Construção civil tem falta de mão de obra
Setor tem muitas oportunidades de trabalho, mas falta interessados em se formar para atuar na área ou buscar a qualificação
Apesar de ser um dos setores com mais vagas de trabalho em Sorocaba, a construção civil enfrenta dificuldade para preenchê-las, devido à falta de mão de obra qualificada. A afirmação é da Associação dos Arquitetos e Engenheiros de Sorocaba (Aeas) e da Regional de Sorocaba do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP). As entidades apontam a falta de interesse dos jovens por graduações relacionadas à área e de atualização dos profissionais atuantes no ramo como as principais causas da dificuldade para contratações.
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Sorocaba ocupa a 42ª posição no ranking das 100 melhores cidades para se fazer negócio nesta área, entre 100 municípios. Além disso, a construção civil foi o terceiro setor com maior geração de emprego em julho, de acordo com Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O levantamento mostra que houve a criação de 91 vagas, com 781 admissões e 690 desligamentos.
Esse cenário favorável resulta, consequentemente, no aumento da oferta de trabalho, mas a carência de profissionais qualificados é um impasse para o preenchimento das oportunidades. Segundo estudo da Comissão de Política de Relações Trabalhistas (CPRT), 94,6% das empresas participantes indicam haver insuficiência de mão de obra terceirizada qualificada, além de dificuldade para contratar profissionais aptos. A CPRT coordena e desenvolve ações no campo da política de relações do trabalho no âmbito da construção civil.
Para o presidente da Aeas, Heverton Bacca Sanches, a queda na procura pelas graduações na área de engenharia, sobretudo, entre os jovens, é a principal causa dessa situação. De acordo com ele, que também é professor universitário, a desmotivação começa já no ensino básico, pois os alunos enfrentam dificuldades para aprender conteúdos relativos à matemática, ciências, tecnologia, programação, dentre outros, em razão do atual modelo de ensino. Com isso, sentem-se perdem o interesse por profissões relacionadas a esses campos, como as engenharias.
Ainda conforme Heverton, outro entrave é a falta de atualização dos profissionais atuantes no setor. Ele diz que as faculdades tendem a ser mais abrangentes, e muitas pessoas não buscam conhecimentos complementares após graduadas. “Muitas vezes, porque, no dia a dia, elas estão entregando os resultados que a empresa busca naquele momento e não têm tempo de observar quais são as tendências”, apontou. Sem ampliar o seu repertório, em conformidade com as mudanças e novas exigências, elas não conseguem atender às atuais exigências do mercado. Assim, passaram por dificuldades para conquistar uma vaga.
O diretor da Regional de Sorocaba do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Elias Stefan Junior, aponta a escassez de investimento das empresas na capacitação de seus funcionários como mais um obstáculo. Segundo ele, o aprimoramento gera benefícios tanto para o próprio trabalhador, quanto para todo o negócio, mas esta ainda é uma visão pouco captada por empresários. “Existe uma autovalorização do próprio funcionário, uma vez que, recebendo essa melhor qualificação, ele fica muito mais motivado e, o melhor de tudo, a sua produtividade aumenta. Consequentemente, ele vai ter um ganho salarial melhor”, disse.
“A empresa também ganha porque, com o funcionário melhor qualificado, além da produtividade aumentar, a qualidade do trabalho dele também é melhor. Ele passa a cometer menos erros e a executar os serviços de maneira muito mais perfeita. Isso faz com que, no sistema produtivo, incorra um custo menor, menos desperdício”, exemplificou Stefan Junior.
Entidades oferecem cursos gratuitos na área
Pensando justamente em contribuir para suprir a defasagem curricular, a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba (Aeas) oferece cursos gratuitos de formação para estudantes, engenheiros e arquitetos associados. O trabalho é desenvolvido em parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP) e a Mutua -- Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea. O objetivo é incentivar os universitários a complementar sua formação, além de profissionalizar e atualizar engenheiros e arquitetos.
Conforme Heverton Bacca Sanches, as aulas abrangem tanto conhecimentos técnicos, quanto estimulam o desenvolvimento de outras habilidades a fim de prover aos participantes uma formação mais ampla. A intenção é oferecer todos os recursos necessários para prepará-los adequadamente para ingressar no mercado ou empreender. “Temos trabalhado com cursos relacionados a soft kills -- liderança, trabalho em equipe, comunicação --, mas, também, com questões específicas relacionadas à obra, para entregarmos um profissional mais preparado, que não vai falhar na entrevista de emprego, por exemplo, porque vai ter exatamente as habilidades que as empresas e a própria economia estão procurando”, disse.
Nas aulas, os alunos também aprendem sobre segurança do trabalho, perícia, instalações elétricas, geração de energia elétrica e renovável, acabamento de qualidade, aquecimento, saneamento básico, conforto, iluminação, automação residencial ou predial, tecnologias relacionadas à automação industrial, dentre outros assuntos.
Já de olho no futuro, o estudante de engenharia elétrica Ricieri Juan Moraes, 19 anos, realizou o curso de perícia judicial da Aeas. Embora ainda esteja no 4º período da faculdade, Moraes quer se preparar, o quanto antes, para se destacar e, assim, ter mais chances de ingressar na área desejada. “O meu principal objetivo é ter um diferencial. Se eu já tiver esse conhecimento antes, eu alcanço uma visão melhor e bem mais estruturada do que vou fazer no futuro”, comentou.
Além dos cursos, a Aeas possui um banco de cadastro de vagas e currículos em seu site (www.aeas.org.br). No canal eletrônico, os interessados podem se cadastrar gratuitamente e ter acesso às vagas e aos profissionais.
Sinduscon
Com o mesmo objetivo, o Sinduscon-SP, igualmente, oferece iniciativas de aprimoramento. Entre elas, destacam-se os cursos de capacitação, sendo muitos gratuitos. Uma delas é a Universidade Corporativa Sinduscon-SP. A instituição, voltada a profissionais da área, tem como foco o ensino prático dos sistemas construtivos e cursos correlatos ao setor.
Há, ainda, o programa Construindo Valor, em parceria com o Serviço Apoio As Micros Empresas São Paulo (Sebrae-SP). O projeto consiste na preparação de empreiteiros contratados por associados ao Sinduscon-SP, com direito a consultoria gratuita para a empresa. Outro trabalho é a campanha Senai de Qualificação para canteiros de obras. Nele, são oferecidos cursos gratuitos para turmas compostas por funcionários de empresas, com, no mínimo 18 anos, formação mínima da 4ª série ou 5º ano do ensino fundamental e com conhecimentos básicos de construção civil.
Além disso, a entidade desenvolve o Programa Elevação da Escolaridade (PEE). Realizado em parceria com o Sesi-SP, tem como propósito instruir educacionalmente trabalhadores de canteiros de obras indicados pelas empresas associadas ao sindicato. Os participantes aprendem conteúdos do 1º ao 5º anos do ensino fundamental. Também há a plataforma Sinduscon-SP que proporciona, na prática, complementaridade de horas de estudo para alunos de faculdades de engenharia e afins.
“Esses cursos vêm de encontro com a demanda e a necessidade de todas as empresas do setor, em todos os níveis de mão de obra”, disse Elias Stefan Junior, diretor regional do Sinduscon-SP. (Vinicius Camargo)