Sorocabanos estão na JMJ em Portugal

Família Andriotta se preparou por anos para acompanhar maior evento católico do mundo

Por Luis Felipe Pio

Derlei Andriotta vê na viagem a possibilidade de um "reencontro com Deus" e, também, de exercer sua paixão pela fotografia

Uma família de Sorocaba viajou a Portugal para ver o papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O psicólogo Derlei Andriotta, professor do seminário Bom Pastor, foi para Lisboa no dia 27 de julho junto com a esposa Carina Andriotta, a sogra Rosabel Andriotta e a avó Elza Corona, de 84 anos. Desde terça-feira (1º), milhares de jovens participam do maior evento católico do mundo que, neste ano, ocorre na capital de Portugal. Na cerimônia de abertura, ainda sem a presença do Papa -- que só chegou na quarta-feira (2) ao país --, o evento reuniu cerca de 200 mil fiéis, segundo a polícia local. A expectativa é que para a cerimônia de encerramento, marcada para amanhã (6), um milhão de peregrinos esteja presente.

A família Andriotta já planejava ir à JMJ antes mesmo de o evento ser adiado, em função do período de isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus. Neste ano, para presenciar a jornada, consultaram roteiros, hotéis, opções de alimentação e, principalmente, questões sobre a temperatura -- pois, em diferentes locais da Europa, ocorre uma onda muito forte de calor. Algumas regiões bateram recordes de temperatura -- como Catalunha, na Espanha, que registrou mais de 45º C no dia 18 de julho. Como alguns remédios disponíveis no Brasil não existem em Portugal, conforme Derlei, os medicamentos também foram alvo de preocupação, sobretudo ao considerar a saúde da avó, que em razão da idade, tem algumas restrições.

Dona Elza sempre gostou de ver os jovens juntos e participar de movimentos da juventude. Embora a viagem seja cansativa, Elza é, segundo o neto, uma das pessoas mais animadas, sempre querendo participar, conversar com as pessoas e explorar as diferentes culturas. Para a sogra de Derlei, essa é a primeira viagem para fora do Brasil. Rosabel presencia a alegria dos jovens próximos ao Papa e vê o evento como um “reencontro com Deus”, após ter perdido familiares durante a pandemia.

Carina já havia ido à JMJ durante a visita do Papa ao Rio de Janeiro, em 2013, porém, desta vez, o objetivo é participar do evento em família. Para ela, que é professora de catequese, o momento é de muita alegria e oportunidade de obter novas ideias para aplicar em suas aulas. Já para Derlei, além de realizar o sonho da avó -- que era viajar com o neto para a Europa --, o foco da viagem é fotografar. “Eu amo fotografia. Já fotografei outros eventos, mas este tem sido espetacular. Tenho capturado as expressões das pessoas e é uma alegria muito autêntica, muito genuína. Mas, o objetivo que nós todos temos em comum é estar mais perto de Deus, por meio deste evento e, principalmente, da Igreja”, contou.

Derlei destaca, também, a maneira com a qual o Papa trata os jovens. “Nos compromissos diplomáticos e com a Igreja, o Papa estava com um ar muito sóbrio, muito sério. Quando ele chega na Universidade Católica para falar com os jovens, ele já esboça uma alegria muito grande. Nos lugares em que passa, ele sempre que vê uma criança, pede que pare o papamóvel para abençoá-la”, observou o psicólogo.

A JMJ, neste ano, envolve cerca de 500 atividades, sendo que muitas delas acontecem simultaneamente. Além disso, claro, há os eventos centrais do Papa. Ontem (4) houve a Via Sacra e, hoje, a noite culminará com uma vigília presidida pelo jesuíta argentino. A família Andriotta conseguiu participar até agora de mais ou menos 30 atividades. “Até um jornalista daqui de Portugal disse na SIC (canal de notícias português) que, mesmo com a abrangência das redes sociais, não dá para transmitir a quantidade de informação que vem sendo colocada durante a jornada”, comentou Derlei.

Assuntos abordados

A agenda apertada do Papa, de 86 anos -- que se submeteu a uma cirurgia no abdômen há dois meses -- começou em um encontro com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém. Nos arredores, centenas de jovens peregrinos o aguardavam desde cedo ao som de tambores e canções: “Esta é a juventude do Papa”, bradavam.

Em seu primeiro dia em Lisboa, na quarta-feira (2), o papa Francisco se reuniu com um grupo de 13 vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero português, seis meses após a divulgação de um relatório que abalou a Igreja do país. O encontro aconteceu em um ambiente de escuta intensa e durou mais de uma hora.

Em fevereiro, um relatório de uma comissão de especialistas independentes revelou que 4.815 menores foram vítimas de abusos sexuais em um contexto religioso desde 1950. As agressões foram ocultadas pela cúpula eclesiástica de forma “sistemática”, segundo o documento.

Um pouco mais cedo, em discurso perante a hierarquia eclesiástica portuguesa, o pontífice argentino mencionou “a desilusão e aversão que muitos nutrem em relação à Igreja, devido, às vezes, ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma humilde e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas, que sempre se deve acolher e escutar”.

“Este encontro do Santo Padre representa a confirmação do caminho de reconciliação que a Igreja de Portugal percorre nesse contexto”, ressaltou a Conferência Episcopal do país, onde 80% dos seus 10 milhões de habitantes se definem como católicos.

Em seu primeiro discurso ante autoridades políticas de Portugal e o corpo diplomático, Francisco pediu que a Europa seja “uma construtora de pontes” para a paz na Ucrânia. “O mundo precisa da Europa, da verdadeira Europa. Precisa do seu papel de construtora de pontes e de paz”, disse o pontífice, que defendeu reiteradamente o fim do conflito iniciado com a invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022.

Depois das edições no Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019), esta é a quarta JMJ para o papa Francisco, que tem a saúde debilitada. Hospitalizado três vezes desde 2021, atualmente ele precisa de uma cadeira de rodas ou de uma bengala para se deslocar. (Luis Felipe Pio - Programa de Estágio, com informações da AFP)