Revolução de 1932 completa 91 anos hoje
Entenda o que motivou o levante e qual a participação de Sorocaba neste momento histórico do País
A Revolução Constitucionalista de 1932 completa hoje (9) 91 anos. Em Sorocaba, um ato cívico acontece, às 9h, na praça Nove de Julho para comemorar a data e lembrar a participação no levante que brigou pela promulgação de uma Constituição Federal. A cidade contribuiu com a construção de locomotivas blindadas que foram enviadas à região Sul do País. Quem conta a história é o professor de história, de 74 anos, Adilson Cezar, que também é o atual presidente do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS).
O Brasil vivia uma intensa agitação após o golpe de 1930, no qual os militares tomaram o governo e alçaram Getúlio Vargas ao poder. São Paulo e Minas Gerais, antes disso, detinham a maior influência do País por conta das oligarquias detentoras da alta produção de café. Esse período é chamado de Política do Café com Leite. No entanto, Vargas, ao assumir o governo no Rio de Janeiro -- a então capital do Brasil --, rompeu com a influência das oligarquias: e isso não agradou paulistas nem mineiros.
“São Paulo não concordava com as medidas autoritárias do governo federal. Vargas nomeou vários apoiadores dele, em sua maioria militares e até um grupo tenentista, ao qual podemos chamar de fascista, para serem governadores dos Estados brasileiros. E São Paulo caiu na mão dos tenentistas”, explica Cezar.
Em resposta a vários desentendimentos, o Presidente designou Pedro de Toledo -- que era civil e paulista, mas ainda favorável a Vargas -- para a interventoria de São Paulo. “Entretanto a situação econômica do Estado não ia bem, de forma que Toledo passou a ser pressionado para não obedecer mais as ordens do governo federal”, diz Cezar.
Frente ao autoristarismo, os paulistas foram às ruas contra Vargas e em prol de uma nova Constituição Federal. Em uma das passeatas, ocorrida em 23 de maio de 1932, a população caminhou em direção à praça da República, em São Paulo, onde ficava o comitê tenentista. Lá, temerosa por ela própria, a força leal a Vargas atirou contra quatro jovens. Três morreram de imediato, enquanto o quarto veio a óbito no dia seguinte. Após a morte dos rapazes, que só agravou a insatisfação do povo, rebeldes se reuniram a fim de trabalhar contra o governo federal. O grupo foi intitulado com as iniciais dos jovens assassinados: MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo).
“Em nove de julho, houve o estouro da Revolução de 1932, o que fez Toledo assumir uma posição em favor dos interesses paulistas, execrando Vargas. O Exército que estava em São Paulo também se posiciona favorável ao governo paulista. Era certeza para todos que São Paulo ia marchar em direção ao Rio de Janeiro sem contestação”, afirma o professor.
Participação de Sorocaba
A Revolução possuía apoio de algumas frentes fora do Estado, mas Vargas havia conquistado os demais espaços muito antes dos paulistas. Quando os soldados do levante se deram conta, São Paulo estava cercado, de modo que as relações com outros Estados foram extinguidas. Porém, de acordo com o professor Cezar, em três meses de revolução, os paulistas demonstraram capacidade ímpar de sobrevivência em relação a qualquer nação. E Sorocaba teve papel fundamental nesse contexto como centro distribuidor de recursos.
“Para você ter uma ideia, naquele ano, Sorocaba passou a abastecer os carros com álcool por não poderem mais importar petróleo. Porém, o resto do País só foi tomar conhecimento do carro movido à etanol na década de 60, 70... ou seja, em 1932, a cidade já abastecia com álcool, feito com cana-de-açucar, pela fábrica Matarazzo”, exclamou.
Além disso, a terra rasgada possuía um grande parque industrial ferroviário: a Estrada de Ferro Sorocabana (EFS). Com isso, adquiriu-se a capacidade de fabricar armas, granadas e blindados. Sorocaba fabricou três locomotivas blindadas que atuaram na região sul do Estado. Conforme desenha o professor, elas eram feitas com chapas de aço, tinham dois vagões e, em cima, uma metralhadora com iluminação fortíssima.
“O centro da força pública, no entanto, passou a ser em Itapetininga, pois lá estavam as duas linhas férreas -- Faxina e Itararé -- que vinham do sul do País para se encontrar no município, antes de chegar em Sorocaba. Então, estratégicamente Itapetininga era o melhor local para enviar blindados e tropas”, explica.
Cezar ainda expõe que, como Sorocaba tem o histórico de ter sido no passado solo dos tropeiros, as mulas voltaram a ocupar seu ofício de transporte durante a Revolução, devido às selarias instaladas na cidade. Não era conveniente para os soldados utilizar combustível ou peças que precisariam ser importadas, portanto, fez-se o uso de recursos próprios. “Agora, imagine construir trem, caminhões blindados, fuzis, granadas, em três meses. Quer dizer, a capacidade que os paulistas demonstraram nesse período é inegável”, afirma.
Após três meses de intenso combate, houve a rendição dos paulistas em 2 de outubro. O motivo, porém não era falta de recurso. Os combatentes poderiam ter lutado por mais algum tempo, mas sabia-se que o resultado seria nulo frente às tropas maiores de Vargas. O conflito teve fim, então, com o presidente da república firmando o compromisso de realizar uma nova Constituição. Em 1933, houve o processo de elaboração da Carta Magna para ser votada no ano seguinte. “O movimento não foi em vão. Parece contraditório, mas foi o que aconteceu”, concluiu o professor.
Solenidade
Para marcar a data hoje pela manhã acontece o ato cívico realizado pelo Comando do Policiamento do Interior (CPI-7) com apoio da Prefeitura de Sorocaba e do IHGGS. Após a solenidade, um desfile da tropa, partindo da praça Nove de Julho, seguindo pela avenida Eugênio Salerno até a E.E. “Dr. Júlio Prestes de Albuquerque” (Estadão), retornando pela mesma via e finalizando o trajeto na avenida Moreira César, na altura da rua da Penha. Haverá participação especial da Banda Regimental de Música do CPI-7. (Luís Felipe Pio - programa de estágio)