Sorocaba realiza radioterapia de corpo total
Cidade é um dos 38 locais no País onde o procedimento, importante em caso de transplante de medula óssea, é realizado
Sorocaba se tornou referência no Brasil por ser um dos poucos municípios do País a realizar o procedimento de radioterapia de corpo total, técnica utilizada em pacientes com tumores não sólidos, como linfomas, leucemias e mielomas, que serão submetidos a transplante de medula óssea.
Atualmente, existem cerca de 280 serviços de radioterapia no Brasil, mas apenas 38 realizam a radiação de corpo total. Desde que o procedimento foi implementado em Sorocaba, há 3 anos, foram realizadas quase 50 sessões, sendo 30 delas (60%) em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em parceria com dois centros de transplante de medula óssea: o do Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci) e o do Hospital Unimed Sorocaba.
A radioterapia de corpo total está diretamente relacionada com o transplante de medula óssea, que é a substituição de células-tronco do paciente doente por um tecido medular saudável de um doador. O procedimento é realizado na etapa anterior do transplante nos casos em que existe a necessidade.
O médico radio-oncologista Max Strasser, responsável pela intervenção na clínica Luthes Radioterapia, onde o processo é realizado na cidade, explica que a finalidade da radioterapia de corpo total é destruir ou diminuir a quantidade de células-tronco doentes do paciente. “Diminuindo essas células-tronco, você permite que haja o enxerto do tecido medular sadio do doador. Mas, além de permitir essa destruição de células-tronco, a radioterapia de corpo total diminui temporariamente a imunidade do paciente. “Qual é a grande vantagem de se diminuir a imunidade do paciente durante o transplante de medula óssea? Você diminui a chance do sistema imunológico rejeitar esse tecido novo”, explica o médico.
A radiação de corpo total dura entre duas e três horas e normalmente é feita em pessoas a partir de 3 anos de idade. “É um procedimento em que o paciente deita na sala do aparelho e é incidido o campo de radiação no corpo todo dele. Usualmente, fazemos em duas incidências. A incidência anterior, depois viramos o paciente e fazemos na incidência posterior. É um procedimento demorado porque ele precisa receber uma taxa de dose baixa para isso”, disse Max Strasser.
O método é realizado no paciente acordado, porém, em casos de crianças muito pequenas, que têm dificuldades para se manter na mesma posição, é aplicada uma dose baixa de sedativo. O procedimento, apesar de seguro, pode causar efeitos colaterais no paciente, entre eles fadiga, náuseas, vômitos e diarreia. O médico explica ainda que após a radioterapia de corpo total, o paciente precisa receber alguns cuidados, pois fica mais propício, temporariamente, a ter infecções devido a queda da imunidade que o tratamento causa.
“Os protocolos variam de uma a seis aplicações. Isso depende do protocolo que estamos utilizando, diagnóstico, e estado clínico do paciente, então, logo depois que realizamos as sessões de radioterapia de corpo total o paciente retorna para o hospital, fica internado e, eventualmente, até em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para poder ter todo cuidado referente a esses sintomas que podem acontecer”, disse o médico.
Transplante de medula óssea
O transplante de medula óssea é indicado para diversas situações, além do ponto de vista oncológico, como pessoas com doenças autoimunes graves, aplasia de medula óssea, anemias graves, anemias congênitas, entre outros.
O médico Max Strasser explica “que, na prática, o procedimento consiste em dar um ‘reset’ na medula e enxertar outro tecido saudável nessa região, podendo salvar a vida de quem tanto precisa. Muitos já passaram por quimioterapia, passaram já por imunoterapia e tiveram uma recidiva dessa doença, então, nesse momento, um transplante de medula óssea acaba sendo a chance de cura para esses pacientes”, disse.
Para ter a oportunidade de ser submetido ao transplante, o paciente precisa de alguém disposto a ajudar, ou seja, doar. Para isso, atualmente, existe a Rede Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), vinculada ao Instituto Nacional do Câncer e ao Ministério da Saúde. Com mais de 5,5 milhões de brasileiros inscritos, o banco de dados é utilizado sempre que uma pessoa necessita de um transplante e não há ninguém na família que possa fazer a doação.
Para se tornar um doador de medula óssea, é necessário ir ao Hemocentro mais próximo, realizar um cadastro no Redome e coletar uma amostra de sangue (10 ml) para a tipagem HLA, que é um exame de histocompatibilidade. Para se inscrever, é preciso ter entre 18 e 35 anos. O doador permanece no cadastro até 60 anos e pode realizar a doação até essa idade. É necessário apresentar um documento de identificação com foto, estar em bom estado de saúde e não ter nenhuma doença impeditiva para a doação.
“Se a pessoa for selecionada para ser um doador de medula óssea, vai precisar fazer outros exames. É um procedimento que para certas pessoas faz toda a diferença, e não é só do ponto de vista oncológico. Pacientes com talassemias, com doenças autoimunes graves, aplasias medulares se beneficiam desse transplante”, disse Max Strasser. (Vanessa Ferranti)