120 anos de evolução guiada pelo ideal de informar
Cruzeiro do Sul foi da impressão artesanal à conquista do mundo virtual, mas o respeito pelo leitor não mudou
A reportagem publicada pelo Cruzeiro do Sul no dia 4 de junho sobre a pavimentação da avenida Três de Março e o futuro desenho viário do Alto da Boa Vista, na zona leste de Sorocaba, alcançou 124 mil pessoas no Facebook e 45 mil no site do jornal em apenas 24 horas.
O conteúdo também chegou aos quase 8 mil assinantes da versão impressa. Ao mesmo tempo, o vídeo que ilustra o texto, produzido com a utilização de um drone e publicado no YouTube, teve mais de 20 mil visualizações. A notícia ainda recebeu milhares de comentários nas várias plataformas e redes sociais do
jornal.
Esse é apenas um exemplo do dia a dia do Cruzeiro nas últimas duas décadas, após o desenvolvimento das ferramentas digitais e a evolução do jornal para o aproveitamento de todas as possibilidades que o mundo virtual disponibiliza. O caminho percorrido para chegar ao estágio atual, no entanto, foi repleto de desafios, sacrifícios, trabalho, planejamento e, principalmente, dedicação.
Em 120 anos, muita coisa mudou. Alguns países surgiram enquanto outros deixaram de existir, continentes foram redesenhados, guerras e pandemias ceifaram milhões de vidas, novas tecnologias se desenvolveram e transformaram a vida no planeta.
Até mesmo os valores passaram por readequações, atribuindo sentidos diferentes a conceitos arraigados. O jornal Cruzeiro do Sul não apenas acompanhou todas essas alterações, como as registrou de forma imparcial para que as gerações seguintes pudessem conhecer os fatos reais e, assim, tirar as suas próprias conclusões.
Essa história secular está ao alcance de qualquer pessoa, de diversas formas e em qualquer lugar do mundo. Todas as 36.405 edições do Cruzeiro do Sul estão à disposição, digitalmente e de forma on-line, por meio do Projeto Memória, no endereço http://digital.jornalcruzeiro.com.br/pub/cruzeirodosul/?flip=acervo. Não assinantes podem acessar em https://assine.jornalcruzeiro.com.br/Registro/Experimente.
Aqueles que não têm acesso à internet ou preferem folhear a publicação impressa podem consultar o acervo do Gabinete de Leitura Sorocabano ou o arquivo físico do próprio jornal, em sua sede, no Alto da Boa Vista.
Um mundo diferente
Qualquer que seja o “veículo” escolhido para trafegar nesse túnel do tempo, a viagem revela o cotidiano sorocabano refletindo exatos 43.800 dias da história da humanidade como um todo, desde aquele longínquo e quase inimaginável 12 de junho de 1903 em que os irmãos Joaquim Firmino (Nhô Quim Pires) e João Clímaco de Camargo Pires publicaram a primeira edição do Cruzeiro.
Tudo naquele dia, a começar pelo cenário, faz parte de um “mundo” completamente diferente. Imaginar como era o município naquele momento nos ajuda a perceber a importância da efeméride que se comemora manhã (12).
Com 18.562 habitantes, Sorocaba era apenas o 29º município mais populoso do Estado de São Paulo — atrás, por exemplo, de Tietê e “Tatuhy” —, superando “Ytu por pouco mais de mil almas”.
Pelas ruas sem qualquer tipo de calçamento, esburacadas e empoeiradas — ou enlameadas, dependendo da época do ano — transitavam apenas pedestres, montarias e veículos de tração animal — o primeiro automóvel chegaria no ano seguinte, de trem.
Duas tentativas de implantar energia elétrica falharam, deixando a cidade na dependência dos lampiões a querosene até 1914.
O município buscava se recuperar dos estragos provocados pela epidemia de febre amarela que se arrastara por cerca de cinco anos, acometendo mais de 12% dos moradores — 2.322 pessoas — e causando 743 mortes — 5,8% dos sorocabanos.
Sem recursos, a administração municipal apelara para um empréstimo de Rs 4:000$000 — quatro contos de réis —, mais da metade do orçamento daquele ano, para adquirir medicamentos e prestar socorro médico às vítimas.
A doença também emperrara a roda da economia, que, então, girava praticamente em torno da feira de muares. Alguns empreendedores inovavam com dificuldade, substituindo, aos poucos, o viés comercial por uma combinação de cotonicultura com a ainda nascente atividade fabril.
Investimentos e mão de obra descobriam o potencial da ferrovia e das indústrias de chapéus, tecidos, alimentos, móveis, velas, olarias e cachaça. Tudo isso movido a vapor.
Imparcialidade e independência
Nascido com o declarado intuito de resgatar o verdadeiro ideal republicano — já desgastado apenas pouco mais de uma década depois da Proclamação da República —, o Cruzeiro do Sul ampliou rapidamente os seus objetivos, ultrapassando os limites da política partidária para desempenhar um vigoroso papel no
cotidiano dos sorocabanos.
Assim, as quatro páginas do jornal traziam um panorama geral das atrações culturais, eventos esportivos e sociais, anúncios de produtos e serviços, reivindicações da população e cobranças às autoridades, dentre outros temas igualmente relevantes para a população.
Naquela época, a administração pública consistia em um intrincado sistema completamente alheio à população. Não havia vereadores, nem prefeito. Os poderes Legislativo e Executivo se concentravam no Conselho de Intendência, cujos membros eram nomeados diretamente pelo governo estadual.
O colegiado escolhia um dos conselheiros para gerenciar o município, ou seja, o intendente propriamente dito. José de Barros, empossado um ano antes do nascimento do Cruzeiro do Sul, permaneceu no cargo até 1908.
Desde então a imparcialidade e independência já se pronunciavam como principais marcas do Cruzeiro. Quaisquer que fossem as circunstâncias, a verdade nua e crua era o que chegava aos leitores.
Em agosto de 1903, cerca de dois meses depois do seu lançamento, o jornal noticiou que o comandante do destacamento policial, o alferes Francisco Eleutério de Camargo, havia perdido o dinheiro para pagar os soldados — então denominados praças — em uma casa de jogos localizada em Indaiatuba.
Membros da elite não aceitaram pacificamente a desmoralização imposta pela divulgação dos fatos e reagiram com violência, tentando incendiar e inutilizar — “empastelar” — a gráfica para impedir o jornal de circular.
As ameaças não surtiram quaisquer efeitos, tanto que no dia 3 de setembro do mesmo ano, por meio do editorial intitulado “A morte moral”, o jornal cobrou do Conselho de Intendência a publicação dos balanços da arrecadação municipal e dos gastos públicos. Sem meias palavras, o texto lembrou que a divulgação dos relatórios e balancetes era uma exigência legal.
“Larguem, senhores camaristas, de fazervos de surdos, sejam corretos, apresentem as contas (...) do dinheiro público arrecadado durante três anos, que já deve chegar a muitos contos de réis, e mostrem ao povo o que fez a Câmara de tanto dinheiro”.
Reconhecimento
A diretoria da FUA entende que a resposta positiva dos leitores em todas as versões do Cruzeiro do Sul é a maior prova de que o jornal corresponde às expectativas de todos os públicos. Os números do Instituto Verificador de Comunicação (IVC) têm deixado isso cada vez mais transparente. A estatística de abril deste ano — a mais recente — mostra que o Cruzeiro é o jornal diário auditado de maior circulação em todo o interior do Brasil.
“Ao contrário de muitos jornais ao redor do mundo, que reduzem e até encerram suas versões impressas, o Cruzeiro do Sul continua atendendo às demandas dos seus leitores tradicionais, que preferem o papel, ao mesmo tempo em que investe em projetos baseados nas tecnologias de comunicação virtual”, explica Hélio Sola Aro.
“Sentimos muito orgulho dessa conquista, mas não esquecemos que ela nos remete a mais obrigações e responsabilidades, como manter o jornal em sua trajetória, combinando as ações dos meios digitais com as do impresso, para que não caminhem isoladamente e possam atingir os seus objetivos simultaneamente”, ressalta.
Na opinião de Marco Aurélio Laham Dottore, o reconhecimento do Cruzeiro do Sul como mídia séria e confiável impacta positivamente os números da tiragem da versão impressa e da audiência nos meios virtuais, conforme auditado pelo IVC. “Nossa cidade e região têm apresentado um crescimento notável nos últimos anos, mesmo com o advento da pandemia de Covid-19”, relata.
O presidente do Conselho Superior da FUA entende que esse crescimento, aliado à independência editorial e ao aumento assustador das fake news, fortaleceram a posição do jornal. “Ao meu ver, essa conquista (a liderança no interior do Brasil) mostra que estamos no caminho certo e nos dá força e coragem para continuar trilhando-o”, pondera.
Os princípios de imparcialidade, família e Deus orientam, desde 1964, a produção das notícias levadas aos leitores. “Tudo está embasado na verdade”, diz Hélio Sola Aro, chamando a atenção para o fato de que “a verdade não é aquela dita por apenas um dos lados, mas, sim, a informação real, sem deturpações de qualquer natureza. É por esse motivo que a FUA e os seus membros lapidam diariamente os princípios que norteiam o Cruzeiro”.
Marco Aurélio Laham Dottore também considera o formato adotado pela FUA como essencial para o jornal vencer as barreiras que fizeram muitos jornais desaparecer nas últimas décadas. “Os desafios superados provam que nossa estrutura de conselho e diretoria, formada por um grupo democrático e eclético de profissionais, é muito eficaz para enfrentar problemas e achar soluções”, opina.
O jornal fiel à tradição de abordar todos os temas com base nos fatos, apura todas as informações antes de levá-las aos leitores, seja na versão impressa diária, na plataforma online ou nas redes sociais. “Buscamos ao máximo a fonte e os desdobramentos da informação, apurando toda a verdade mesmo quando
muitos órgãos de imprensa estão mais focados na disputa para ver quem coloca a notícia no ar primeiro.
Essa prática pode levar a erros. Por isso, a equipe da Redação e o Conselho Editorial do Cruzeiro interagem o tempo todo, em busca da veracidade dos fatos”, exemplifica o presidente do Conselho Administrativo da FUA.
“Queremos dar a notícia em primeiro e completa, sim, mas substituindo o sensacionalismo pelo jornalismo sério e comprometido com nossos leitores de Sorocaba e região”, complementa.
Lado a lado com o “concorrente”
“O ‘click’, um toque com a ponta do dedo se resolve tudo”, responde o presidente Hélio Sola Aro quando indagado sobre os principais desafios enfrentados pelo Cruzeiro do Sul nos últimos anos. Ele explica que a tecnologia digital veio para ficar e tornar a vida mais para ágil, porém, o jornal impresso sofre — e muito — com esse “concorrente virtual”.
À custa de planejamento e proatividade, o Cruzeiro está superando a fase mais difícil. “Uma gama de produtos que vêm junto com o impresso, como o ‘Cruzeirinho na Escola’, equilibra a balança e nos fortalece para manter o jornal de papel ainda por muitos anos”, relata.
O presidente do Conselho Superior diz que os desafios sempre vão existir, mas podem ser vencidos com perseverança, estudo, trabalho e fé. “Essas são as únicas armas que eu conheço e podemos usar para superar adversidades tão diversificadas como as novas tecnologias, pandemia de Covid 19, reestruturação de pessoal e de departamentos, crise econômica e fake news, entre outras, que suplantamos recentemente”, menciona Dottore.
Missão filantrópica
Além de informar com imparcialidade, o Cruzeiro do Sul também desempenha importante papel nas ações filantrópicas da Fundação Ubaldino do Amaral. “O jornal é um braço da FUA atuando no auxílio às entidades assistenciais de Sorocaba e região”, lembra Hélio Sola Aro.
Neste âmbito, a missão é apoiar as ações das entidades, divulgando eventos nas publicações impressa e on-line, assim como nas redes sociais. “Damos divulgação às ações de filantropia das diversas entidades da região, incluindo editais e o cumprimento de ações legais e estatutárias.
São ações custosas que o Cruzeiro absorve, deixando de onerar as entidades”, detalha o presidente da Fundação, explicando que essa é uma das formas do jornal retribuir a receptividade da população.
Laelso Rodrigues cita que todas as instituições ligadas à FUA e à Loja Maçônica Perseverança III contam com a parceria do jornal, como a Associação Protetora dos Insanos de Sorocaba (Apis), Colégio Politécnico, Lar Escola Monteiro Lobato, Liga Sorocabana de Combate ao Câncer, Rádio Cruzeiro do Sul, Serviço de Obras Sociais (SOS) e a Vila dos Velhinhos.
“Somos uma grande irmandade. Assim como os conselheiros, são as instituições. Talvez o Cruzeiro do Sul seja o irmão mais velho, mas são todos irmãos que se apoiam e se ajudam mutuamente”, analisa Marco Aurélio Laham Dottore.
Reconhecimento mútuo
Sob todos os aspectos, a relação do Cruzeiro do Sul com a comunidade desde 1903 é repleta de benefícios mútuos. Hélio Sola Aro assegura que é uma grata satisfação ter leitores de muitos anos acompanhado o noticiário do jornal, assim como parceiros comerciais acreditando em nosso produto e funcionários das mais diversas áreas se dedicando para termos um jornal sério.
“Somos muito gratos a esse time especial que acompanha a trajetória do Cruzeiro do Sul. Externamos os nossos agradecimentos pela parceria. Queremos que esse amor pela leitura, pela busca da informação com credibilidade e sem paixões seja transmitido às próximas gerações, para que esse hábito saudável de
buscar a boa informação se perpetue em seus lares”, discorre o presidente do Conselho Administrativo da FUA.
Ele conclui com uma mensagem a toda a família Cruzeiro do Sul: “Ao comemorar 120 anos, o Cruzeiro deixa um grande abraço e agradecimento aos nossos queridos funcionários, assinantes, leitores, parceiros comerciais, a Sorocaba e região, enfim, a toda população! Muito obrigado! Parabéns, Jornal Cruzeiro do Sul, que venham muitos anos!”
Marco Aurélio Laham Dottore também deixa a sua gratidão “a todos os leitores, parceiros e colaboradores que fizeram e fazem parte dessa história centenária” e renova o compromisso com a verdade, a educação, a família e o próximo.
Já Laelso Rodrigues diz sentir muito orgulho de ver tudo o que foi construído desde que a Perseverança III decidiu adquirir o jornal. “Para mim, todo o trabalho e dedicação estão plenamente recompensados, pois o Cruzeiro evoluiu, se adequou e se mantém como maior jornal do interior do Brasil.” (Marinaldo Cruz Filho)