Lenda boneca da Xuxa sobrevive após 34 anos

Influenciadores discutem nas redes sociais a narrativa surgida em Sorocaba

Por Luis Felipe Pio

Youtubers relembram história da mulher que teria feito pacto com o diabo para comprar o brinquedo

 

Mesmo após 34 anos, youtubers e influenciadores têm, recentemente, publicado vídeos e stories nas redes sociais a fim de relembrar a misteriosa lenda urbana sobre a boneca da Xuxa que teria sido possuída pelo demônio, em Sorocaba. O boato começou na cidade em meados de 1989 e rapidamente ganhou grande repercussão, ao passo que centenas de curiosos, com o intuito de comprovar a veracidade da informação, correram à Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte, onde supostamente a boneca estaria guardada a sete chaves. Na época, a imprensa foi acionada e o Cruzeiro do Sul -- além de outros veículos como Diário de Sorocaba e O Estado de S. Paulo -- produziu reportagem para esclarecer o boato.

O mito era baseado em uma mãe, de origem pobre, já cansada de ouvir a filha pequena pedindo uma boneca da Xuxa de presente. O brinquedo virou febre no País naquela década, devido ao sucesso da apresentadora do programa Clube da Criança, transmitido pela extinta TV Manchete. A boneca tinha 85 cm de altura e não era barata. A mãe, então, irritada, teria dito à menina que só conseguiria comprar se o diabo lhe desse o dinheiro.

No dia seguinte, inexplicavelmente a mãe encontrou em sua bolsa a quantia exata para comprar a boneca e assim o fez. A filha ficara muito contente, porém, na primeira noite em que dormiu com o presente, acordara cheia de arranhões. As unhas de plástico da boneca, segundo a lenda, teriam ficado manchadas de sangue.

A mente criativa por trás da história ainda acrescentara a informação de que a mãe teria levado a boneca possuída à Catedral Metropolitana, onde teria sido guardada a sete chaves pelo então monsenhor Mauro Valini. Naquele ano, também existira uma outra versão ainda mais dramática, na qual a boneca havia matado a criança com as unhas. A sequência de fatos sempre terminava com a mãe levando a autora do suposto crime à Catedral, com o objetivo de exorcizá-la.

A trama agitou Sorocaba e tranformou-se no assunto principal em todas as rodas, principalmente nas imediações da igreja. Benedito Maciel, 67 anos, atual presidente do Sorocaba Clube, localizado, no Centro, em frente à praça Coronel Fernando Prestes, onde fica a Catedral, relembrou a história. “Houve mesmo um movimento de gente na praça a fim de cobrar um posicionamento do monsenhor Mauro Valini, mas não recordo o que ele respondeu. Lembro também que ninguém nunca soube quem era a criança, a mãe ou onde ocorreu”, comenta.

Segundo reportagem da época, àquela altura realmente ninguém sabia responder onde nasceu o boato e muito menos identificar a família. Este aspecto do passado pode até se assemelhar a um fenômeno atual, chamado fake news, que se caracteriza pela informação falsa desprovida de fonte. No entanto, conforme explica o professor de ciências sociais Vidal Mota, da Universidade de Sorocaba (Uniso), este caso da boneca não se configura como notícia falsa.

Segundo ele, Fake News se trata da divulgação de uma mentira revestida de elementos que conferem aparência de verdade. “O caso da boneca da Xuxa não foi criado para colocar em cheque fatos verdadeiros nem distorcer a imagem de algo ou alguém. Apenas se trata de uma crença popular, caracterizada por motivações supersticiosas”, comenta o professor.

Para Benedito Maciel, essas são histórias que deixam o folclore sorocabano muito mais rico e interessante. “Na época, as pessoas sentiram medo, mas, hoje, para nós que vivenciamos, tudo isso é motivo de risada”, disse. (Luís Felipe Pio - programa de estágio)