do Saae
Eles dizem que faltam equipamentos de proteção e materiais para os serviços de manutenção
Funcionários do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba estão insatisfeitos com o que consideram “precarização dos serviços prestados pela autarquia”. Eles relatam a escassez de materiais e equipamentos de proteção individual (EPIs), o que os obriga a adquirir itens como fita veda rosca com recursos próprios. Além disso, servidores que trabalham expostos ao esgoto mencionam ocorrências de infecções, como micoses. Imagens enviadas ao Cruzeiro do Sul evidenciam prateleiras vazias no almoxarifado do Saae.
De acordo com servidores que preferiram manter o anonimato, a situação se agravou no final do ano passado. Desde então, os funcionários têm enfrentado uma série de problemas que dificultam suas rotinas de trabalho. Na terça-feira (16), o vereador Rodrigo do Treviso (União Brasil) visitou o prédio administrativo do Saae para prestar homenagem aos trabalhadores que atuam na área do esgoto. Os servidores aproveitaram a oportunidade para relatar a situação.
A reunião foi gravada e disponibilizada no YouTube. Durante o encontro, um dos funcionários expressou sua frustração: “Tenho que mentir para quem paga imposto... a vontade é de chorar, porque estamos completamente impossibilitados de trabalhar sem os equipamentos necessários”. O vereador respondeu mencionando que já tinha conhecimento da precária situação de trabalho e se comprometeu a levar essa demanda ao prefeito Rodrigo Manga (Republicanos). À reportagem, Treviso informou que uma nova reunião foi agendada para a próxima terça-feira (23), às 15h, na Prefeitura de Sorocaba.
“Os servidores começaram a fazer reivindicações devido à falta de equipamentos. Eles relataram que estavam retirando canos até mesmo da calha d’água do Saae para realizar instalações de esgoto nas ruas. Além disso, dizem que estão utilizando canos de água, que custam 10 vezes mais do que os canos de esgoto, para fazer essas instalações. Também mencionaram que não estão realizando as ligações de água, resultando em mais de 700 pedidos acumulados, o que prejudica a receita do Saae. No final, devido à reunião, a homenagem prevista não pôde ser realizada por falta de tempo”, explicou o parlamentar.
Outro problema enfrentado pela autarquia é a falta de funcionários. Segundo levantamento realizado pelo vereador, existem 564 cargos em aberto. Recentemente, o vereador Treviso apresentou um requerimento solicitando ao Poder Executivo informações sobre a quantidade de vagas não preenchidas na empresa e questionando quando será realizado um concurso público para suprir essa carência de profissionais.
Esgoto a céu aberto
Devido à escassez de itens básicos para realizar os serviços, os funcionários têm se virado como podem. Além disso, afirmam que a má administração da autarquia tem causado uma série de problemas ambientais devido a vazamentos de esgoto não resolvidos por falta de materiais para reparar as tubulações. “Muitas vezes, as equipes são chamadas pelos moradores da cidade para lidar com vazamentos em suas casas, mas não conseguem solucionar o problema ou levam até 40 dias para comparecer ao local simplesmente porque não possuem o encanamento adequado, ou até mesmo um simples veda rosca”, denunciou um funcionário.
Eles também relatam que alguns servidores tiveram de comprar materiais do próprio bolso para conseguir concluir o serviço e ajudar moradores desesperados com a invasão de água, e às vezes esgoto, em suas casas.
A moradora A.G., do bairro Vila Rica, zona leste, relatou que a vizinhança está lidando com um mau cheiro na rua Jorge Baccelli há mais de uma semana. Isso porque, durante uma obra, o trator da autarquia acabou danificando o encanamento de esgoto. “É um cheiro insuportável que invade as casas. Parece que o Saae ainda não resolveu a situação porque não tem os materiais necessários para o conserto”, disse.
Os servidores expressam outra fonte de indignação: enquanto as prateleiras do almoxarifado estão vazias, a diretoria administrativa e financeira autorizou a aquisição de sete quilos de café em grãos no valor de R$ 420, conforme consta em uma nota de requisição de materiais. Desse cafezinho, os funcionários sentem apenas o cheiro, uma vez que esses grãos são exclusivamente destinados a uma máquina utilizada pelos diretores. “Não há dinheiro para nada, mas para café em grãos para um determinado grupo de pessoas, em uma sala específica, há? Enquanto isso, estamos sem EPIs e sem materiais”, disse um trabalhador.
O que diz o Saae
O Saae afirmou que tem investido mais de R$ 100 milhões anualmente em materiais de consumo e serviços, além de investimentos em obras de infraestrutura. A autarquia planeja realizar mais aquisições para atender todas as demandas e resolver problemas antigos. O valor total empenhado em materiais e serviços apenas em 2023 ultrapassa os R$ 150 milhões.
Segundo a autarquia, atualmente existem 23 pregões em andamento para a aquisição de EPIs, materiais e equipamentos. “O Saae investe continuamente em ações de segurança e treinamentos para seus profissionais, com um montante superior a R$ 300 mil no período”. Uma reunião foi realizada ontem (18) com os servidores da empresa para discutir melhorias para a categoria. Uma comissão foi formada para acompanhar os processos discutidos. Uma nova reunião já está agendada para o dia 1º de junho.
Sindicato acompanha
O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba (SSPMS) informou que recebeu as denúncias sobre as condições de trabalho dos servidores do Saae e entrou em contato com o diretor geral da autarquia. “Solicitamos uma reunião com máxima urgência para podermos resolver todas as questões trazidas, tendo em vista nosso compromisso com o servidor”, pontuou a entidade. (Wilma Antunes)